Tenho ouvido alguns comentários à respeito do evento que mobilizou a cidade nessas últimas semanas, a Rio +20. Alguns são bons, outros nem tanto e outros nem um pouco. Dentre eles, ouvi de uma pessoa que não vem ao caso aqui citar quem foi, que o evento é a pura hipocrisia. Será mesmo? Fiquei a pensar...
Claro, não posso deixar de me indignar que haja, por parte dos políticos e dirigentes uma vontade de fazer parecer que a cidade do RJ é uma coisa que não é, de fato, todos os dias. Existem lacunas como saúde pública, transporte coletivo, segurança pública, educação, conservação, iluminação e coleta de lixo com total desfalque no RJ. São parâmetros hoje que já estão sendo mexidos, mas como ficaram muito anos largados de mão, por mais que se faça, vai levar um tempo mais que considerável para ficar do jeito que tem que ficar. A prova dessa mudança a passos lentos são as milhares de obras espalhadas pela cidade. Foi e ainda é um caos e um tumulto só na vida dos moradores. Mas, para toda mudança acontecer, tem que existir esse processo mesmo.
Mas, por outro lado, mesmo com todos esses problemas e mesmo assim o Rio ter sido escolhido para sediar um grande evento desse porte, já foi um avanço. Sim, faltou infraestrutura, faltou experiência de uma cidade sede para lidar com os planejamentos, principalmente de trânsito. E faltou também, e aqui eu não vou generalizar, a colaboração e a boa vontade de muitos moradores cariocas. É um pouco de egoísmo sim, cagar e andar, no bom palavreado para algo que vai beneficiar a todos em prol de um benefício próprio. As decisões que foram tomadas nesse evento vai influenciar a vida de todos, cariocas, paulistas, mineiros, gaúchos, holandeses, americanos, espanhóis, italianos, chineses e por aí vai. Foi um evento global, pois a sustentabilidade começou a ser notada quando a necessidade de se preservar o planeta e utilizar os recursos naturais de forma consciente gritava às portas da sociedade como um câncer adormecido e que acordou do tamanho do sol. Sim, começamos a pensar em como levar um estilo de vida saudável e que não agrida ao meio ambiente tardiamente, em relação a outros países. Começamos a dar valor a simples ações que fazem uma diferença absurda como as construções verdes, energia alternativa, reaproveitamento da água e coleta seletiva para reciclagem. Começamos a nos importar com o fato de amanhã não termos mais aonde morar se o sol não nascer, se não existir água potável, se afundarmos num mar de lixo quando à natureza resolveu se revoltar com as imensas catástrofes que nos arrebatam.
Confesso que até me surpreendi com a população, por comparecer aos eventos, exposições, palestras. Achei que a atuação ia ser zero, devido às reclamações derivadas das mudanças feitas na cidade por conta do evento. Carioca é meio pirracento: se algo vai contra a vontade e comodidade dele, ele bate o pé, faz biquinho e não vai. Mas, muita gente foi e continua indo ao que ainda está montado do evento. Só não concordo com algumas manifestações sem propósito da Cúpula dos Povos. Um movimento que deveria ser usado para criar uma só voz do povo em causas iguais foi usado como uma ascensão midiática para protestar sobre assuntos que nada tinham a ver com meio ambiente e sustentabilidade. Oportunismo puro e barato, e os trouxas que não se atentaram para isso, caíram que nem uns patinhos. Uma baderna desordenada tumultuando a cidade e causando problemas, mais nada que isso! Um bando de gente fazendo barulho por algo nada a ver, fora de propósito. A causa não é nobre? Sim, claro que é. Estou desmerecendo outros assuntos? Não. Só acho que não deveria misturas as estações e tudo acabar no nosso tradicional samba do crioulo doido. Cada causa merece importância, mas antes de tudo, um evento ou um meio particular de se fazer ouvir. Não é apenas "ebarcar na onda dos outros". Ficou com isso, uma sensação de bagunça e de falta de credibilidade da população em se unir e lutar pela coisa certa.
A participação de chefes de estado também foi outro ponto que me impressionou positivamente. Mostra que o Brasil não está sendo mais visto como um mero e rélis país do submundo sem nada a oferecer. O fato de mesmo sem estrutura e organização, e mesmo assim estar sediando eventos importantes, mostra o avanço no conceito lá de fora. Mas, volto a reforçar, que para esses eventos grandes continuarem a acontecer, muita coisa tem que ser melhorada.
Agora, o que me deixou estarrecida, pelo lado negativo, foi a atitude de algumas pessoas em fazer questão de se alienar completamente da coisa, a ponto de esbravejar: o que eu tenho com a Rio +20? É por esse único pensamento de algumas pessoas e que somado no final não são tão poucas assim, é que eu acho que a população acaba deixando o assunto com uma conotação de hipocrisia. Porque fingir que se importa com um assunto que atinge a todos se no fundo nem sabe sobre o que é, para que serve, como acontece e o que fazer, cada um a sua parte para contribuir na solução dos problemas? Ontem fui ao salão fazer as unhas e a cabeleireira ao lado da minha manicure estava comentando que a escola dela pediu que os alunos fizessem uma redação, refletindo sobre o evento, os assuntos discutidos, as atitudes, o que funcionou ou não. E além dela não saber dizer nenhuma das perguntas que o professor perguntou, ela fazia questão de se manter alienada.
Cheguei no ponto X na questão. Essa é a hipocrisia maior. As pessoas continuarem a viver umas vidinhas e manterem seus pensamentos egoístas e mesquinhas achando que em nada a sua falta de ação vai intervir na vida dos outros. Mas, como é para faltar aula, faltar trabalho - já que alguns órgãos, escolas e empresas liberaram seus funcionários não só pelo trânsito mas também pela cooperação - levantam a mão e publicam em mídias sociais: Rio +20, eu apoio! Apoia o que? A si mesmo?
A gente (população) não é burra e sabemos bem que independente dos acordos firmados e das soluções resolvidas isso não vai sair do papel tão cedo. vai demorar, demorar, até porque ainda há muito para se fazer particularmente, cada cidade, cada país, cada pessoa no seu singular. Mas, o que vai demorar mesmo a mudar é o pensamento egoísta e retrógrado de alguns, ações individualistas, a educação que é pobre e não tô falando aqui só da qualidade das escolas e dos professores, e a falta de conscientização. Isso sim, é que vai demorar de fato para evoluir. Não adianta queremos mudanças a pátria de ações de terceiros. Se não mudarmos a nós mesmos e nossos hábitos, primeiro. Nosso pensamento, a maneira como nos colocamos no mundo, como seres superiores e não parte dele, desmerecendo e dando menos importância a natureza, aos animais como se eles fossem submissos a nós. Animais, me desculpem alguns, somos tanto quanto eles. Pois eles são irracionais, mas possuem extinto de sobrevivência, Nós, nem isso!
E daqui a pouca vai surgir uma causa que julguem ser mais relevante do que salvar a vida do planeta que nos matamos habitando-o e toda essa conversa, mobilização, ações vai por água abaixo. Isso sim é hipocrisia. Colocarmos sempre um assunto novo no lugar do velho e acharmos no fundo que os dois são irrelevantes. Que se vivemos bem até agora, vamos continuar bem, que é alarde de grupos ativistas, ecológicos, sem ter o que fazer.
Então, hipócritas, paguem pra ver. Em 2012 o mundo não acaba. Ao menos no mês de Junho. E por ser que até dezembro o planeta ainda exista. E que exista até mais "um cadinho!". Mas, até quando? Será que nossos netos ou bisnetos estarão aqui para ver a morte do planeta? Será que seremos nós a causar a morte do nosso próximo?
Bjs e boa semana