O que me inspirou a pensar nesse texto é uma situação real e não hipotética. A violência em SP está descontrolada. Até agora, desde que começou já são 226 mortes. Bom, ao menos ontem à noite era essa a estimativa. Hoje já deve ter acontecido outras, infelizmente. O governo do estado e federal se unem para bolar um plano de segurança para tentar conter essa onda que amedronta às pessoas a ponto de não saírem de casa por não saberem se irão voltar. A maioria dos alvos são policiais, não se sabe ao certo porque. Há extermínios hediondos até mesmo para os mais podres das criaturas. Já foi noticiadas que essa chacina em massa havia sido alertada há algum tempo, mas não teve credibilidade, acharam que seria ousado demais ou que não seria possível executar um plano de grande proporção como esse. Não sei porque não foi dada a devida atenção que merecia o caso, mas agora, por uma subestimação de alguém, várias pessoas estão pagando. Algumas são mortas a esmo. Outras são alvos certos. Saem de casa para trabalhar, ganhar o pão de cada dia, estudar, batalhar para crescer na vida e de repente, famílias são dilaceradas, filhos sem pais, pais sem filhos e se perdem não só na vida das pessoas mas na memória. Daqui a pouco viram apenas dados e estatísticas e suas mortes continuam sendo em vão.
E o que fazem as pessoas responsáveis pela ordem pública, pelo cumprimento da lei, obrigando a pagar pelos crimes e que os criminosos não fiquem impunes? Aumentam o seguro de vida dos policiais de SP. Porque, subentendem-se que já que a coisa saiu do controle deles e como eles não podem proteger e evitar as mortes mesmo, ao menos que as famílias das vítimas não fiquem desamparadas financeiramente. Bravíssimo, parabéns! É assim que se resolve as coisas mesmo, da maneira mais fácil! E aumenta-se a impunidade, aumenta-se a certeza de que aqui é o país do oba oba e da corrupção, onde tudo consegue-se comprar, até a honra e o silêncio das pessoas. Dinheiro compra tudo, menos a revolta. E é essa revolta, independente de ser pelo motivo certo ou errado, é que tem motivado as pessoas a tomarem as decisões mais fácil: matar! Não gosto, mato! Tô de caso cheio, mato! Quero me divertir, mato. Estou sendo inconsequente, mato! Quero fazer justiça, mato! Quero vingança, mato! Quero entrar para a história, mato! Afinal, nossa história está cheia de heróis assassinos e que nos inspiram, desde crianças, que matar resolve as coisas. Desenhos tem homens bons que matam homens maus. O cinema sempre cultuou os embates entre mocinho e bandido, os tiroteios saíram dos filmes de faroeste e vieram para as cidade grandes. Nas nossas guerras de verdade, mata-se com a desculpa de ser por uma razão, justifica-se que há sempre um mal menor para um em maior. Mate-se para comer, mata-se para se proteger, mate-se para sobreviver. Desde os primórdios que a luta é justificativa e delas, muito sangue foi derramado. Em cima desse mesmo sangue outras civilizações, pessoas e ideais foram construídos, mas sempre com o mesmo fundamento de pensamento: matar é a saída mais fácil! Até para os suicidas, se matar é a mais fácil que enfrentar seus medos e suas derrotas, suas fraquezas e suas frustrações. São covardes, concordo! Mas do covarde ou corajoso, a morte está sempre embutida no pensamento das pessoas como o meio mais fácil de acabar com um problema.
Quem já não pensou em se matar ou querer matar alguém? Eu já pensei várias vezes, confesso. Óbvio que eu nunca chegaria as vias de fato nem de um e nem de outro, não em sã consciência. Pode ser que em legítima defesa algum dia. Fato é que esse pensamento passou pela minha cabeça diversas vezes! Quem nunca quis fazer justiça com as próprias mãos? Quem nunca quis acabar com alguém se esse alguém acabou com você? Quem nunca num acesso de raiva teve vontade de fazer um chacina? Quem nunca de TPM teve vontade de matar o primeiro que aparecesse na sua frente? Mas daí, sair do pensamento para a ação é um grande passo, igual a frase de Neil Armstrong: “Este é um pequeno passo para um homem, mas um enorme salto para a humanidade”. É mais ou menos nessa proporção. Além do fato de que vivemos em uma cidade regida por leis. E que somos um povo criado dentro de certos padrões de valores, moral e ética. Onde certas condutas são questionáveis. Crescemos sabendo o limite do certo e do errado, na mesma medida do sim e do não. Todos nós sabemos. Algumas pessoas são desvirtuadas e acabam saindo desses padrões de conduta. Ou elas tem algum tipo de problema psicológico ou é mau caratismo mesmo. Porque hoje em dia, na minha concepção, não cola mais a tal questão da má influência. Isso é desculpa para quem não quer enxergar a verdade: que alguém escolheu seguir pelos caminhos tortos em vez dos alinhados como a maioria. A razão disso, aí são 1000 variáveis, mas que cada um sabe o caminho que está trilhando e que vai colher exatamente aquilo que plantou, isso sabe. Acontece que tudo na vida são escolhas. Desde quem entra no mundo do crime, do tráfico, sujeito a morrer, como aquele que entra para a polícia com o intuito de defender. E voltando lá para o início da discussão, quem escolha não fazer nada, como os nossos governantes, age pior do que aquele que escolhe fazer o errado, mas escolhe alguma coisa.
Mas isso é culpa da nossa educação, da nossa sociedade. Facilita-se tudo para minimizar a culpa. Bebês com menos de 1 aninho já sabe fazer essa chantagem com os pais. Se não dão o que eles querem choram, se dão, se calam. E os pais, achando que estão no controle comprando os filhos com brinquedos, doces, saídas e outras coisinhas mais, na verdade estão sendo manipulados. Talvez por se sentirem culpados por não estar grande parte do tempo com seus pequenos, pretendem compensar a falta dando-lhes agrado ou satisfazendo suas vontades. É o meio mais fácil. Na escola também. geralmente o filho único age de maneira "mimada" com a professora querendo apenas a atenção dela, e se esta não estiver alerta e com pulso firme, vai cair direitinho. E assim, crescemos com esse pensamento e vamos levando vida a fora essa concepção de que se forçamos um pouco a barra as pessoas irão ceder, simplesmente porque é mais fácil. Quantas conversas foram evitadas porque é mais fácil? Ou tentar fazer a pessoa entender ou tentar se expressar. Por isso, não se conversa. Quantas repreensões foram evitadas por ser mais fácil colocar o filho para ver tv do que dizer-lhe não e ouvi-lo chorando durante horas? Quantas vezes desistimos de algo na vida porque é mais fácil abrir mão do que correr atrás e lutar? Abrir mão também não é fácil. Tem que saber lidar com a perda. Mas é mais fácil entregar-se a depressão do que visualizar a situação e analisar o que deu errado, analisar a si próprio. É mais fácil não tocar nas feridas e deixar pra lá, fingindo que elas não existem. Sempre, sempre optamos pelo mais fácil. Assim como num emprego, É mais fácil continuar com a insatisfação do que remexer a vida toda e encontrar o que melhor se adequa a você. É mais fácil se contentar do que arriscar. No relacionamento também é assim. É mais fácil continuar junto não gostando do que ser honesto e ficar sozinho. É mais fácil aturar pessoas e atos que não gostaria de tolerar do que ir em busca de alguém que de fato te complete. E como então, agora, podemos cobrar que as pessoas tenham ações condizentes com a situação e não apenas falar e fazer o mais fácil? E ainda tem aquela máxima né? "É mais fácil falar do que fazer"! Então, meus amores, diante disso...
"As situações da vida que exigem soluções radicais precisam receber atenção total, pois desistir de mudar é mais fácil do que decidir mudar. Temos uma capacidade infinita de adaptação e, por isso, podemos nos conformar facilmente com situações muito desagradáveis. É bastante comum, depois de trocarmos de emprego, de encerrarmos um relacionamento, enfim, de alterarmos alguma situação de sofrimento do passado, olharmos para trás e nos surpreendermos com a intensidade com que nos sujeitamos a certas circunstâncias insatisfatórias. A capacidade de adaptação pode levar a pessoa a se conformar com a vida insatisfatória que tem e desistir de mudar assim que os primeiros obstáculos surgirem" - Roberto Shinyashiki é psiquiatra, palestrante e autor "Tudo ou Nada".
Pra mim não é mais fácil eu me acostumar, me habituar com a deturpação, Mas uma andorinha só não faz verão, Justamente porque é mais fácil reclamar da situação do alto sua zona de conforto do que travar uma batalha de céus e mares para uma mudança que não sabemos como vai ser. É mais fácil ficar com o ruim conhecido do que com o suposto bom desconhecido. Olhando em volta, não foi só o governo de SP que tomou a decisão mais fácil, assim como os assassinos. Eles apenas recriaram o que vem sendo ensinados há muito tempo. Que é mais fácil se acostumar a viver no caos, na bagunça, na zona do que organizar cada coisa e cada pessoa em seu lugar, fazer uma limpa, uma faxina. Afinal de contas, quem nunca deixou pra amanhã a limpeza por preguiça ou jogou a sujeira pra debaixo do tapete porque não seria vista, logo não seria de fato!
Pensem nisso, se não for difícil demais...
"É mais fácil perdoar nossos inimigos do que nossos amigos" - William Blake
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