Atalhos - Martha Medeiros
"Quanto tempo a gente perde na vida?
Se somarmos todos os minutos jogados fora, perdemos anos inteiros.
Depois de nascer, a gente demora pra falar, demora pra caminhar, aí mais
tarde demora pra entender certas coisas, demora pra dar o braço a
torcer. Viramos adolescentes teimosos e dramáticos. Levamos um século
para aceitar o fim de uma relação, e outro século para abrir a guarda
para um novo amor, e já adultos demoramos para dizer a alguém o que sentimos,
demoramos para perdoar um amigo, demoramos para tomar uma decisão. Até
que um dia a gente faz aniversário. 37 anos. Ou 41. Talvez 48. Uma idade
qualquer que esteja no meio do trajeto. E a gente descobre que o tempo
não pode continuar sendo desperdiçado. Fazendo uma analogia com o
futebol, é como se a gente estivesse com o jogo empatado no segundo
tempo e ainda se desse ao luxo de atrasar a bola pro goleiro ou fazer
tabelas desnecessárias. Que esbanjamento. Não falta muito pro jogo
acabar. É preciso encontrar logo o caminho do gol.
Sem muita frescura, sem muito desgaste, sem muito discurso. Tudo o que a
gente quer, depois de uma certa idade, é ir direto ao assunto.
Excetuando-se no sexo, onde a rapidez não é louvada, pra todo o resto é
melhor atalhar. E isso a gente só alcança com alguma vivência e
maturidade.
Pessoas experientes já não cozinham em fogo brando,
não esperam sentados, não ficam dando voltas e voltas, não necessitam
percorrer todos os estágios. Queimam etapas. Não desperdiçam mais nada.
Uma pessoa é sempre bruta com você? Não é obrigatório conviver com ela.
O cara está enrolando muito? Beije-o primeiro.
A resposta do emprego ainda não veio? Procure outro enquanto espera.
Paciência só para o que importa de verdade. Paciência para ver a tarde
cair. Paciência para sorver um cálice de vinho. Paciência para a música e
para os livros. Paciência para escutar um amigo. Paciência para aquilo
que vale nossa dedicação. Pra enrolação, atalho."
Amo esse texto da Martha, acho que é um belo jeito de começar o assunto "perda de tempo".
Esse dias me peguei lendo um outro texto que também caiu como uma luva:
Há algum tempo atrás eu fui exatamente assim. Esperava o momento ideal, aquele momento que as coisas acontecessem e que iria me trazer imensa realização, a felicidade que eu tanto esperava, ser o término ou começo para as novas etapas que eu tanto esperava. E literalmente eu ficava esperando. E esperando... E então, as coisas não aconteciam e o tal momento frenesi não vinha e eu frustrada, adiava certos feitos sempre pra "depois de". Um dia parei. Como quem não quer nada, quebrei meu próprio paradigma. Parei de esperar que a felicidade, a realização, a satisfação e as novas etapas viessem sempre "depois de" e resolvi trazer tudo para o agora. E olha, não podia ter tomado um decisão melhor. Foi libertador. Ah se eu tivesse sabido disto antes! Ah se eu tivesse me dado conta mais cedo de quanto tempo foi desperdiçado esperando o tal momento em vez de fazer esse tal momento acontecer. Mas a vida ensina, e ser a gente aprende por bem, ok, senão, aprendemos por mal. Eu aprendi com um pouco de cada rs.
E sim, também tem alguma relação com o texto da Martha citado acima. Com o avanço da idade, sem neuroses, mas passamos a perceber o quão veloz a vida é, sem freadas e quantos mais tempo perdemos, menos tempo temos para realizar feitos, escrever nossa história e ser feliz. Já não basta o tempo gasto desperdiçado mas que não temos como fugir? No engarrafamento, na fila do banco, no trabalho demasiado, dormindo. Deixemo-nos permitir! Se errarmos ok tentamos de novo! E se não quer tentar de novo, parte pra outra. Se não deu certo, insistimos. Mas se não quisermos insistir, pula pra próxima. Fica mais fácil viver, sem muitas cobranças e expectativas. Já bastam aquelas que nós nos colocamos e não conseguimos nos livrar, não precisamos de cargas extras. Vamos misturar Skank com Lulu Santos e "deixar a vida nos levar" e "viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir".
Semana passada, num encontro com amigos em casa, surgiu esse assunto aliado à chegada da idade, os 30 anos, a idade x, divisor de águas, onde você é ou tem tudo ou não é nada, não tem nada é um fracasso geral. Por já ter passado pela idade, já que hoje tenho 32 e por ter que reprogramas minhas metas e objetivos e mudar muitos conceitos e visões de mim, da vida, das coisas tentei conversar e argumentar alguns tópicos com uma amiga, mas em vão. Realmente, nossa experiência de vida serve apenas para nós rs. Mas lá no fundo, me senti feliz por perceber que eu tinha conseguido encontrar o caminho, o meu caminho para seguir leve, simples e feliz. Claro que eu entendo que você se frustra se as coisas não saem conforte seus planos. Eu mesma já me questionei muito quando estava chegando perto do limite estipulado por mim e minhas idealizações não tinha se concretizado, muita coisa não tinha chegado nem perto de como imaginei. Mas isso é viver! Traçamos planos, mas às vezes somos obrigados a mudar. Ou eles simplesmente mudam, obra de Deus, do destino ou do acaso, sei lá. Mas aí a gente tem que se virar, se adaptar e achar o plano B. E quando eu parei de me sentir vítima e reclamar do que eu não tinha e comecei a ver o que eu tinha aprendi a agradecer e aprendi que sim é possível as coisas mudarem e ainda sim darem certo do mesmo jeito. Sim, são escolhas nossas e viveremos com as consequências do que decidimos escolher. Mas tudo na vida é assim, não se tem tudo, escolhe-se A e tem que abrir mão do B. Poucas vezes temos o privilégio de conseguir ter os dois. Mas aí entra tudo num regime de compensação que temos que avaliar o que queremos, o que nos faz bem, nossas prioridades, nossos sonhos. Mas pra mim, valeu a pena, não só o autoconhecimento como sair do certinho e arriscar os caminhos tortuosos.
Desencanei com muita coisa, com a idade ideal, o corpo perfeito, o casamento modelo, a família feliz, o emprego dos sonhos, a tão cobiçada estabilidade financeira, a tão almejada realização pessoal. Porque eu tenho tudo isso, só não do jeito que imaginei. Só que nem por isso é menos. Muito pelo contrário, superou minhas expectativas. Passei e deixar de lado o ideal do mundo e o ideal que eu super idealizei para viver o meu ideal. E hoje tô confiante, madura, certa do que quero, e do que não quero, não tenho medo de me assumir e assumir riscos, de fazer escolhas e me arrepender, tô satisfeita comigo, tô literalmente dona de mim.
Parei de procurar a felicidades e as coisas boas do lado de fora, nos outros, nas coisas, ela está dentro de mim. Posso ser feliz numa viagem, pulando carnaval, numa festa com amigos, em casa vendo filme. O importante é eu estar me sentindo bem e satisfeita comigo. Não tenho mais a necessidade de agradar para pertencer. Quem gosta de mim vai gostar de mim como sou. Sou amável, brincalhona, sorridente, simpática e agradável, mas tenho péssimo humor de manhã, me irrito com certas coisinhas, tenho manias e quando eu me estouro sai de baixo! Essa sou eu, sem máscaras para a sociedade!
Chega de adiar! Claro que decisões importantes temos que avaliar e ponderar, o que é diferente de empurrar com a barriga. É piegas mas a vida e curta e o tempo não volta. Não adianta amanhã se lamentar. E se for pra se lamentar que seja do que fez e não do que não fez, acho muito melhor! Se as pessoas soubessem, se elas lessem nas entrelinhas, se elas se permitissem, se elas enxergassem além das próprias limitações... Se elas parassem de colocar uma enorme responsabilidade de satisfação dos acontecimentos, de repente eles de fato dessem certo, se não fossem culpados por uma frustração que é pessoal. Mais um vez voltando a essa amiga, ela pode fazer de tudo na vida e ser super bem sucedida em tudo, mas não encontrará a felicidade, pois há um buraco enorme dentro dela que não será fechado e curado com momentos, pessoas e sucessivos acontecimentos na vida. Enquanto ela não se der conta que ela não tem que fazer as coisas e viver pra provar ao mundo, ela não vai sair do lugar. Ela tem que fazer por ela e o sucesso e a realização que tanto deseja virá. Apesar das coisas não saírem como o planejado, se ela não aprender e refazer as metas e mudar o foco do objetivo também não vai sair do lugar, vai ficar dando murro em ponta de faca. Mas percebi que ainda não está na hora dela. Ela ainda está muito preocupada com a chegada dos 30 e não ter atingido metade das coisas que traçou pra si. E infelizmente, me arrisco a dizer que com essa postura nem nos 40 vai alcançar. Mas tudo isso envolve um grande crescimento pessoal, conhecimento de si, um amadurecimento de visão da vida. Essa preparação leva tempo e muitas vezes temos que passar por algumas circunstâncias nada agradáveis, bem dolorosas na verdade. Mas, tenho fé, que aliás foi uma das coisas que me debati depois de certos acontecimentos e hoje eu tenho a minha fé, independente de qualquer coisa, religião e obrigatoriedades.
Ainda estou aprendendo a ser simplista, me livrando de certos conceitos criados por mim e endossados pelo mundo. Ainda estou aprendendo a me bastar. Ainda estou aprendendo a ter um novo olhar a cada dia. Ainda estou aprendendo a renovar a fé no mundo e nas pessoas e em mim. Ainda estou aprendendo a ser positiva sem os "mas". Ainda estou aprendendo a não criar expectativas e deixar acontecer. Ainda estou aprendendo sobre mim. Mas estou chegando lá. Olhando pra trás vejo o quanto já percorri. E também estou aprendendo a ter orgulho de mim. E creio que ainda tenho muitas coisas mais a aprender, e estou aqui, ávida por novos conhecimentos, esperando ser instrumento de aprendizado. Oportunidades sei que não me faltarão. E que venham o que tiver que vir e aconteça o que tiver que acontecer. E que não demorem muito, pois hoje respiro urgência e já tenho menos paciência que antes tinha. Não tenho tempo a perder. Quero é ganhar tempo pra viver!