30 de julho de 2013

Eu fui tocada pela JMJ


Sim, fui tocada. Um sentimento totalmente desconhecido e inesperado chegou até mim. Senti orgulho de algo que nem sequer faço parte! Não, não fui convertida por algum dos milhões de peregrinos que fizeram do Rio sua casa na última semana. Já sou católica. Não praticante, confesso! Muito pouco ou quase nunca vou a igreja, salvo em datas especiais e comemorativas. Ou quando sinto uma necessidade e vontade muito grande. Tenho uma crença muito particular de religião e de fé. Mas, impossível resistir a essa coletividade de amor, fé, esperança, solidariedade e um monte de bons sentimentos, formando uma só voz! Foi uma semana em que o Rio parou de vez! Ou quase. E não foi por protestos inconformistas, apesar de terem tido alguns. Parou porque simplesmente quis parar. Parar para admirar um evento de tamanha proporção como a Jornada Mundial da Juventude invadir não só as areias de Copacabana, onde se concentraram a maior parte dos eventos, mas a cidade que parou para se deixar invadir por uma onda imensa de bons sentimentos desprovidos de interesses como há muito tempo não víamos, tão de perto. De tão longe a coisa estava de nós que mais parecia utopia. Impossível o ser humano se deixar levar por uma coletividade e não se importar em priorizar a sua individualidade, ainda mais nos dias de hoje. Pois é, então um milagre operou sobre nós. Nos despimos de egoísmo, egocentrismo, importância e prioridade. Nos rendemos a um sorriso que mais parecia calmante, à palavras sábias e de bom senso proferida com a melhor da intenções e desprovidas de interesses, nos rendemos a abraçar uma causa, sem nem mesmo questionar se era a nossa religião: fazer o bem, fazer o melhor!

Tudo bem, tenho que dizer que esse Papa Francisco, em especial, tornou isso possível. Não só pela sua simpatia, sua pitada de bom humor, mas pela humilde e simples figura que é. Ele cumpriu uma agenda extensiva, foi pego de surpresa por alguns imprevistos, o tempo não colaborava muito e o momento no país não era um dos mais propícios para receber um grande evento, ainda mais de religião. Mas ele passou por tudo isso sempre de bem com a vida, com aquele sorriso que trazia tanta serenidade. Via tudo com tal naturalidade como se passasse por aquilo diariamente. Se despiu de medos,pudores e frescuras e como ele mesmo disse, agiu como uma mãe, que acolhe, que abraça, que transmite amor aos seus filhos, para com todos, peregrinos ou não. Além de mostrar que cargo e posição não ditam quem a pessoa é. Ele veio simples, sem ouro, nem prata, nem bronze, nem frescuras, nem "mais mais", e não foi para forçar agradar. Foi porque dessa forma, talvez, ele se sinta mais "gente" e não um mártir como é visto. E é preciso ser gente para entender gente e chegar na gente. Proferia palavras e pregava pensamentos que estamos cansados de ouvir, mais ainda quem costuma frequentar a igreja. Falava sobre valores e crenças. Falava em como podemos todos contribuir a nossa forma para um mundo melhor. Não, ele não dava sermão, ele não ditava regras, ele não impunha ideologia. Ele apenas falava, e falava, e falava e milhões de pessoas, fizeram silêncio, um silêncio tão profundo onde até uma folha de papel no areia podia fazer barulho. Foi um silêncio espontâneo para absorver cada palavra, cada frase, cada pensamento dentro do coração com tal intensidade. Ele chegou mais longe do que muitos padres em muitas igrejas, ou do que muitos profetas em muitas sociedades. Ele conseguiu alcançar o ponto certo, na dose certa, na hora certa, do modo certo. Eu fiquei fascinada, abobada, apaixonada por esse senhor com seus cabelos brancos mais uma sabedoria absurda. Eu poderia roubar o Papa pra mim, rs. Ele é tão fofo, tão simpático, tão carismático, tão tranquilo, tão sorridente, tão amável, tão sábio. Mais ainda, ele consegue ver e respeitar cada um como cada um é. Consegue aceitar as diferenças. Consegue admitir erros. Consegue ver que somos seres humanos e não doutrinados para sermos perfeitos. Ele faz as pessoas terem esperanças. Porque ele acredita na humanidade!


Tenho medo de usar as palavras erradas e não conseguir assim, traduzir o que foi o evento e sua suma importância para todos. O que ele provocou. O que ele deixou. E o, principalmente, o que ele levou. Foi algo tão único que eu, ao menos, não tenho com o que comparar. Eu nunca vivenciei uma experiência assim. Já fui sim há vários eventos de grande porte. Mas nenhum que conseguisse transmitir essa mensagem e provocar esse comportamento nas pessoas. Só o fato de ter por volta de 3 milhões de pessoas juntas num só lugar e não ter sido registrado nenhum incidente, ou briga, ou nada do gênero, foi surpreendente. Aconteceu pela comoção do evento, porque as pessoas foram desarmadas de sua capa de proteção ou por que de fato, não importava eu, você e sim o nós? Isso, nunca vamos saber! E olha que motivos para perder as estribeiras não faltou. a galera enfrentou frio e chuva na cidade da praia e do sol 365 dias por ano. Muita gente ficou perdidinha na cidade sem conseguir se localizar direito. Faltou transporte público suficiente para comportar a volta tranquila para casa após os eventos. Deram de cara com manifestações pelas ruas em que nada tinham a ver com eles e levaram numa boa. Pagaram os tubos por alimentação e estadia (quem ficou em hotéis e afins). Foram roubados, furtados, mas perderam seus bens e não o espírito participativo. Algumas programações foram mudadas em cima da hora. E isso em algum momento esmaeceu algum deles? Não! parece que todas as dificuldades incentivavam ainda mais. E quanto mais problemas existissem no caminho, mais eles contornavam com bom humor, tranquilidade e muita, mais muita satisfação. Isso, acho que era essa a palavra que estava faltando até agora: SATISFAÇÃO! Todos, independente das situações que se encontravam estavam satisfeitos e realizados por estarem aqui, diante dele. Então o resto... o que é o resto? Não é nada! Aliás, são  sim: degraus para fortalecer ainda mais a fé deles. 




Dias emocionantes, belas mensagens, lindas imagens. Não participei ativamente da JMJ. Mesmo assim impossível não ser tocada por uma áurea de paz, amor e solidariedade que emana do evento. As ruas eram só felicidade. Um mar de capas de chuvas coloridas tomava conta da orla carioca acostumada a ver jovens de biquínis. Até tive vontade de ir à praia tentar ver o Papa em uma de suas passagens para participar dos eventos realizados à beira mar. Mas depois, não sei porque, acabei desistindo. Mas acompanhei sempre que pude pela tv. Fiquei vislumbrada com a tamanha força que manava desses jovens. Incansáveis, agradecidos, felizes, realizados. E o evento durou uma semana.  Mudou a nossa vida para sempre. Porque fomos vislumbrados com essa presença gloriosa e graciosa do Papa, porque aprendemos a ser mais tolerantes e solidários e compreensivos e prestativos e acolhedores e menos preconceituosos e uma série de coisas que não tem fim na lista. Tomamos um tapa com luvas de pelica na nossa soberba. Não tem aquela velha frase: carioca se acha... Pois é, mas nesse quesito aqui, enfiamos a viola no saco a prendemos muito em matéria de disposição. 




A jornada acabou e todas as cerimônias foram lindas e emocionantes e eu me sensibilizei em diversos momentos. Me senti tocada com as palavras e a força de esperança de um olhar seguido de um sorriso sincero. Não era só Francisco que era assim. Os Josés, Marias, Joãos e todos que dá água dele bebiam. Faz um dia que o Papa deixou o Brasil rumo ao Vaticano e eu sinto uma sensação de vazio. Peregrinos - alguns - ainda estão na cidade, mas a grande maioria já foi. A sensação de preenchimento passou. Copacabana continua gelada de manhã, já está sem grande parte do calor humano que a aquecia. As primeiras cores do dia ainda são lindas, mas parecem não ter mais o mesmo brilho espetacular. Já não se escuta mais aquela mistura de idiomas nas ruas. Já não se tem grupos e mais grupos de capas coloridas amontados tentando se localizar. Já não se tem pessoas sem medo, de se expor ao ridículo, de serem criticadas, de lutarem por uma causa, de serem melhores e de merecem algo muito maior. Já não existe mais a áurea de paz embora os dias e as noites fossem pura movimentação. Já não existe mais o encantamento e o deslumbramento por estar fazendo parte de um todo com um significado enorme. Já não existe mais aquele sentimento de sermos um só, embora de mundos completamente diferentes. Copacabana voltou a ser apenas, Copacabana. Onde o trânsito flui incansavelmente, onde a correria por mais tempo atrás de importâncias particulares é a prioridade. Voltou a ser um mar de bolhas singulares que se esbarram, que se veem, que se escutam, mas não se misturam. O Papa e a JMJ mexeram com todos, independente de religião. Foi uma sacudidela no egoísmo, nas prioridades, nas vidas mundanas alheias. Nunca mais, nenhum de nós será o mesmo. Mesmo que ninguém queira reconhecer isso. Mesmo que muita coisa passe a existir e a fazer sentido apenas no íntimo de cada um.




"Cuidemos do nosso coração porque é de lá que sai o que é bom e ruim. 
O que constrói e o que destrói!"

 Papa Francisco





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