Tenho visto mais novelas do que esperava ultimamente. E me apegado mais do que gostaria também, rs! Independente se a novela agrada ou não há muitos, se o casal protagonista tem química, se o núcleo principal conquistou o público e se a novela se enquadra dentro dos padrões novelísticos do país, tenho presenciados muitas campanhas e apelos sociais. É uma prova como o entretenimento pode se tornar informativo também. Se pode divertir e informar ao mesmo tempo, prestar um serviço à sociedade, por que não?
Vejo muitas pessoas, de diferentes idades, sexos, religiões e classes sociais debaterem o conteúdo das novelas. E critica-se demais quando a novela ou é "fantasiosa" demais ou de menos e quando é "verídica" demais ou de menos. Fato é que há algum tempo, as novelas vem retratando o cotidiano, a realidade do país. Existe menos núcleos milionários e mais núcleos em favelas, comunidades, mostrando essa fusão entre as classes, a mistura de culturas e assim mostrando a quebra ou a enfatização do preconceito. Acho importante esse lado mais "humanista" enquanto que vivemos num país onde não há uma linha divisória determinante entre os opostos.
A novela "Cheias de Charme" discutiu a fama das empregadas domésticas. "Avenida Brasil", o fervor do momento mostrou o lado que mora por detrás do lixão. Quantas vidas e histórias se escondem por detrás de montanhas de lixo. E é duro de pensar que famílias inteiras tiram sua renda disso, arriscando até suas vidas. "Lado a Lado" vem mostrando a cultura negra dominando o Brasil, desmistificando essa história de que qualquer batuque é Macumba. São danças culturais e daí surgiu a capoeira, atividade esportiva típica do nosso país. Em "Cordel Encantando" uma novela que retratou a realeza ao estilo Brasileiro que nada tem a ver com as mostradas em estilo europeu. Bem nordestina, acalorada, caiu no gosto. "Fina Estampa" mostrou uma batalhadora, pobre mas de valores contra uma rica, que achava que podia tudo, sem limites. Além de abordar, novamente a questão gay e da homofobia, que teve uma onda de ataques no país. "Amor eterno Amor" mostrou além da cultura do Pará, o que o dinheiro não compra: honra. Em "América" abordou a entrada ilegal através das fronteiras em países estrangeiros. E outra novelas mais antigas que não me lembro muito bem o nome. Nas novelas do Manoel Carlos cultuam a beleza do Rio, os conflitos familiares e geralmente têm apelos pelo lado da saúde, inclusão social. Já Glória Peres nos proporciona conhecer outras culturas e viajar sem sair de casa, procura abordar os problemas sociais e culturais em evidência no momento. Silvo de Abreu nos apresenta folhetins com suspense e crimes policiais que nos prendem, nos mostra os "maus caráter" presentes em cada família, em cada um de nós. Mas em todas as novelas e de tantos outros atores estão presentes os alertas. Que muitas vezes não vemos, ou não nos permitimos ver.
Agora em "Salve Jorge" aborda-se o tema do tráfico de mulheres. Mulheres que são agenciadas por falsas agências de modelo ou de emprego prometendo vida melhor no exterior quando na verdade serão garotas de programas escravas. Muitas, na tentativa de fugir acabam sendo mortas. Algumas são mau tratadas e violentadas. Ficam escravas financeiramente e por entrarem ilegais no país. E mesmo com toda a exposição na mídia de matérias sobre isso, ainda hoje há uma grande quantidade de mulheres que caem na lábia desses aliciadores com promessas tentadoras mas que não são seguras; eles se escondem atrás de agências de modelo e de trabalho, valendo-se dos sonhos de uma vida melhor e grandes oportunidades de algumas pessoas mais humildes. Sem falar do preconceito que sofrem pessoas do bem que moram em comunidades. Além de serem discriminadas pela sociedade, são discriminadas pelos próprio integrantes dela quando começa a se portar diferente do "estilo". É fantástico poder ver tudo isso e refletir! Porque diferente dos telejornais que nos contam o que, como, quando, onde e porque, as novelas nos mostram cenários onde se é possível refletir, pensar. E geram discussões, troca de opiniões no trabalho, em família, com amigos, na mesa de bar, na hora das refeições, no ônibus para o trabalho. Essa paixão nacional que só perde para o futebol e a cervejinha gelada foi prova de que o brasileiro não está mais no preconceito de que novela é coisa de mulher e de quem não faz nada no último capítulo de Av. Brasil! Ruas desertas, e qualquer lugar com uma telinha lotado.
E é por essa identificação do brasileiro com papéis que ganharam a telinha, com a afinidade com os atores que interpretam x e y que é a hora de lançar um alerta, uma mensagem, uma ideia, uma informação. Seja sobre doenças, seja sobre religião, seja sobre o social e cultural, seja sobre qualquer coisa. Brasileiro não é apenas passivo. Tem discernimento de sobra para assimilar as informações e refletir sobre elas. Só que a cultura de que novela não serve pra nada infelizmente ainda prevalece no país. A qualidade de produção e de pesquisas para retratar com veracidade um época, uma situação, um local é nota 1.000. Quem de fato não se sente enredado por isso sem sair do sofá?
Alguns grupos começam a surtar e dizer que tal emissora é manipuladora, que tem um cunho pessoal e tendencioso nas suas produções, que influencia o comportamento das pessoas com determinadas cenas e personagens. Mas convenhamos: se retratar a realidade, quem tá imitando quem? Essa será uma discussão eterna e que eu acho que nenhum dos lados - nem o contra nem o a favor - irá ganhar. Os dois tem bons argumentos e suas razões. Mas, deixemos isso de lado junto com certa dose de ignorância para atentar ao que é mais importante. Acredito que depois dessas cenas e de outras mais fortes e impactantes que virão por aí, pais ficaram mais atentos quando alguém rondar suas filhas, dando um cartão e oferecendo mundos e fundos. Irão pesquisar a agência em vez de simplesmente confiar. As mulheres que forem abordadas porque dançam bem pensaram duas vezes mais antes de aceitar um convite vindo de um estranho. Claro, não tô dizendo que tudo o que acontecer daqui pra frente é mentira ou são com segundas intenções. Apesar do grande n° de mau-caratismo, existe sim bons profissionais e com índole e que infelizmente, sofrerão as consequências dos que se valem vestindo-se em pele de cordeiro. O importante é ficar alerta. Se informar, desconfiar mesmo, porque mais vale pobre viva do que morta e rica e indigente.
Novela é cultura sim, senhor!
Só acha que não quem é tão ignorante e alienado.
Não gostar de novela é aceitável. Mas dizer que não há nada que preste, é injustiça!
Com a última novela das 18h duas crianças desaparecidas foram encontradas. Algo de bom ela fez, não é?
Beijokas e até o próximo capítulo!