“...quando dei por mim, estávamos presentes à praia, de olhos voltados para a orla, em contagem regressiva: 10,9,8,7,6,5,4,3,2,1 e... FELIZ ANO NOVO!!!! Ecoava por todo o lado. Abraços alegres, olhares emocionados, beijos apaixonados e independente de conhecer ou não a pessoa ao seu lado desejar-lhe coisas boas. No céu, os fogos estouravam coloridos, brilhantes, convidativos. No mar, as sete ondas eram puladas com entusiasmo, emanando bons fluídos coletivos. Alguns pulavam quatorze (risos). ‘- Só por garantia’, diziam! Rituais de boas vindas eram repetidos pelos supersticiosos e por aqueles que preferiram ‘não duvidar’. Champagnes estouravam a cada segundo e o tilintar das taças só não era maior do que o sentimento de esperança e positivismo que tomava conta dos milhões de corações que estavam ali, presentes na virada do Réveillon. Era a hora, junto com o olhar nos fogos, de secretamente fazer os pedidos para 2009 ou agradecer pelos feitos e ocorridos no ano passado à beira mar. No entanto, em meio a tamanho entusiasmo e empolgação que somos tomados neste último mês do ano, parece que não nos damos conta de que, praticamente ‘nos tornamos outras pessoas’ e que, tudo que fazemos em prol deste estado de espírito momentâneo, dura mais do que pouco minutos. O último clarão de fogos tomou conta da noite da virada, e o som dele, aos poucos, se fez silenciar! A multidão se dispersa... Acabou 2008. chegou 2009. E agora?
Dia seguinte, ano novo, vida nova! Um dilema que ronda não só a cabeça de muitas pessoas, mas é o start de motivação delas. Porém, após o despertar das inovações e resoluções, ao olharmos em volta, é tudo praticamente, velho. A crise financeira insiste em assolar o país e continua incerto o futuro de muitos de nossos profissionais. A educação não é nosso motivo de orgulho ainda e a saúde é degradante a cada dia. Ainda existem a desigualdade social e preconceito racial, e voltamos em muitos momentos a agir como na época das cavernas, onde se fazia justiça com as próprias mãos e vale o ditado “olho por olho, dente por dente”. Sofremos com a degradação desenfreada à natureza, as queimadas, o aquecimento global, o efeito estufa, as frentes frias que trazem chuvas e tempestades sem fim. O desrespeito à natureza se faz notar! A política do Brasil ainda brinca com os cidadãos honestos que querem crer que ainda existe um jeito para tanto mensalão, propinas, laranjas, desfalques, chantagens, mas diferente do nosso famoso ‘jeitinho brasileiro’ que deu trabalho para a Polícia Federal em 2008 com tantas falsificações, contrabandos e tramoias para driblar a lei... Não aguentamos mais tantas CPIs para apurar uma corrupção sem fim!
Lutamos, desarmados contra uma violência armada, até os dentes e que não sabemos mais hoje, quem é quem: polícia, bandidos, milícia. Antes de lados opostos, hoje, é um por todos, todos contra um. Pelas ruas, lidamos com a fome, a miséria, a criminalidade que bate à porta a cada dia; com o avanço das favelas pela falta de condições não só de moradia para a sociedade e para isto, não há PAC, Minha casa, Minha Vida, Bolsa Família que recupere o que foi deixado para trás, e que na verdade, é muito mais do que material: é o respeito, a dignidade, os valores, a índole, o caráter, a moral, os princípios de um ser humano. Onde foram parar? No esquecimento junto com os erros? E o que foi ruim e o que não nos agradou neste ano que passou, o que não conseguimos mudar, o que nos envergonhou, o que nos decepcionou, o que nos fez tristes... o que fizemos com o peso dos nossos atos ou não atos que nos afligiram, incomodaram, perturbaram e fizeram doer no nosso calcanhar? Nada? Lançamos na lata do lixo tal qual jogamos flores no mar para Iemanjá?
Adoro o que o final do ano nos proporciona, embora exista muita falsidade, falso moralismo e má vontade mascarada pela obrigatoriedade do ‘tenho que fazer, tem que ser’: participar de confraternizações, amigo oculto, reuniões de família e tudo o mais. Gosto do balanço anual que muitos de nós fazemos tal qual uma empresa, e neste momento é que podemos avaliar o que deu certo e manter como estratégia para continuar ganhando ou mexer no que deu errado e achar uma solução para as crises que nos arrebatam, seja no campo pessoal ou profissional. Geralmente, é a hora de rever as metas e os objetivos e averiguar nosso posicionamento na vida. É uma inovação constante! Unificar experiência, aprendizado, certo e errado, bom e ruim pode ser a salvação para a crença de que tudo é novo em um novo ano que se inicia. Nós não somos iguais a um computador, que podemos fazer um backup e reinstalar todos os programas novamente. Como estamos e somos hoje é reflexo de nossas atitudes, pensamentos, sentimentos pela vida a fora. Seria muito bom se pudéssemos fazer um recorte em dado momento e partir do zero. Mas, não podemos ignorar o fato de que está tudo relacionado, queiramos ou não! E, assim como o mundo também não foi remontado, por que nós seríamos? E por que, então, somos tomados por uma certeza, de que a partir daquele momento, tudo será diferente? Por que a esperança parece maior especialmente neste dia do que em todos os outros, às vezes, em algum outro dia que devêssemos ter tido até mais? O que mudou? A gente! O que fez a diferença? Nosso olhar! Pena que somos assim apenas uma vez ao ano, em vez de manter esta postura de crédulo, de certezas, de esperanças, de positivismo, de bons pensamentos, energia boa, de conexão e interação com as pessoas, de proximidade com os distantes, de importância com o próximo, de tolerância, paciência e solidariedade, de necessidade familiar, de presença dos amigos, de ser amigo, de sermos melhores com o mundo e conosco!
A partir do momento que a cada dia que levantarmos, dermos nosso melhor e começarmos a agir como se fosse o último dia do ano, vendo o lado bom das coisas e acreditando que tudo, inclusive nós podemos sempre ser melhor, a vida com certeza fluirá de maneira mais leve, divertida e de uma forma satisfatória para nós mesmos, por mais que não esteja totalmente de acordo com o que planejamos ou com as nossas expectativas. Dar o melhor sempre, porque não se pode só cobrar e esperar o melhor de terceiros, do mundo. O que você vai dar em troca? Nós e a vida... somos concessões, aceitações, compreensão, mas principalmente uma troca constante e mútua que nos mantém ligados e que é vital para nosso aprendizado. Não precisamos de uma passagem de ano para encerrar uma fase, um momento, um ciclo e dar início a novas resoluções. Cada dia é dia de (re) começar... Não precisamos deixar chegar ao final do ano para dizer palavras e frases de carinho, amizade, admiração. Todos os dias, devemos mostrar a importância das pessoas que estão à nossa volta, em nossas vidas. Não precisamos esperar chegar o Ano Novo para olhar para nós, avaliar o passado, o futuro e agir. Todos os dias, podemos nos olhar no espelho de nossa alma e nos enxergar tal como deveríamos, todos os dias! Por mais difícil que possa ser e parecer impossível de se fazer, muitas vezes! Porque é sempre tempo de prestarmos atenção ao nosso eu, à nossas necessidades, em nossos corações. O Ano Novo pode ser... todos os dias, hoje, agora. Basta querer, tentar e deixar ser.
Hoje, volto para casa sozinha, cidade silenciosa! Pessoas descansam para começar a jornada de trabalho que as aguardam amanhã. A vida, aos poucos retoma o ritmo normal e deixa de lado a euforia contagiante das festas de final de ano. Rio, ainda de ressaca, marejado, dá as boas vindas a 2009, ainda sonolento. Dentro do ônibus, olhando a cidade recuperando sua energia, penso na minha primeira resolução para este ano que se inicia: todos os dias serão novos dias, como um dia de ano Novo, a partir do meu olhar...”