23 de maio de 2013

Somos mesmo tão necessários assim?


Posso dizer que sou uma pessoa que me magoo fácil. Eu me magoo fácil do mesmo jeito que fico feliz com pequenas coisas. Ou seja, em outras palavras, pouca coisa é capaz de me agradar e o contrário também. Antigamente, talvez pela falta de maturidade e de experiências, muitas vezes me calava diante de algo que me magoava. Por puro medo. Medo de que, ao discordar ou falar o que eu pensava e sentia, as pessoas não gostassem mais de mim, ou se decepcionassem e me largassem de mão. Sempre tive muito medo da rejeição também. Então, algumas vezes, ou muitas vezes, para não criar um situação chata ou discórdia  eu fingia que deixava de mão, que não me incomodava, que não me machucava. Não era o tempo todo que eu agia assim também. Não era tão introspectiva, tão medrosa e tão indiferente. Só com casos que eu percebia que poderiam ser um divisor de águas. Mas o simples fato de parecer ser não quer dizer que é. Portanto, mesmo aparentando não ligar, por dentro eu ligava e sim, muito. E, como para adolescente e jovem fazer parte de um grupo, ter inclusão e aceitação é quase tudo, eu agia de maneira que sabia que me colocaria numa zona de conforto para que eu sempre me desse bem. 

Confesso que por um certo tempo isso deu certo. Só, que chegou uma hora que eu não conseguia mais guardar mágoas, raiva, insatisfação, chateação, tristeza e decepção e não expor, não colocar para fora. Com o termino de um relacionamento difícil e alguns períodos críticos em minha vida que coincidiram, houve um ebulição sentimental, de modo que, fiquei depressiva e com uma terrível enxaqueca que me gerou crises de dias de dor. Orientada por um profissional, fui indicada a procurar um terapeuta, já que muitas vezes a causa da cefaleia aguda crônica como é conhecida no meio médico, a tradicional enxaqueca para nós, pode ser causada por fundos emocionais. Batata! A minha era. Não só emocional, mas boa parte dela. Definida como enxaqueca tensional, tudo que o meu corpo entendia como stress reagia sob a forma da dor de cabeça. Uma dor aguda como de dente, de garganta, fome, sono, cansaço e chateação emocional poderiam detonar as crises. Controlar o lado físico foi mais ou menos fácil. Então, parti para "dar um jeito" no lado emocional e ver se conseguia serenar as coisas aqui dentro de mim. 

Na terapia foi trabalhada muito a questão da valorização do eu. Mas não a supervalorização. O amor próprio, reconhecer as qualidades, lidar com a autoestima, reacender os pontos fortes, resgatar o que ficou pelo caminho e me fazer perceber que apesar dos defeitos e dos erros, que todos mundo tem, não deveria ter medo de me aceitar e de me assumir, já que todos a minha volta reconheciam prontamente ponto a ponto meu e, mesmo assim, não deixaram de gostar mais ou menos de mim. Com essa percepção do meu valor na vida e para as pessoas, foi ficando mais fácil ter confiança para me firmar, ou melhor, me reafirmar como pessoa, como mulher, como profissional, como filha, como amiga. Caso eu tivesse falado num tom baixo e alguém não tivesse entendido o recado, eu falava um pouco mais alto e daí por diante. Passei a não ter medo de me expor. E com a exposição, também passei a não ter medo das críticas negativas que pudessem vir a surgir. Com o tempo, a coragem foi crescendo, eu fui me conhecendo melhor e me permitindo cada vez mais, ser mais eu, como dizem por aí!

Só que nesse processo, ganha-se muita coisa como também perde-se outras tantas. Ao mesmo tempo em que me despi de certos receios e medos, acho que fiquei muito dura e intolerante para outras coisas. Hoje não consigo simplesmente apenas guardar o que sinto. Tenho que colocar para fora. Nem sempre as palavras saem da melhor maneira possível e os argumentos como ensaiado. Na hora da tormenta, eu simplesmente cuspo as coisas, sem medir esforços muitas vezes. Sei que não pode ser nem 8 e nem 8.000. Estou ainda no processo de dosar o que eu falo, agora que eu já aprendi a falar. E recentemente eu me vi nessa situação. Falar é fácil, mas o como falar é que as vezes "pega". Mas como tudo é um processo, vou aprendendo.

Relatei isso tudo para chegar ao ponto crucial: fato que eu não consigo mais fingir que não liga e não demonstrar isso em forma de palavras. Recentemente eu me vi num cenário que me doeu um pouco! E eu simplesmente não sabia como lidar. Não sabia se falava que me sentia chateada por achar ter sido excluída de uma coisa importante, ou se me mantinha em silêncio, onde muitas vezes é uma bênção estar nessa zona. Ah, também esqueci de dizer que junto com todo esse aprendizado, eu aprendi a selecionar com o que e porque eu vou me chatear, me importar. Que tipos de batalhas valem a pena serem travadas. Aprendi na pele que tem coisas que simplesmente não valem a pena. Não é nem questão de fugir de falar e se expor, simplesmente, por mais que fale ou que faça, o cenário não mudará. dei muita cabeçada falando, gritando, discutindo, argumentando, tentando mostrar em vão. Ou as pessoas não dão o braço a torcer, ou não querem ver ou não abrem mão da sua razão. E aí, você se indispôs à toa! Então, em certos casos, calar-se é uma grande sabedoria. Só que mesmo calada, dói. Mesmo não comentando, machuca. Me incomoda muitas vezes parecer que a coisa toda aconteceu pelas minhas costas e eu fui a última a saber, não só isso como também não fui incluída. É uma sensação de rejeição, parece que as pessoas não querem que você faça parte de algo e aí, essa sensação que eu conheço muito bem traz à tona alguns sentimentos que eu achava que já tinha superado.

Não tô me fazendo de coitadinha e injustiçada, de fato eu fico magoada com certas atitudes de quem e de onde eu espero o mínimo de consideração. Aonde eu acho que há uma grande ligação suficientemente forte para eu fazer parte das coisas e de repente, me vejo colocada de lado. Posso "neurotizar", acabei de inventar essa palavra rs, pode não ser bem assim e nem a intenção das pessoas, mas uma vez que eu me sinto meio que "traída" e eu nem sei se é bem essa palavra que emprega o que sinto, não consigo me sentir diferente. Automaticamente, começo a buscar em mim razões pelas quais fui mantida de lado. Começo a questionar minhas capacidades e competências.

Fico mais chateada ainda quando pessoas que são de minha confiança, assim as julgo, onde sou literalmente um livro aberto para elas não agem da mesma forma comigo. Sei que pelo tempo já deveria ter aprendido a não esperar nada em troca de ninguém, muito menos que ajam na mesma proporção do que eu ajo com elas e que não façam comigo o que não gostaria que fizessem com elas. Mas enfim, isso não acontece. E não acontece nem 1, 2 ou 3 vezes. Acontece sempre. Chato essa coisa de decepção corriqueira! Mas chato ainda é não poder fazer nada além de não gostar e não se conformar. Posso expor meus sentimentos, mas isso não fará com que as pessoas mudem as atitudes delas simplesmente porque me incomodam e me convém.

Chega a um ponto que nem sei dizer o que sinto e porque me sinto assim. Eu só sinto e dói! E fico me perguntando quando vai parar de doer. Quando eu parar de me importar? Pode ser! Juro que muitas vezes tento apenas seguir a minha vidinha tentando não ligar pra mais nada e nem ninguém, sem dar satisfação, sem esperar satisfação, viver pra mim, não esperar nada de ninguém nem incluir ninguém. Mas, dali a pouco, me pego fazendo o oposto disso e esperando que os outros façam o mesmo por mim. Então, será que de fato eu aprendi alguma coisa? Será que pelo fato de eu gostar das pessoas e tê-las como importantes isso me prende nesses sentimentos chatos? Sei lá!

Fico tentando me convencer muitas vezes de que não é pra tanto drama e que estou fazendo tempestade em copo d'água. Mas fico pensando: e se eu agisse como agem comigo, como as pessoas se sentiriam, qual seria a reação delas, o que pensariam? Pra ver se há alguma coerência no que eu sinto, no que eu acho como deveria ser. E acho que o normal seria ligar, mas não sei porque, me vem a cabeça que elas não estariam nem aí para o que eu faço ou deixo de fazer, Cada um estaria tão focado em sua vida, seus projetos, seus problemas que acho que eu e minhas tudo (que acho, que faço, que sinto, que penso) passaríamos despercebidos. E eu lamento. Sinceramente. Não só me sentir assim por ver que chegou nesse ponto de indiferença, tanto fez como tanto faz.

Não questiono que gostem, não questiono que sou importante e que se importam comigo. Questiono até que ponto. Questiono o quanto. Talvez, eu questione o inquestionável. Talvez não há razões para as pessoas agirem do jeito que agem. Nem tudo tem uma lógica. Isso eu aprendi bem na pele. E a razão, cada um tem a sua e é muito singular, muito particular. Aliás, quanto mais eu vivo, menos eu sei! Quanto mais eu acho que entendo das coisas, mais eu percebo que não entendo nada. Ou sou uma tola! A sensação é essa mesmo: de boba. Pois faço de tudo pensando e me importando com todos e quando chega a minha vez de ter isso em troca ninguém nem tchum! Nem aí pra hora do Brasil, não é assim que dizem? E no meu acesso de raiva e inconformismo, juro que vou agir assim também dali por diante. Mas cadê que levo isso à sério? O tempo passa, a cabeça e o coração esfriam e se assentam, consigo passar por cima repetindo pra mim mesma que fiz estardalhaço até acontecer algo que eu me sinta assim novamente.

Fico me questionando a minha importância então para os demais. Se realmente, de fato se importassem comigo, acho que se importariam com o fato de como eu me sinto com as atitudes deles. Me sinto meio que descartável, sendo incluída e excluída de acordo com a vontade e conveniência dos outros. tem gente que mostra claramente, muitas vezes que não fazem a mínima questão. Que outras coisas e outras pessoas são mais importantes. tento minimizar esse caos aqui dentro, mas não consigo. Não sei se estou certa ou errada por pensar e me sentir assim. Só sei que além de ser uma situação chata, dói!

Que isso passe logo e eu aprenda a resolver de uma vez por todas a não ligar mais para todo o sempre ou chutar o balde, literalmente de muita coisa e muita gente e ir viver a minha vida que deve ser o melhor que eu faço! Quero me libertar desse baixo-astral de achar que sou um zero a esquerda. Nunca quis tanto fazer de conta e acreditar nisso, como uma mentira que contada muitas vezes acaba virando verdade. Quem sabe um dia eu aprenda...

Um comentário:

Cris Medeiros disse...

Acho que meu jeito de ser passou por duas fases, a primeira lá no início da minha vida, em que me magoava com tudo, tudo me deixava deprimida, tombada, arrasada, e qualquer rejeição era o fim do mundo. Eu sofria igual uma cadela de rua.

Depois eu fui me fortalecendo por defesa mesmo, e fui esfriando meus sentimentos a ponto de hoje em dia esse esfriamento até me preocupar, porque cada vez menos as coisas me atingem e quando atingem eu rapidamente deleto. Claro que sou um ser humano e em algum momento algo acontece e me joga no chão, mas não fico muito tempo chorando e sofrendo, tento logo congelar aquilo e seguir em frente.

Mas confesso que as vezes me cansa ser assim, porque o lado ruim é que também perco algumas coisas boas porque meus sentimentos estão frios.

Mas são escolhas que fazemos e qualquer escolha envolve perdas e ganhos.

Beijocas