Há alguns dias, começou uma guerra contra o tráfico no Rio de Janeiro, na zona norte da cidade, mais especificamente entre policia e bandido, novamente. Nada de extraordinário teria isso se desta vez a comunidade que estava sendo tomada pela polícia e que durante anos esteve sob o poder arbitrário, violento e desonesto do tráfico não estivesse apoiando a lei. Pela primeira vez, uma ação destas comoveu grande parte da cidade e, principalmente quem mora na Penha – Vila Cruzeiro e em Olaria, Ramos e Bonsucesso – Complexo do Alemão. Volta-se a acreditar que a justiça existe! Mas até quando? É a pergunta que ronda a cabeça dos moradores destas comunidades e entorno, com medo de que a bandidagem volte se a policia desocupar as favelas. E, por que só agora uma força tarefa de grande porte unindo as forças armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), Polícias Militar (PM), Civil e Federal, a Força Tarefa, BOPE e CORE foi montada para desmanchar este esquema de drogas, lavagem de dinheiro e abuso de poder? Pela primeira vez a zona norte toma conta das páginas de jornais e noticiários de rádio e TV sem ser apenas para relatar assaltos, matança, drogas e violência. Desta vez, as manchetes emanavam esperança. Bandeiras brancas nas portas e janelas das humildes casas eram as fotos de capa. E as frases de destaque eram de agradecimentos, ao governador, aos policiais e a todos que olharam para esta região pedindo socorro, e atenderam. E assim, mais uma vez, o Rio segue na luta pela tão sonhada paz.
Eu, moradora da Penha, há 27 anos, sonhei com este tão esperado momento. Um lugar agradável, de comércio vasto e farto de alegria, que vivia desvalorizado e aterrorizado pelo medo. Falar que mora na Penha, virou vergonha. Não pra mim, que sempre tive orgulho das minhas raízes suburbanas e sempre que pude salientei que “aqui não tem só favela, tem muita coisa boa e gente digna”. Mas, não adiantava muito. A fama do grande tráfico de drogas na região foi maior e nós, moradores, acabamos ilhados, dentro de nossas próprias casas, reféns da impunidade. Nossa revolta diária enfim foi ouvida quando a partir de uma quinta-feira qualquer, dia de trabalho, estudo e correria para a maioria da população, a Marinha sai às ruas em seus tanques de guerra num gesto extremado contra atos extremados, por conta dos bandidos. Desde terça, em retaliação à polícia, bandidos das duas maiores facções criminosas começaram a “tocar o terror” na cidade. Eram carros, ônibus, motos, vans ou qualquer outra coisa que pudesse chamar a atenção da polícia e dos políticos e que causasse o caos. Vários bairros eram atacados ao mesmo tempo e nessa hora pudemos ver quantos bandidos existem de fato, soltos por aí. Mesmo com os apelos de repórteres e comandantes mil de que a vida fosse levada normalmente fora do bairro da penha, era impossível sair com a sensação de insegurança. Embora toda força policial estivesse nas ruas, ainda não era párea para os 600 estimados traficantes que habitavam os complexos da Penha e do Alemão e comunidades chefiadas pelas Facções Criminosas destas duas favelas.
Neste dia, que Estado ganhou às ruas com os aplausos e bênçãos da população, senti a revolta como cidadã na hora em que, ao vivo, era mostrada a imagem de mais ou menos 200 traficantes ou mais deixando a Vila Cruzeiro para se refugiar no Complexo do Alemão. Minha vontade era de estar naquele bendito helicóptero da polícia, com um franco atirador e fuzilar todos eles. Nesta hora, me considero uma verdadeira Capitã Nascimento, de Tropa de Elite: bandido bom é bandido morto! Mas, infelizmente isso não foi possível, pois os policiais tinham que se resguardar e cuidar para que o helicóptero não fosse abatido e caísse sobre casas de moradores inocentes e já muito prejudicados, privados de direitos como rua asfaltada, luz, saneamento básico, coleta de lixo, saúde e educação. Mas, por eles, por nós, os Direitos Humanos não olham. Só defendem vagabundo que acham que têm direitos. Nós parecemos que só temos o dever, de sustentar eles dentro dos presídios com nossos impostos, para lá, na ociosidade do tempo deles, pensarem em como nos roubar, nos destruir mais. Quando a polícia age com sabedoria e seriedade, mesmo assim ainda é responsabilizada por matar “os bons filhos das mães que achavam que eles não faziam nada”. E nossos filhos, pais, irmãos, netos, amigos que foram mortos ou lesados por eles de algum modo? Isto, já não importa. Somos pobres, mas somos limpinhos e não podemos usar a pobreza como desculpa para a falta de caráter.
Jornalista, por formação deu orgulho de ver a minha “laia” agir tão presente num dos momentos históricos de nossa cidade. Sua cobertura em tempo real foi de total importância até mesmo para a avaliação da polícia. E através da mídia acompanhamos passo a passo todo o desdobramento de uma história que começou lá nos anos 90. Vimos o empenho dos repórteres que não mediram esforços para nos dar as melhores e mais precisas informações sobre o caso. Vimos os incansáveis Ana Paula e Márcio, que viraram dias e horas nas telas dentro de nossas casas. O já contratado da Globo, Rodrigo Pimentel, comentarista policial das ações. E o empenho de tantos outros jornalistas para que viesse até nós a notícia, nua e crua, factual. Jornalismo limpo, branco e não marrom, é isto que queremos ver. Aplausos também para a imprensa.
Mas o maior aplauso é para a nação brasileira, que cansou de ser açoitada e se acovardar. Gritaram liberdade e ela se fez abrir as asas sobre a Penha e com a força de Deus e dos homens, sobre todas as comunidades carentes do Rio de Janeiro. Com a Nossa Senhora, lá do alto da sua Igrejinha a nos abençoar, vamos que vamos, porque atrás vem gente...
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