Sexta-feira 07/12, nasceu minha afilhada. Filha do meu primo o qual considero como um irmão de criação. Fui convocada, na verdade intimada pela minha cunhada a acompanhá-la na cirurgia e filmar e fotografar o grande acontecimento. Bem verdade porque eu seria uma das únicas da família a me manter firme diante de cortes, sangue e demais atividades médicas de um parto. Confesso que não sabia ao certo qual seria minha reação, mas já que acreditavam em mim, me senti honrada com o convite e fui!
Quando chegamos ao hospital, nos encaminharam para o quarto. Ficamos lá ainda aguardando sermos chamadas. Nesse meio tempo, vimos televisão, conversamos, guardamos as malas, conversamos, falamos sobre o calor, com a gestante ao lado, cada uma relaxou em seu lugar (ela na cama e eu na poltrona) e tentamos nos distrair. Ela obviamente estava muito ansiosa. Eu, já estava ficando contagiada pela ansiedade dela. A minha ansiedade era mais para curiosidade, de ver a minha afilhada, de tê-la no mundo. Mas, para uma mãe, as sensações são beeemmmm diferentes!
Quando chamaram pelo nome dela, nitidamente sua expressão transitava entre a tensão - medo e a ansiedade - felicidade! Acho que nem ela sabia exatamente o que estava sentindo. Bem, ela subiu na maca e lá fomos só seguindo para a sala de parto. Engraçado como nessas horas de apreensão, 1 min vira 1h. Do 4/ andar para o 2 parecia uma diferença de 20 andares. Nessa hora, ficamos em silêncio. A enfermeira parou a maca na porta da sala e aguardou a entrada. Uma outra enfermeira veio até mim e perguntou: "você é a acompanhante?". Respondi que sim e então, ela fez um gesto com a mão para que eu a seguisse por um caminho diferente. Olhei fixamente para a Vanessa que nessa hora acho que tinha entrado num estado de transe profundo. Joguei um beijinho para ela. Passei a mãos pelos seus pés e desejei boa sorte. Segui pelo corredor com a sensação de que deveria ter sido menos contida. Sou sensível e me emociono fácil com algumas situações. Mas não costumo reagir muito melosa. Sempre acho no final que passei a impressão de que fui seca e fria demais, diferente do que estava sentindo. Mas, não sei porque em determinados momentos demonstrar o que sinto de acordo com o que de fato sinto parece ser algo muito difícil! Consigo explodir facilmente e extravasar todas as minhas insatisfações. Mas, me parece que no sentimento de felicidade, sempre fico mais contida do que gostaria. E, nesse caso específico, fico me perguntando o que mais eu poderia falar que já não tenham falado de montão. Seria meio clichê, né? Mas enfim... ela sabia exatamente o tamanho da emoção para mim.
A enfermeira me conduziu a um banheiro, onde eu pude me trocar e ficar devidamente vestida para entrar na sala de operação. Em segundos me arrumei e fiquei aguardando virem me chamar conforme combinado. Nessa hora, um monte de coisas passaram na minha cabeça. pensamentos esses que confesso que não deveria ter pensado, mas que se tornaram inevitáveis, rs. Tratei de espantar o fantasma do "e se". me olhei no espelho toda pronta e me dei conta, só então, do tamanho da dimensão da importância desse momento.
Passou chegando mais perto, a porta range e se abre e a mesma moça que havia me deixado ali me chamava com o mesmo gesto de "siga-me". Fiquei pensando se ela seria muda... enfim... Descobri que não quando chegamos na sala e ela me explicou a partir de um determinado local determinado com uma fita eu não poderia ultrapassar. E que quando a criança nascesse, depois de limpa e examinada, a enfermeira me chamaria para fotografá-la com a mãe. A enfermeira me lembrou ainda de que eu ñ poderia tocar em mais nada que estivesse azul já que era um ambiente "estéril". Só via os pés da Vanessa, sua cintura pra cima era coberta por um pano azul! Ela estava consciente e conversava comigo o tempo todo. Toda a equipe era muito tranquila e me passava uma segurança enorme. Numa sala razoavelmente grande, estávamos em 5 pessoas (o médico, a instrumentadora cirúrgica, o anestesista, a pediatra e eu) tirando a Vanessa, lógico e a tal enfermeira que me levou que permaneceu num anexo à sala fazendo um monte de anotações. Todos conversavam como se estivesse tomando café. A prática era tão corriqueira que ficou evidente que não ficavam mais tão sérios - o que é diferente de não tratar com seriedade - num episódio como esse. O clima de descontração também ajudou a acalmar o coração da mamãe que deveria estar a mil. O médico, muito simpático, olhou pra mim e disse: "vamos começar?". E eu então, munida de meus pertences (máquinas) coloquei-me a postos. E começou. Nessa hora, desistir de tentar entender o que estava acontecendo e apenas assisti ao momento maravilhada, pensando que era único e que muitas pessoas davam o mundo para estar ali aonde eu estava num lugar especial, de confiança, de conforto.
Me preparei para demorar, para imprevistos, para qualquer coisa estranha ou que simplesmente eu não tinha conhecimento. Só não me preparei pra ser tão rápido! Em 3:35 Alice nasceu, exatamente. O tempo que durou o vídeo. Do corte a estourar a bolsa d'água não foram mais do que uns 2min. Os outros 1:35 foram destinados a tirar a Alice da barriga. depois que cortou, aspirou, limpou o médico falante me perguntou ainda em tom de brincadeira: "você tem algum tipo de aversão?". Responde que não. Ele então me perguntou se eu já tinha visto algum parto antes. Respondi também que não. Todos riram e ele me disse, se você cair depois me diz a sensação. Todos riram, inclusive eu. Mas, expliquei que estava mais curiosa do que outra coisa e nem me importando muito em olhar cortes e afins. Mas que isso não me causava problema algum. Então ele me disse: "aproveita para dar as boas vindas... se prepare por que aí vem ela." Depois dessa frases três gestos sucederam às suas palavras: 1) puxou a cabeça. 2) retirou a Alice por completo e 3) levantou a Alice como se fosse um porquinho, pelas pernas de cabeça para baixo! Ainda no ar, a pequena já começou a chorar e eu respirei aliviada. Sempre ouvira que quando o bebê nasce chorando está tudo bem. E de acordo com os gritos da Alice, estava bem demais, até, rs. Depois dali, a pediatra levou-a para uma mesinha ao lado e começou a fazer as primeiras limpezas dela. Nesse momento, senti escorrer uma lágrima. Era o momento mais incrível que alguém pode presenciar: o nascimento de alguém. Presenciar sua chegada ao mundo. É mágico! Alice continuava berrando e a pediatra aspirando, limpando, e tal. Alguns minutos depois ela me chamou já com a Alice embrulhada nuns paninhos azuis parecendo um pacotinho e colocou encostado na Vanessa, que a essa hora se debulhava. Ela só consegui me dizer: "olha as bochechinhas...". Dai, tirei as tradicionais fotos. Fiz um afago na cabeça da Vanessa, já que não podia abraçá-la e lhe dei um beijinho seguido de "parabéns mamãe!". A pediatra retirou a Alice e a Vanessa pediu: "deixa a madrinha segurar!". Nessa hora desabei! Ela abriu os olhos e me olhou exatamente quando eu toquei nela. Olhos pretos, pequenos e firmes. Abriu a boca num bocejo e ensaiou um chorinho. Eu ria toda boba. A pediatra então disse, "vamos titia, que a nossa princesinha ainda tem cuidados a seguir". E levou a Alice. Não sabia se ficava com a Vanessa, se seguia com a Alice. resolvi optar pela segunda já que queria me certificar de que realmente a minha pequena estava bem, e a Vanessa, pude concluir que sim. Quando saí da sala ela já estava quase toda "fechada" como se referia o médico. Num total de mais uns 3min. Fora alguns perdidos aqui e ali. Ou seja uns 10min ao total do início ao fim do parto.
Voltei a salinha onde tinha trocado de roupa para colocar a minha novamente e segui para o berçário. No caminho, depois de voltar à Terra, me lembrei de avisar ao Fabio e as irmãs dela que aguardavam na recepção! Fui até lá, já perdida nos corredores imensos. Quando abri a porta todos da sala levantaram. Não, não é uma generalização. TODOS MESMO! Inclusive aqueles que não eram meus parentes. Todos à espera daquela porta se abrir e vir uma notícia, sendo assim, cada vez que ela se abrir todos achavam que eram dos seus. Quando me viram correram todos para mim e eu só conseguia sorrir e repetir "nasceu!". dai corremos todos para o berçário que ainda se encontrava fechado. Ali, fui contar os detalhes e dizer as minhas primeiras impressões da Alice: saudável, gordinha, bochechuda, cabeluda, chorona. Acho que foi nessa ordem! Logo depois, as persianas se abriram e lá estava ela, de olhos abertos, agitando braços e pernas eufórica, já sem chorar, apenas emitindo alguns gemidos. Ficamos ali, todos babando, fotografando, falando com ela como se ela pudesse nos ouvir e de maneiras retardadas rs. Depois, voltei ao quarto para ver a Vanessa, me despedir e mostrar a ela uma foto da Alice que fui intimada de tirar, rs. Dei uma última passada no berçário e fui pra casa.
No mesmo dia à noite, agradeci por ela ter vindo com saúde e por ter a certeza que vai animar e unir ainda mais a família. E pensei: na lista de coisas que temos que fazer antes de morrer, adicionaria assistir a um parto. É uma sensação que desmonta até os mais durões, enche de alegria os corações, traz esperança e nos faz sentir que somos especiais por presenciar aquilo. Único, divino! O ser humano é dotado por natureza de uma capacidade de entrega de amor imenso, só é preciso saber instigar e como e com quem usar!
# boa noite e uma excelente semaninha!
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