Recebi esse texto nesta manhã, pós dia frio, pós dia chuvoso, pós feriado em que tive que vir trabalhar e deixei a casa por conta do meu marido. Ele, espontaneamente, por ser um 'parceirão', me estende a mão em toda e qualquer ocasião, até mesmo para lavar, limpar, passar e cozinhar, caso seja necessário. Piadista como ele só, apesar de sempre ter feito isso tudo desde que começamos a morar juntos, resolveu postar isso no facebook como uma forma de demonstrar carinho e cuidado à mim e para dizer que ele não vê problemas em dividir ou assumir as tarefas domésticas. Ou, inverter os papéis na sociedade quando necessário: eu ir à luta, trabalhar e ganhar nosso pão de cada dia e ele, cuidar da casa, da organização e da resolução de diversos problemas que por conta de estar presa no trabalho não posso resolver. Choveu comentários mil na postagem. Na grande maioria mulheres, da família ou amigas, elogiando a atitude dele de não só me ajudar, mas por fazer isso de livre e espontânea vontade. Por não se sentir envergonhado e diminuído com isso e ainda por sentir um certo prazer em poder estar contribuindo para me ajudar, mesmo que seja da forma 'Maria' de ser.
Eu, como sempre tive essa ajuda e esse apoio de livre e espontânea vontade, sem ele reclamar, sem ele se sentir menosprezado, sem ele me cobrar ou impor quais seriam as minhas obrigações, sinceramente estranhei que tantas mulheres se sentissem honradas em receber esses gestos de seus esposos, namorados, namoridos, companheiros, enfim... Realmente, diante da modernidade do mundo, na luta por igualdade de papéis na sociedade, pela reafirmação da mulher como esposa, mãe e profissional, por algumas mesmo que pequenas conquistas de espaço e reconhecimento até aqui achei que muito mais homens estariam auxiliando suas mulheres nesta batalha diária de manter casa, educar filhos, construir o casamento e paralelamente uma carreira, uma independência, uma vida social, uma liberdade de escolha e de ações. Eu realmente não me dei conta de que existe muito mais homens machistas e preconceituosos do que eu imaginava.
Sim, porque não se é machista ou preconceituoso somente nas palavras ou nas atitudes mais enérgicas ao tolir a esposa de um crescimento pessoal, profissional e social. São nos pequenos gestos como cobrar que a casa esteja sempre limpa e arrumada sendo que a esposa trabalhou o dia inteiro e o marido ao chegar em casa senta com sua cerveja na frente da tv e vai ver seu futebol e nem se importa se ela está morta e ainda tem uma pilha de coisas à fazer. É quando se tem filhos e se cobra que eles estão chorando, sujos ou aprontando e o marido vira e fala para o(a) filho(a) "vai lá na sua mãe" ou então fala para esposa "seu filho(a) tá assim ou assado". O filho é dos dois, oras! E cobrar que a esposa esteja impecável de linda, de bom humor, à sua espera pronta para satisfazê-lo em todas as suas vontades e necessidades sem se importar se ela está bem física ou emocionalmente e caso não esteja, se ele pode colaborar para ajudar. É quem faz brotar no coração e na cabeça da esposa culpa a mais, além daquelas que naturalmente já temos quando muitas vezes somos obrigadas a escolher entre uma reunião de negócios, uma promoção do trabalho, uma festinha na escola do filho, um jantar romântico com o maridos, as férias com a família, um tempo pra si. É simplesmente não entender e não ver quem está na sua frente! Isso é mais que machismo e preconceito, é uma falta de respeito. Respeito para com aquela pessoa que você jurou amar e respeitar, cuidar e ajudar, dividir as alegrias, as tristezas, o sucesso e o fracasso.
Claro que eu não tô0 generalizando. Conheço muitos homens que são uns "gentlemans" com suas digníssimas tanto em apoiá-las quanto as ajudarem nas tarefas domésticas e afins. Mas confesso que esperava mais do homem moderno, evoluído , mente aberta e pra frente. Aquele que grita nas ruas que apoia o crescimento e a igualdade da mulher, mas em casa não quer nada mais que apenas uma esposa, mãe dos filhos, uma cozinheira, lavadeira, faxineira... Há algum tempo, ainda na escola, uma professora me disse: os relacionamentos modernos futuros tendem a não durar, porque o homem não gosta de mulher que pensa. Fiquei com isso na cabeça até porque era uma coisa que pessoas mais velhas da minha família, de uma outra época, com uma outra educação e criação e visão do mundo pensavam, pois assim elas eram criadas para ser, mais um lindo adorno do que uma pessoa em si. Hoje em dia, depois de estudar, trabalhar, conhecer muita gente e me relacionar, cheguei a conclusão que o homem moderno não tem medo da mulher que pensa, porque hoje em dia, num mundo onde a informação flui e as pessoas são obrigadas a se posicionar sobre tudo e todos, quem não pensa é uma "porta" e ninguém quer uma "porta" do lado. O homem tem medo da mulher que sobressai. Aquela que tem luz própria, aquela que aparece até mesmo quando não quer se destacar. Aquela que tem aquele "Q" de encantamento, de mistério, de sutileza, de coragem, de sensibilidade, de força, de dengo, de superação.... Homem tem medo daquela mulher que consegue unir todas as coisas e ser, simplesmente. É disso que o homem tem medo, na minha opinião. Não é de ganhar menos, nem de fazer as tarefas de casa, nem de cuidar dos filhos e nem de reconhecer que o inevitável, que as mulheres estão ganhando espaço e daqui não vão sair. Homem tem medo, insegurança mesmo, de mulher que aparece! Pode ser medo de ser menos, de ser trocado, pode ser um medo bobo ou pode ser um medo preso há milhões de justificativas familiares, afetivas, fato é que esse é o medo!
E vejo também, hoje, no comportamento das mulheres, que muitas também tem medo de se mostrarem como são de fato, de batalharem por seu espaço, de liderarem cem mil homens, de conciliar jornadas quíntuplas de trabalho e acabar enrijecendo, endurecendo por dentro. Têm medo também de assim sendo, perder seus companheiros. Fato que pra mim, se a pessoa não puder ser cúmplice, parceira e apoiar e incentivar tá na cara que não é a pessoa ideal, a pessoa certa. Mas falar é sempre mais fácil do que para quem vive a história. Eu vejo em muitas queixas hoje nos relacionamentos que falta mais compreensão do que o romantismo, por exemplo. Antigamente era quase que uma regra home ser romântico e quando não era a queixa certamente era essa: falta de romantismo esfria a relação, acaba o relacionamento e etc. Hoje, as mulheres logicamente gostam de homens românticos, quem não gosta?! Mas o que elas querem mesmo é compreensão, apoio, incentivo. Alguém que diga: "vai amor, eu seguro as pontas aqui!". Sejam lá que pontas forem essas. E isso hoje em dia vem conquistando bem mais que chocolates, rosas, jantar à luz de velas e viagens românticas. Isso tudo é muito bom, não podemos negar. Mas é no dia a dia, quando o bicho pega que vemos na sutileza das palavras, o carinho num beijo, a compreensão num olhar, um afago de incentivo é que realmente nos sentimos amadas, protegidas, entendidas, acolhidas e perfeitas!
Bom, é isso.... leia o texto e reflitam por si só:
"Às vezes me flagro imaginando um homem hipotético que descreva assim a mulher dos seus sonhos:
“Ela tem que trabalhar e estudar muito, ter uma caixa de e-mails
sempre lotada. Os pés devem ter calos e bolhas porque ela anda muito com
sapatos de salto, pra lá e pra cá.
Ela deve ser independente e fazer o que ela bem entende com o próprio
salário: comprar uma bolsa cara, doar para um projeto social, fazer uma
viagem sozinha pelo leste europeu. Precisa dirigir bem e entender de
imposto de renda.
Cozinhar? Não precisa! Tem um certo charme em errar até no arroz. Não
precisa ser sarada, porque não dá tempo de fazer tudo o que ela faz e
malhar.
Mas acima de tudo: ela tem que ser segura de si e não querer depender de mim, nem de ninguém.”
Pois é. Ainda não ouvi esse discurso de nenhum homem. Nem mesmo parte
dele. Vai ver que é por isso que estou solteira aqui, na luta.
O fato é que eu venho pensando nisso. Na incrível dissonância entre a
criação que nós, meninas e jovens mulheres, recebemos e a expectativa
da maioria dos meninos, jovens homens, homens e velhos homens.
O que nossos pais esperam de nós? O que nós esperamos de nós? E o que eles esperam de nós?
Somos a geração que foi criada para ganhar o mundo. Incentivadas a
estudar, trabalhar, viajar e, acima de tudo, construir a nossa
independência. Os poucos bolos que fiz na vida nunca fizeram os olhos da
minha mãe brilhar como as provas com notas 10. Os dias em que me
arrumei de forma impecável para sair nunca estamparam no rosto do meu
pai um sorriso orgulhoso como o que ele deu quando entrei no mestrado.
Quando resolvi fazer um breve curso de noções de gastronomia meus pais
acharam bacana. Mas quando resolvi fazer um breve curso de língua e
civilização francesa na Sorbonne eles inflaram o peito como pombos.
Não tivemos aula de corte e costura. Não aprendemos a rechear um
lagarto. Não nos chamaram pra trocar fralda de um priminho. Não nos
explicaram a diferença entre alvejante e água sanitária. Exatamente como
aconteceu com os meninos da nossa geração.
Mas nos ensinaram esportes. Nos fizeram aprender inglês. Aprender a
dirigir. Aprender a construir um bom currículo. A trabalhar sem medo e a
investir nosso dinheiro. Exatamente como aconteceu com os meninos da
nossa geração.
Mas, escuta, alguém lembrou de avisar os tais meninos que nós
seríamos assim? Que nós disputaríamos as vagas de emprego com eles? Que
nós iríamos querer jantar fora, ao invés de preparar o jantar? Que nós
iríamos gostar de cerveja, whisky, futebol e UFC? Que a gente não ia ter
saco pra ficar dando muita satisfação? Que nós seríamos criadas para
encontrar a felicidade na liberdade e o pavor na submissão?
Aí, a gente, com nossa camisa social que amassou no fim do dia, nossa
bolsa pesada, celular apitando os 26 novos e-mails, amigas nos
esperando para jantar, carro sem lavar, 4 reuniões marcadas para amanhã,
se pergunta “que raio de cara vai me querer?”.
“Talvez se eu fosse mais delicada… Não falasse palavrão. Não tivesse
subordinados. Não dirigisse sozinha à noite sem medo. Talvez se eu
aparentasse fragilidade. Talvez se dissesse que não me importo em lavar
cuecas. Talvez…”
Mas não. Essas não somos nós. Nós queremos um companheiro, lado a
lado, de igual pra igual. Muitas de nós sonham com filhos. Mas não só
com eles. Nós queremos fazer um risoto. Mas vamos querer morrer se
ganharmos um liquidificador de aniversário. Nós queremos contar como foi
nosso dia. Mas não vamos admitir que alguém questione nossa rotina.
O fato é: quem foi educado para nos querer? Quem é seguro o bastante
para amar uma mulher que voa? Quem está disposto a nos fazer querer
pousar ao seu lado no fim do dia? Quem entende que deitar no seu peito é
nossa forma de pedir colo? E que às vezes nós vamos precisar do seu
colo e às vezes só vamos querer companhia pra um vinho? Que somos a
geração da parceria e não da dependência?
E não estou aqui, num discurso inflamado, culpando os homens. Não. A
culpa não é exatamente deles. É da sociedade como um todo. Da criação
equivocada. Da imagem que ainda é vendida da mulher. Dos pais que criam
filhas para o mundo, mas querem noras que vivam em função da família.
No fim das contas a gente não é nada do que o inconsciente coletivo
espera de uma mulher. E o melhor: nem queremos ser. Que fique claro, nós
não vamos andar para trás. Então vai ser essa mentalidade que vai ter
que andar para frente. Nós já nos abrimos pra ganhar o mundo. Agora é o
mundo tem que se virar pra ganhar a gente de volta."
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