Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio que partiu esta semana, escreveu certa vez:
"Cada mundo contém muitos outros mundos possíveis. Neste mundo, há outro mundo possível".
Gosto de pensar que somos possibilidades que se concretizaram. Reais, mas ainda assim, possibilidades. Dentro de cada mundo, muitos outros mundos possíveis.
Todos os dias, ao acordar, o local onde espreguiçamos diz muito sobre as escolhas que fizemos até o momento. Minha cama está embaixo de um teto que escolhi como abrigo, numa cidade que me acolheu para viver e trabalhar. Meu marido é alguém que cruzou o meu caminho e por uma série de razões escolhi para me acompanhar. Nosso vida é parte desta escolha, a melhor possibilidade que poderia ter me ocorrido.
Tudo o que nos cerca um dia foi uma possibilidade. Alguns eventos poderiam ter sido evitados, outros não. Sobre o que não dependeu de nossa escolha, surgem diversas outras possibilidades que também podem ser encaradas como respostas. Talvez seja essa a maior possibilidade que temos: aprender a responder aos eventos, escolhidos ou não, da melhor maneira possível. Aprender a fazer malabarismo com o mundo que se apresenta possível à nossa frente, tentando extrair dele o melhor desfecho que pudermos. A liberdade de responder aos eventos é a maior possibilidade que temos. É o que faz nosso mundo possível ser bom ou ruim, independente das possibilidades inseridas nele.
Amanheceu chovendo e não pode caminhar no parque? Torne possível o cochilo estendido e despretensioso. O calor está insuportável e não tem ar condicionado? Torne possível a limonada gelada. O grande amor se foi? Torne possível o amor próprio, redescubra as amizades, mude o corte de cabelo, vá correr na praça. Perdeu alguém? Torne possível o luto, mas depois permita ser possível o recomeço: escreva, pinte, cante ou cultive um jardim. O passado foi difícil? Torne possível a felicidade do presente: invente leveza, releve mágoas, perdoe traumas, acumule afetos, colecione alegrias. Está doendo? Torne possível a pausa, respeite os limites, tome um chá, dê asilo às emoções, acredite que vai passar.
Enxergar possibilidades naquilo que efetivamente existe não é simples. Simples é cair na armadilha do lamento e da vitimização. Sei disso porque de vez em quando acontece comigo também. Mas tenho consciência disso. E esse é o primeiro passo pra gente prosseguir modificado. Enquanto sinto que novas possibilidades se descortinam à minha frente, desejo que você possa enxergá-las também. Que a gente torne possível a alegria na imperfeição, o recomeço na desilusão, a esperança na contradição. Que possamos acreditar que dentro de nosso mundo, há outro mundo, também possível, e muitas vezes melhor. Depende de nós e de nossa capacidade de encontrar respostas. Pois conflitos e angústias vêm e vão; o que permanece é nosso universo de possibilidades...