Outro dia, minha mãe, eu e meu marido fomos ao Norte Shopping ver uma exposição e, para irmos, passamos pela tão famosa Favela do Alemão, mostrada em 2011 incessantemente na tv como a comunidade invadida pelo Exército e que, recentemente, ganhou a Unidade de Polícia Pacificadora - UPP. No local, foram construídas novas casas e conjuntos habitacionais, praças e centros de lazer, além da UPA e da Clínica da Família. Algumas lojas ao entorno ganharam caras e cores novas. Toda um infraestrutura reconstruída, modernizada e voltada para as necessidades da população. Centros de cultura como bibliotecas e cinemas também foram construídos, assim como uma urbanização aconchegante. Mas, ao passar por lá, pouco mais de 1 ano de tudo ter sido construído, o que vejo: sujeira, lixo espalhado pelas ruas, pichações nos muros, e nenhuma vontade dos próprios moradores de preservarem seus patrimônios. Os tão sonhados patrimônios que reivindicaram para o poder público durante anos. Os mesmos patrimônios que diziam não ter direito e nem acesso pela condição financeira. Os mesmos patrimônios que acusavam o poder público de dar e vender às classes economicamente privilegiadas e as do "submundo" ser renegado o direito à educação, saúde, moradia, saneamento básico, segurança e lazer.
Ok... anos depois de protestos, manifestações, discriminações e muito sofrer, eis que os 3 poderes - Estado, Prefeitura e Governo Federal - se unem e surge o PAC. Tá certo, nem tudo que estava prescrito no projeto saiu como deveria. Mas, alguma coisa saiu. Inegavelmente, hoje temos algo e antes não tínhamos nada. A Zona Norte da cidade ficou muito tempo esquecida, por passar longe do azul dos mares e verde das matas e de pontos turísticos e vistas paradisíacas vendidas em jornais estrangeiros e cartões postais. Aqui "pra baixo", a realidade era bem diferente, assim como o socioeconômico. Mas, à passos lentos, de tartaruga, as coisas estão tomando forma. Vejam só: hoje o Teleférico que interliga as comunidades do Alemão em seus vários pontos de extensão já virou atração turística. As UPP's viraram modelo de pacificação no exterior. E, pela primeira vez estamos sendo reconhecidos lá fora por algo bom que fazemos por nós mesmos. Pena que o mesmo reconhecimento não seja dado por nós - próprios moradores, usuários e aproveitadores de todos esses benefícios. Como disse antes, sim tem falhas, sim não é perfeito, sim ainda precisa de melhorias, mas é melhor do que nada! Mas, sou obrigada a concordar que o povo nunca está satisfeito com as coisas e que vive com o único propósito de reclamar.
Reclama-se das intermináveis obras em diversos pontos da cidade. Mas, não tem que haver reformas e melhorias? Como fazer isso sem que nada fosse mexido? Sim, haverá e como haverá transtornos! No trânsito, no comércio, na vida habitual e na rotina das pessoas. Mas, mesmo em meio a esse caos e pandemônio em que se encontra a cidade, eu vejo ruas asfaltadas, iluminadas, praças públicas sendo reformadas, novas vias de acesso para transporte público serem construídas e dia após dia nos adaptamos as necessidades aceleradas de crescimento urbano, que nos atropelam quase que na velocidade da luz das informações que nos rondam. Mas, de que adianta tudo isso, sinceramente, se o brasileiro não se da conta?
Outro dia, vi uma iniciativa que começou no Morro São Carlos, de coleta de lixo - um dos serviços públicos que os moradores reclamaram de ser falho, e colocavam a culpa nos "chefes" do morro que impediam a execução de serviços públicos e assistência social. Mas, agora nas comunidades pacificadas não há mais esse problema e continua a proliferar lixo pelas ruas e encostas, mesmo com o serviço da COMLURB normalizado no local. O que faz, com que os próprios moradores não utilizem caçambas, latas de lixo e cestos de coleta? Falta de educação! Não somente essa educação escolar a que tanto nos referimos que é defasada, ruim e falha. Mas, a educação que vem de casa, dos ensinamentos de pai e mãe de bons hábitos, boa conduta, valores, preservação de um bem coletivo. Ensinamentos esses que hoje foram transferidos às unidades escolares (professores) pela própria incapacidade da sociedade de se conscientizar! Mais do que fazer obras e melhorias nas comunidades, deveria ser feito uma lavagem cerebral dessas pessoas para terem noção de como eram as coisas antes de tudo ficar deturpado.
Começo a crer que favelado não deve ser um termo empregado para denominar pessoas humildes que moram em comunidades carentes por pura falta de condições financeiras, sociais, culturais e afins. Mas, uma palavra para descrever um grupo de pessoas que gostam e fazem questão de viver na miséria e culpar sempre alguém pelo que ele mesmo não faz. Ser pobre não é desculpa para sujeira. Não ter estudo não é desculpa para ser depredador. Não ter cultura não é desculpa para não procurar ser melhor por si e pelos outros. A "pobreza", mais de espírito do que de corpo, sob meu ponto de vista, passou a ser desculpa para uma condição de vida onde muitas pessoas se acomodaram a ter. Fico a imaginar como alguém pode se acomodar com tamanha falta de higiene, ser desleixado... Mas enfim, tem coisa pior no mundo que eu também não consigo entender. Ainda levará anos a fio até que algum estudo antropológico explique o porquê das pessoas agirem do modo como agem, se não tem razões ou motivos para tal. E esse caso é um deles: como pessoas que estão tendo a oportunidade de grandes melhorias não só de vida, mas de hábitos, de ares, não querem aproveitar isso?
No caso lá no São Carlos, algum tempo depois de voluntários e alguns da própria comunidade passarem horas debaixo de sol catando o lixo, separando os recicláveis e explicando a importância de manter o local limpo por uma questão de saúde e de segurança, o local que havia sido limpo, já estava cheio de sacos e lixos espalhados por todos os cantos. Alma penada quem fez isso? Óbvio que não! Foram as próprias pessoas que moram lá, que não querem melhorias, mas querem ir pra tv gritar "-porque 'nós' é pobre...". Nós não somos coisíssima nenhuma! Vocês são...
Fico indignada. A sociedade que deveria andar e evoluir e crescer e prosperar empaca em atitudes mesquinhas. Esbarra na política de assistencialismo que acolhe quem não quer fazer nada além de fazer filhos para poder usar o bolsa família, bolsa escola, cartão cidadão. Acho até que trepam fazendo as contas de quanto vão ganhar do governo por cada filho feito. É cômodo! Ninguém ser responsabilizado ou cobrado por nada é muito fácil. Quer dizer, ninguém não. Nós aqui que pagamos os olhos da cara de 1.000.000 de impostos todos os anos, pagamos por esses caras de pau que nada querem fazer ou ser. Nem ao menos se esforçam para disfarçar. É triste e lamentável esse pilar sob o qual a sociedade está sendo construída. E que cria-se filhos em cima desses valores e crenças. Que são repassadas de geração em geração, que nem receita de bolo ou simpatia.
Ao menos, nas simpatias, eu acredito que algo possa acontecer. Já desse cenário aí, não creio que nada possa vingar ou mudar! "Não há nada pior para o home do que a descrença" ...