Por que eu digo isso? Porque para uma sociedade que se diz moderna, libertária, de opiniões próprias, ainda está muito ligada a raízes de tradição familiar e valores culturais que não quer abrir mão. E, para mim, em pleno século XXI, no ano 2013, o que não mudou, não mudará. Poderá ficar embutido, escondido, omitido. Pode até mesmo ser mascarado por uma coisa chamada falso moralismo, onde as pessoas pregam uma coisa e fazem outra. Ou ainda, dizem certas coisas para parecer legal e não ficar mal com ninguém diante de uma situação. Mas lá no seu íntimo, a verdade grita em chamas.
Para os seguidores dessa página, não é novidade como relatado em desabafos anteriores que meu marido, por um problema genético não poderia gerar filhos. Na hora foi um baque até porque o grande sonho da vida dele é ser pai. E uma profunda tristeza por saber que não poderia gerar o seu próprio filho, sangue do seu sangue, para puxar suas características físicas e até mesmo alguns traços de personalidades. Na época, isso faz quase uns 2 anos, eu em meu melhor momento "eu e mais ninguém", já em dúvida sobre a vontade da maternidade, lógico triste por ele, mas não muito abalada, pois não cogitava filhos tão cedo e nem sabia se algum dia cogitaria. Bom, fato é que o tempo passou e alguma coisa mudou. Não sei explicar o que. Não sei dizer de onde surgiu essa vontade, nem tão pouco explicar como ela se tornou necessária como se fosse um pedaço que faltasse para me completar. Nunca fui dessas mulheres que contemplavam a maternidade e almejavam para formar o quadro de família feliz. Sempre busquei minhas próprias satisfações. Sempre quis viver em função minha. Realizar os meus sonhos. Não abrir mão das minhas vontades. Me colocar em primeiro lugar. Não ter preocupações, não ser presa a obrigações e responsabilidades por terceiros. definitivamente, queria viver para mim e é claro, marido família, amigos, trabalho, dança e afins. Na minha cabeça naquela época a ideia da maternidade estava muito ligada a uma entrega, devoção e até mesmo uma subserviência em prol de filhos em que eu não me vida encaixada nesse quadro. E ainda tinha grandes aspirações de realizações na vida como uma estabilidade financeira melhor, uma boa colocação profissional, realizações pessoais e por aí vai.
Mas foi assim, da noite por dia, da água por vinho que tudo mudou! Não sei se é a tal história que dizem dos hormônios gritando após os 30 correndo contra o relógio biológico. Não sei se pelo fato da certeza de falta de possibilidades. Porque você dizer que não quer algo é uma coisa. Mas você ver se concretizar de fato que essa coisa NUNCA vai acontecer é bem diferente. Não sei dizer se é normal, se acontece com a maioria das mulheres essa mudança brusca de sentimentos e de vontades. Mas enfim, comigo aconteceu! E quando me vi, estava eu olhando vitrines de bebês, imaginando a casa e a vida com um serzinho e tudo que segue e aflora naturalmente com a maternidade. Sendo assim, resolvemos nos informar e correr atrás de informações de métodos e meios para sermos pais, meio biológicos ou de coração.
Lógico que eu não me iludi achando que seria fácil. Mas também não achei que encontraria tantas dificuldades assim. De fato, é uma prova de resistência para medir o quanto se quer uma coisa! Tivemos duas escolhas: optar pela inseminação ou pela adoção. Com a vontade da maternidade, veio a vontade da gravidez. Então, optamos pela primeira opção. A inseminação particular é caríssima. O preço de um apê de cobertura na Vieira Souto. E olhe lá! Podendo ser mais! Tornou-se então, inviável. Resolvemos, através de médico, saber sobre e se tinha inseminação no SUS. Soubemos que sim, embora raro, e a fila de espera para o tratamento é longa e mais, não é sempre que é realizado. Você pode se inscrever hoje e ser chamado daqui há 5 anos, por exemplo. Pelo sim, pelo não, me inscrevi. Mas, conversando com uma das responsáveis por essa parte ainda no SUS, soubemos que as variáveis são mais. Além de todo o processo demorado também pela bateria de consultas e exames realizados antes de fertilização, no meu caso que é a infertilidade do meu marido, com o passar do tempo, a idade avançada, pode ser que eu também tenha que implantar óvulos para serem fecundados e, segundo ela, aí o processo já é outro e invalida o primeiro. Serão feitos então,. novos exames, consultas, remédios e tratamento. E levando em consideração que tudo isso demora muito tempo, com 40 anos talvez eu chegue lá! E ainda tem o agravante mor: tudo isso pode não resultar em nada. Não dar certo e ter que começar tudo de novo! Já cansei e me desestimulei só com todos esses "pode ser".
Então, resolvemos nos informar e nos inteirar sobre a adoção. Se fosse um processo mais simples, adotaríamos então. Mas, embora os trâmites sejam outros, há também certa dificuldade e alguns "poréns". O que pode tornar o processo demorado e bem complicado! Como seria nosso primeiro filho, gostaríamos que fosse uma bebê, pois queríamos passar por todo o processo de cuidar de um pequenino, vê-lo crescer, acompanhar os passos, os primeiros tudo. Mas isso, para adoção, é como caçar um agulha no palheiro. Não é impossível, mas é um em 1.000.000. Os meus médicos já haviam me dito que os lares adotivos quase não colocam bebê para adoção. Primeiro porque todo mundo quer e não dá chance das crianças maiores serem adotadas. Olhando por esse ponto de vista ou acho certo. Mas a vontade de cuidar de um bebezinho ainda fala mais alto. Segundo, porque 90% dos casos de abandono ou rejeição de bebês acontece nos hospitais. E, como a maioria deles possui um sistema de assistência social que já atua junto com a Vara da Infância e Juventude nesses casos, acontece de funcionários, parentes de funcionários ou até mesmo conhecidos de funcionários ficarem. Todos os trâmites de lei são feitos através mesmo do hospital com o juizado. E rapidamente, as crianças, em sua grande maioria bebês recém-nascidos conseguem ser adotados mais facilmente. Como na época não tínhamos nenhum conhecido na área hospitalar, ficaria inviável desse jeito e então, só nos restou entrarmos no Cadastro Nacional de Adoção. O sistema pode ser feito todo pelo site. Mas recorri ao telefone para tirar algumas dúvidas eventuais. E, segundo o que foi me passado foi o seguinte: primeiro passamos por várias visitas de assistentes sociais para avaliar nosso lar e nosso perfil para pais. Segundo, nossas preferências para adoção serão avaliadas e assim que tiverem candidatos entrariam em contato conosco. Teríamos que passar um tempo com a criança ainda no lar sob a supervisão dessas pessoas, assistentes,psicólogos, pediatras e afins. Assim que constatado que seremos "possíveis" bons pais (essa frase dita pela telefonista) ganhamos o direito a guarda provisória da criança o que não nos torna pais, ainda. Esse processo continua incluindo visitas à casa da família, acompanhamento permanente de perto e algumas idas ao juiz para dar andamento a questão da papelada. Nisso, pode acontecer de no meio do caminho, alguém bater o pé e todo o processo brecar. Mas, se caso isso não ocorrer, a coisa segue e, depois de algum tempo, enfim vem a guarda definitiva. Mas, tem ainda alguns adendos: se acriança tiver irmãos, eles não são separados, ou seja, todos deverão ser adotados. Se a criança dada para adoção tiver o processo contestado por algum dos pais biológicos, avós ou parentes mais próximos pode ser que o juiz queira rever o caso e aí começa aquela incerteza toda. A adoção é sigilosa, os pais biológicos não terão acesso a endereço e nenhuma informação dos adotantes. Mas a própria funcionária me informou que mesmo sendo contra a lei, às vezes a mãe ou a família de uma dos pais resolve voltar atrás na adoção e começa um processo novo de visitas de assistentes, etc e tal. No fim das contas, o que pra mim ficou subentendido é que nunca haverá paz de espírito! Estaremos sempre sendo assombrados com a possibilidade de ser revogado por algum motivo. No mais, eu concordo com essa política de supervisão e tudo o mais, só acho que atrasa muito o processo.
Enfim, sem nos resta muito, nos inscrevemos em um e no outro e sabíamos que poderíamos esperar muito! Eis que um grande milagre aconteceu. Minha cunhada tem uma irmã que tem duas conhecidas que trabalham no hospital e que podem ver essa questão da adoção dos bebês largados pela família, já que elas dizem que o n° é grande. Então, nos animamos mais com a possibilidade mas, resolvemos nos programar esse ano já que os gastos e custos com alimentação, vestuário, enxoval, fraldas, remédios e afins é grande. E,como nos foi dito, não teremos muito tempo tipo 9 meses para ver as coisas com calma. Assim que dermos o aval a qualquer momento podem nos ligar dizendo que apareceu um bebê e, não tem como o bebê chegar e não ter nada, pois as coisas também não se ajeitam da noite para o dia. E, como ainda estamos com algumas prestações a serem pagas e tal, resolvemos esse ano ajeitar com calma alguma coisa, a própria casa também para ano que vem aguardar quando chegará o momento. Mas, basta surgir a informação de uma possível chegada de bebê na família para o frisson ser incontrolável. os avós então, sempre são os mais animados, rs. E nós, na empolgação, acabamos nos deixando levar também e tiramos um dia para ir no shopping dar uma olhada em móveis e nas demais coisinhas, muitas das quais não faço ideia para que servem e nem como se usa. Totalmente out nessa área, rs. Entramos em uma loja e começamos a olhar quartos de menino e de menina, visto que não sabemos o que vai vir. E vendedora começou a nos dar algumas informações para que nós ainda continuavam um bicho de 7 cabeças. Foi então que dado momento el perguntou de quantos meses eu estava e eu disse que de nenhum, que ia adotar. Ela ficou meio paralisada, petrificada, sem fala como se o que eu tivesse falando fosse uma coisa de outro mundo. Ela tentou disfarçar, mas estava na cara que ela achava estranhíssimo isso. E assim como ela, vejo muita gente reagir mal a isso. Nunca ninguém falou diretamente comigo à respeito, mas fica nítido a resistência a esse tipo de maternidade.
Ainda existe a cultura de que com a adoção a criança pode nascer com algumas características emocionais e ter atitudes iguais aos pais. E se esse forem de índoles ruins, viciados e etc que as crianças vão ser predispostas e seguirem pelo mesmo caminho. Outros ainda acham que não se é possível amar igualmente uma criança que não tenha sido gerada no próprio ventre. Há ainda quem tenha a péssima ideia de achar que adoção é para crianças pobres, em situação de miséria, com necessidades. Em alguns casos sim, na maioria deles até, mas nem sempre. Então, no geral, olha-se com aquele olhar de estranhamento ou de pena quando os pais dizem que vão adotar. Isso quando não vem seguido de um olhar de reprovação. Pura idiotice. pensamento de gente limitada.
Posso assegurar totalmente que o amor é o mesmo! Que o cuidado e a preocupação é a mesma. O zelo, o carinho e todo o tempo desprendido e investido é o mesmo! Falo isso não porque sei que sentirei a mesma coisa quando pegar o bebê nos braços. Sei porque sou adotada e porque dessa mãe adotiva eu sempre tive tudo demais. Nunca me faltou nada e nunca tive nenhuma diferenciação de tratamento na minha criação ou educação. Não tenho irmãos de mãe, mas acredito que mesmo que tivesse e caso esses fossem de sangue, ainda sim, o amor seria o mesmo. Não houve o que minha mãe não fizesse por mim nesses 30 anos e ainda faça. Não há limites para a maternidade dela. Acho que ela é muito mais para mim do que muita mãe biológica é para seu filhos de sangue que ao espancar, colocar no trabalho infantil, na exploração sexual, jogar no lixo. Que não cuidam, não dão amor, não dão atenção. Então, pra que ter um filho assim, me diz? Não há nada de anormal em uma adoção, em amar um serzinho que não nasceu do seu ventre mas nasceu do seu coração. E eu. não poderia ser mais grata, pra dizer no mínimo, porque a adoção foi o melhor que me aconteceu. E eu nem estou falando da vida boa e das excelentes oportunidades que ela me proporcionou e nem do amor incondicional e amizade sempre. Mas, sabe Deus o que poderia ter sido de mim se tivesse continuado com a minha mãe de sangue, que já havia demonstrado que ñ tinha o menor interesse de ficar comigo. Foi no hospital mesmo que se deu a minha adoção. A minha mãe biológica me deixou lá sem nem olhar pra trás. A amiga da irmã do meu pai, sabendo da vontade da minha mãe, entrou em contato e deu-se então início a minha família, a minha chegada a um lar e para o seio de pessoas que me amavam de verdade! E eu ñ sou complexada por isso. Não sou revoltada por isso. Não fico chateada por ter sido dada. Não sinto nada! Nem ruim e nem bom. Pois a minha história começou a partir do momento em que fui para a minha família. A única que conheci até hoje e com todos os erros e defeitos, foi a que me amou, me criou, me educou e me acolheu em todos os sentidos. Não lembro que não sou fruto biológico da minha mãe. A não seu quando tenho problemas de saúde e os médicos perguntam meu histórico familiar. Fora isso, pra mim não existe. Não porque não quero lembrar ou não quero ter pra mim a verdade, e sim porque não faz a menor diferença. Eu tenho a melhor mãe do mundo, a mais amorosa, carinhosa, amiga, presente, sincera, leal que existe. brigamos, nos desentendemos, mas pelo fato de sermos também muito parecidas. Eu fiquei tão a minha mãe em certas coisas que é impossível pra alguém dizer que não somos verdadeiramente mãe e filha. E quem disse que jeito não se pega? Sim, pega. Eu não vim com nenhum gene ou nada da outra família. Adquiri tudo a partir do momento que eu vim pra essa família.
E quando eu vejo as cenas da novela das 21h, da corrida desembestada da Aisha atrás da sua família biológica, não condeno, só não entendo. Porque pra mim não há essa necessidade de saber minha origem. A minha origem é essa que eu conheço. Não mudará em nada na minha vida saber ou não saber. O que me revoltou sim, foram as cenas que ela quase menosprezou ou renegou aos pais em prol de se aproximar e ajudar uma mulher que nem a mãe dela era de fato. Que necessidade é essa a ponto dela querer fazer mais por um estranho do que por quem fez por ela a vida toda? Não é bem ingratidão e nem falta de consideração, mas é algo que não faz parte de mim e como disse, não entendo porque não sinto!
E é assim! Mesmo sabendo que enfrentaremos alguns tabus pela frente, vamos seguindo com a nossa ideia de adoção. Queremos um filho(a) para amar, cuidar, educar, brincar e viver conosco como se fosse nosso, porque ele É NOSSO! O amor de mãe é o que chega mais perto da pureza e e da falta de limites. É o que de mais nobre o ser humano pode oferecer sem em troca, nada esperar! Então, que passe o tempo e que venho o nosso pequerrucho (a) pra trazer mais alegria para as nossas vidas já tão cheia de felicidade!