A vida mexe, remexe, sai dos eixos e nos deixa totalmente desconcertados. Depois de muitos desencontros e cabeçadas, olhamos no espelho e nos deparamos com alguém que nem reconhecemos direito. Passamos por tanta coisa que acabamos mudando. Em alguns casos, não é bem uma mudança espontânea, e sim uma mudança imposta pelas circunstância. Tem que ser e ponto!
De início, não nos damos conta. Com o passar do tempo, vamos vendo uma palavra, um olhar, um gesto que não nos pertencia, mas que da noite pro dia passou a fazer parte da gente sem nem ao certo a gente se dar conta. Sem nem ao certo saber bem como e porquê.
Bom, o porquê mais ou menos se tem resposta. Pela vida. É ela que nos transforma. Embora na juventude ousamos bater no peito e desafiá-la, gritando aos 4 ventos que vamos "fazer a diferença". Que vamos "viver a vida". Mas, nem de longe sabemos que é a vida que nos vive. É ela que nos testa, que nos estuda, que nos analisa, que nos irrita, que nos faz rir, que nos faz chorar, desistir de tudo à noite e se encorajar diante do sol em um novo dia. É ela que nos coloca diante da maior prova que existe no mundo: sobreviver com nós mesmo. Conviver com nossas escolhas.
Não, não tô dizendo que um sujeito tem que viver o resto da vida com uma decisão se ela não o agrada mais. Seja permanecer num trabalho, num lugar, ao lado de alguém ou agindo da mesma forma. Mas, tem vezes, que você se vê enredado numa tal situação, de tal maneira que não tem como voltar atrás, ou fazer diferente, sem mudar a vida de terceiros junto com você. Se fosse fácil, muita gente não vivia amargurada, reprimida, ressentida, com sentimentos escondidos, enterrados no fundo da alma. Se elas vivem assim é porque tem um porquê. Ou vários! E sabem, que embora seu íntimo queira uma coisa, não dá pra ser totalmente egoísta a ponto de não pesar as consequências dos seus atos. É muito corajoso, heróico e até mesmo honroso quem bate no peito e banca a si. Seus atos, suas palavras, seus sentimentos. Mas, uma hora aquela pessoa vai pagar por isso. Pode ser em pouco tempo, pode ser daqui a muitos anos... mas é certo que nenhuma ação no mundo fica sem uma reação.
Não me entendam mal... Não tô aqui me lamentando, dando a minha vida como acabada e eu fadada ao conformismo no auge dos meus 27 anos. Não mesmo, bebê! Nem tão pouco tô fazendo rodeios porque me arrependi de alguma coisa que fiz e não sei como voltar atrás ou do que não fiz. Tô apenas tentando entender as voltas que a vida dá e nessas voltas que nos envolvem, como fomos parar na pessoa que nos tornamos hoje, muitas vezes nem imaginadas de longe em quem gostaríamos de ser.
Fiz tantos planos, tive tantos desejos, quantos sonhos... Eu ia viajar, provavelmente fazer um intercâmbio para aperfeiçoar meu idioma, morar fora, trabalhar, ser independente, adquirir alguma experiência de vida grande, de peso, que pudesse me auxiliar futuramente nas minhas decisões. Não, isso eu não realizei. E nem sei se algum dia, conseguirei realizar. Pode ser que sim. Pode ser que não do jeitinho que imaginei... pode ser. Não sou tão bem sucedida assim na minha carreira como lá atrás, me imaginei sendo. Bati cabeça com o mercado de trabalho, me senti duvidosa da minha capacidade de exercer minha profissão, mudei de rumo, comecei a me dar bem. Aí, a coisa empacou de novo e quando eu não esperava mais voltar ao meu ofício inicial, eis que volto. Tá certo, não exatamente da maneira como eu imaginei. Mas, voltei. Minha sonhada estabilidade financeira ainda está por vir. Na verdade, quem sabe daqui há muitos anos? rs. E, por fim, meu relacionamento não foi o relacionamento idealizado, sonhado, desejado, enfim... Simplesmente, ele aconteceu! Sem mais nem menos. Sem avisar e sem eu esperar. Veio de mansinho e chegou!
Sim, como puderam ver eu não fiz e não fui muita coisa! Mas, fiz e fui outras tantas. E quanta coisa boa aconteceu sem eu prever... No imprevisto, muitas vezes é bom também. A gente é surpreendido por aquilo pelo qual não esperávamos ou que não dávamos nada. E pode passar a ser tão bom quanto o que planejamos, idealizamos e sonhamos. E, passa a fase da neura, da frustração, da chateação e da cobrança por não ter acontecido da maneira certinha como nós queríamos. Porque saiu. Do jeito torto muitas vezes, do jeito de Deus, para os crédulos religiosos, do jeito da vida para os céticos ou poetas, do jeito sei lá de que... mas aconteceu! E muitas vezes somos felizes, mais até do que imaginamos ser um dia. Só não somos mais, sabem porque? Por nossa própria causa. Porque a gente não se desapega dos nossos planos iniciais e vira e mexe, com as reviravoltas e turbulências da vida, nos questionamos como teria sido, "se"... O "se" é a pulguinha atrás da orelha de todos nós. Por mais satisfeitos e convictos que possamos estar, todos nós, em algum momento da vida, nos pegamos pensando se tomamos a decisão certa, se agimos da maneira correta, se é isso mesmo, etc, etc, etc. E queremos milhões de provas de que não vamos tomar a decisão errada, pois se isso acontecer, a gente pode não ter como voltar no tempo e fazer diferente. Ou, continuar no tempo e fazer diferente da mesma forma. Sabe aquela música do Djavan que se chama justamente "Se", pois é... ela foi feita para cada um de nós. São sempre as dúvidas que cismam em pairar em nossos pensamentos e, preferencialmente nos momentos difíceis, de crise, de descrença, de confusão. Que nem diabinho atentando o juízo! E que "se" a gente não ligasse, não desse ouvidos, seguiríamos acreditando fazer o que é certo, o que queremos, o que devemos. Aposto que se fôssemos fazer um exame de consciência, todos nós já nos sentimos numa encruzilhada alguma vez na vida, sem saber se vai ou se fica, se vira à direita ou à esquerda, se lá na frente tem retorno ou não. É arriscar mesmo. É ousar, é ter intuição, tato, sentido, feeling, como costuma-se dizer muito hoje em dia.
E, eu dei essa volta toda pra dizer que, a essa hora da manhã, estou aqui em casa sozinha e você (amor) deve estar aí no seu trabalho, sozinho também. Tô aqui olhando fotos nossas. Fotos antigas. Fotos e mais fotos dos nossos momentos juntos até hoje. Nossa, tem momento que eu juro, já nem lembrava mais. Além de terem sido tantos, muita coisa mudou também. Sim, você era mais magrinho e eu também, rs. Eu era mais determinada e você mais ousado. Eu era mais receosa e você mais confiante. Éramos 1 + 1 que era = 2. Hoje, são tantas vertentes que nosso relacionamento tem, que esse dois multiplicar-se por 10. Somos uma pessoa para cada situação e cada vez menos nós mesmos! Não, não creio que mudamos para agradar ao outro. Até porque você nunca me pediu isso! Eu sim, eu apontei certas coisas em você e você mudou por mim. Mas, tenho medo de ter podado demais você. Mas, acho que o que mais nos mudou, foi a vida. Não, não é a vida de casado que muda um casal. São eles mesmos! Porque rotina há sempre, estando casado, solteiro, ou enrolado. Tem trabalho, estudo, família, amigos, obrigações, responsabilidades, cobranças em todo lugar, para todo mundo. A diferença é que numa vida à dois, isso tudo se acentua. Acrescido a ter que conviver, aceitar ou não, ceder ou não, abrir mão ou não. Se for demais desanda. Se for de menos, aí é que não anda. E não há receita certa para a medida certa. Não há receita para o convívio. Não nos falta amor, porque se faltasse, a gente, um de nós dois ou, provavelmente os dois, já teria pulado fora. Pois as dificuldades nos colocam à prova. Horas, sabemos encarar bem. Outras nem tão bem assim. Antigamente, sem as responsabilidades e obrigações, problema era probleminha. Hoje, probleminha e problemão. Antigamente, a gente conversava mais, sobre os problemas, sobre nós, sobre a vida. Hoje, já cansados da própria vida que muitas vezes não dá tréguas nas porradas, há mais discussões e intolerância. A paciência não é mais a mesma. Já não acreditamos nas nossas próprias palavras e as palavras do outro de que vai ser diferente, que as coisas vão mudar. E, na maioria das vezes, brigamos feio e lá no fim nem sabemos mais a que tudo se deu. Começou por A e terminou por Z. E aí, nessas horas, vai tudo que a gente tenta aguentar, que a gente tenta conviver, que a gente tenta fingir que não liga pra não magoar, que não faz tanta diferença assim... mas faz! E, se a intimidade é muito boa por um lado, por outra é uma merda, pois a gente se acha no direito de fazer o que dá na telha, de falar o que bem entender.
Tô olhando uma foto nossa que tiramos na nossa primeira viagem. Uma das únicas. Pois, muitas delas, que planejamos, não saíram da intenção e do papel. Nossos sorrisos eram mais despretensiosos do que hoje, onde procuramos um motivo para sorrir. Trocávamos mais carinhos e beijos apaixonados, tínhamos noites mais intensas. Hoje em dia, me pego vendo você me pedir para fazer um afago e me olha como se eu tivesse deixado morrer alguma coisa. Muitos casais dizem que com o tempo, a chama da paixão abranda e a calmaria toma conta e traz um relacionamento mais tranquilo, mais confiante, com mais sabedoria e sereno. Mas, há sempre uma exceção, né? Eu abrandei. Você, continua intenso como lá no 1° dia, no 1° olhar, no 1° toque. Não, não me arrependo da minha escolha, da nossa vida à dois e nem escolheria diferente se tivesse que voltar no tempo. Mas, as vezes me sinto cansada... fatigada pela própria vida, essa que nos uniu e nos fez querer viver ao lado um do outro. Essa mesma vida que de uma hora pra outra resolveu nos colocar à prova, nos fazendo passar por turbulências, provações, dificuldades, desafetos, planos que nunca se concretizam e dias que parecem ser anos... Lembro que a gente tinha sede de vida nos olhos e hoje a gente tem algumas se decepções, além de arrependimentos. Do que fizemos com o outro, do que fizemos com nós mesmos ou do que deixamos de fazer por nós. Acho que nos perdemos em função do que acreditávamos que seríamos, que é bem diferente do que somos de fato. Mudamos por achar que sabíamos e que tínhamos sempre certeza do sentimento e das atitudes do outro. E não é bem assim. Um relacionamento é que nem mar... a água pode estar calma, mas uma hora vai vir uma onda e te pegar desprevenida. Então, nos acostumamos com quem éramos e julgamos que nunca mudaríamos. Mas, mudamos. E estamos custando a aceitar isso. Posso dizer, de minha parte que mudei em função da idade, das experiências, das responsabilidades que não tenho como renegar, das obrigações que batem à porta, das imposições da própria vida, das expectativas frustradas, por uma série de coisas e me pego hoje sendo bem diferente daquela angelical, com alegria esfuziante, com vivacidade e até certo ponto ingênua e crédula. Mas, sim, sempre com verdade! E você me cobra ser como sempre... ser como antes, mas como se nem eu sei ao certo o que me tornei e como eu vim parar aqui? Pode ter sido culpa sua em partes, pode não ter sido culpa minha ou de ninguém. Mas, sim, cá estou eu, sendo assim, agora! Uma pessoa que fala e fala mesmo, uma pessoa que se magoa fácil, uma pessoa que espera demais, oras não espera mais nada porque já cansou de esperar e não acontecer, uma pessoa que se decepciona quando uma promessa não é cumprida, uma pessoa com medo e receio de que você esteja vivendo uma vida fake, com medo de não saber como voltar atrás. As frases de amor são as mesmas, as entonações é que não. O beijo é o mesmo com menos sabor. O olhar é o mesmo com menos calor, o abraço é o mesmo menos apertado, e as conversas quando temos tempo e não desmaiamos na cama de tanto cansaço, são meias e meras palavras. Estamos escondendo de nós e do outro o que nos tornamos para não magoar um ao outro e não nos magoar. Custamos a aceitar que existem mudanças. E que a vida não é o mar de rosa como pensávamos que seria. Que teríamos muita disposição para as adversidades. Muita sabedoria e paciência para lidar com as situações e um com o outro. Nos frustramos com as expectativas que nós mesmos criamos... Às vezes eu tenho a ligeira sensação que nenhum dos dois sabe mais o que fazer, que a coisa toda desandou. Tô aqui extravasando, desabafando, para não ficar remoendo e terminar ressentida com uma coisa que nenhum dos dois tem culpa. Às vezes, fica um vazio onde antes só a presença bastava para preencher. E nem os telefonemas 1000 quando está longe me faz ter a certeza de volta do que um dia foi e não sei mais se é. Tenho medo de me acostumar com a sua falta. Tenho medo de me acostumar com tudo que não deveria ser e é. E nisso, estamos criando uma barreira de silêncio, com medo de magoar e ser mau compreendido. Um muro de tristeza que às vezes não falta vontade, mas sim a maneira certa de pular.
Sim, temos pontos positivos e muito bons, na verdade. Mesmo de mal um com o outro, somos incapaz de virar as costas. Sempre nos preocupamos. Somos cúmplices, ou pelo menos tentamos ser. Sim, somos companheiros. Companheiros que discordam, que tem opiniões e pontos de vista diferentes, mas, ainda sim, somos companheiros. Somos leais ao compromisso e ao sentimento que temos um com o outro, por mais estranho e difícil que possa parecer às vezes, diante da nossa situação. E sim, temos vontade. Muita, pra falar a verdade! Porque só de amor, um relacionamento não vive. Ele é o coração, mas não vai segurar a onda sozinho se todas as outras "funções" do relacionamento começarem a pifar. Tem que ter muita força de vontade pra fazer dar certo e consertar as minuciosas erratas que surgem quando a gente tenta fazer o certo.
E por falar em certo... eu continuo olhando as nossas fotos e lembrando de cada momento, de algumas palavras, de alguns olhares, dos toques, das juras de amor, dos sonhos e das risadas, dos planos. Sinto saudade dos jovens de espírito, de alma que habitavam a nós lá no início. Eramos pessoas não tão fáceis de aceitar imposições, de nos curvar, de buscar sempre uma outra solução. Mas, mesmo assim, mesmo com nossos momentos volúveis, ainda sim, sinto que você é a pessoa perfeita para mim. É que nem quebra cabeça, sabe? Encaixa, completa, dá sentido. Pois, por pior que sejam alguns dias e que eu enlouqueça e tenha vontade de ir em frente sem olhar pra trás, quando eu olho ao redor e não te vejo é como se eu me sentisse desprotegida, solitária, sem razão. É isso: você é a minha razão! Pra tudo, até pra brigar. E pra tentar te provar que estou com a razão, rs. Você sabe aceitar a minha essência. Mesmo não sabendo se é certo, sei que posso ser eu mesma com você. Que mesmo que você não me entenda ou não concorde comigo, mas eu não preciso mentir.
Sim, hoje foi um dia difícil. Mais um, numa maré de má fase e desentendimentos que estamos passando. De altos e baixo são feitos os relacionamentos. Que pode até ser como uma neblina encobrir nosso sentimento, mas nunca fará com que ele deixe de existir. O "x" da questão é saber perdoar e seguir em frente, aceitar e seguir em frente, dizer que é passado e lá no passado deixar morrer uma história, uma discussão, uma briga, um desafeto... Confesso, nisso tenho dificuldades, mas, tô tentando melhorar, verdade! Tenho fé... ou tento ter. Tenho mais esperança do que fé, de que a gente vai conseguir se enquadrar e se adequar a nós mesmos agora, como somos, independente de nossa vontade de querer ser assim ou assado. Sei também que a gente tem se submetido e se doado demais para realizar nossos sonhos. De repente é isso. A gente quer tanto fazer X que esquece de se concentrar e enxergar o Y, que é o hoje, o agora. E sei também que como tudo na nossa vida, a gente vai pegando cada aprendizado de uma situação e transformando no tijolinho que forma a base da nossa relação.
Não disse tudo isso apenas porque estou de cabeça quente. Ou porque estou arrependida. Ou porque desgostei. Ou porque não quero mais e não sei como dizer. Todo mundo tem problemas e nenhum casal é perfeito de perto, só na foto! Tô tentando entender como as pessoas se transformam, inclusive nós, eu e você, sem nem mesmo perceber, quando se tem tudo para dar certo? E fico me perguntando: o que falta? O que falta para nessa mudança, então, nos encaixarmos na vida e ponto? Por que é tão difícil simplesmente aceitar? ...
Mas, uma coisa é certa: prefiro mil vezes a certeza ruim, do que a dúvida de nunca saber...
E assim, se vai mais um dia. E logo logo outro já vem raiando. E como eu disse lá no início, com o raiar do sol, há sempre uma nova chance da gente tentar fazer diferente, ser diferente, por mais que a gente não compreenda, como foi que viemos parar até aqui. É uma nova chance que surge e que temos que saber aproveitar. É difícil, é verdade! Meio dolorido, às vezes, mas nunca deixe de tentar... pois de algum jeito, sob algum ângulo, valerá à pena!
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Um brinde à um novo dia!