17 de outubro de 2011

Chuva Fina



“Chuva fina, silenciosa, que chega devagar sem ser percebida. Num dia, aparentemente normal, muitas coisas feitas, muitas coisas ainda por fazer. Muita correria, conversas, barulho, gente falando, falando... e cada vez mais, as vozes ao longe me distanciam do mundo real e me remetem para dentro de mim, dos meus pensamentos, a esta altura já cheios de você. Como o chão, aos poucos ficando molhado pelos pingos d’água sinto invadir-me de você. De súbito, como se nada quisesse em troca, aparentemente despreocupado, alheio aos acontecimentos passados, riso desproposital. Não dá pra ocultar! Algo preso quer sair do meu olhar, já marejados e saudosos. Dia após dia ganha espaço na minha vida, novamente. É vasta a sua presença nas noite que deveriam ser solitárias e de lembranças. Já tenho me recordado menos de você, certa de que um dia, acordaria e você não faria mais parte de mim. A mágoa deu lugar a saudade e a tristeza a certeza de que um dia, alguma coisa aconteceu. Por mais que o significado desta coisa me consumisse e me obrigasse a um martírio diário, hoje, ela já não fazia mais diferença, quando a sua indiferença mudou.

Esperei ansiosamente para a virada da vida e a volta de sua pessoa, mais tranquila, cabeça no lugar, realista e admitindo falhas. Ciente das palavras, tendo noção dos atos. Planejei tanto o que faria quando este dia chegasse. O dia chegou, sem avisar, como chuva de verão. Devastou minhas expectativas e lavou minha emoção. Ouvi o que queria de você, o efeito: um trovão! Olhei nos seus olhos, vazios e cheios, procurando por algo, encontrando a mim... mas não tem! Sinto suas mãos ansiosas percorrerem meu corpo, aperta mais um pouco, pesa e vai acariciando, já não tem porque ficar. Sua boca insistente em me beijar, querendo achar o lugar para pousar, lugar que um dia era só chegar.

Não consigo esconder, certo e errado, eu quero você. Não dá pra disfarçar. Eu tento aparentar frieza, mas não dá. Já não tem como fugir do que levamos por dentro!

Imaginei que você seria relevante, ou, tudo que viesse da sua pessoa agora. Pelo menos gostaria que assim fosse. Mas, me dei conta de que você não é apenas mais um no meio da multidão. Quem dera me enganar, mas não! E quando descobri isto, a verdade acabou comigo!

A fala era igual, mas ansiosa para as frases do acaso terminar e as verdadeiras surgirem. O carinho emanava no ar e deixava invejado quem próximo estivesse. Tudo era o mesmo, as risadas, as brincadeiras, as ideias, o bate-boca, a razão... menos nós mesmos. Estes sim, eram as únicas “coisas” diferentes no ambiente aparentemente, sempre igual! Não consegui organizar minhas ideias. Não deu pra me achar no meu próprio caminho. Eu pensei que eu fosse forte, mas não sou! E a certeza de que, por tantos mares, meu lugar é aqui! Certeza que eu já tinha desistido de ter, deixado pra lá. Não me encontrei nos lugares por onde eu ando, mas me achei, perfeitamente aqui! É difícil aceitar, mas só me encaixo nos seus braços, nos teus abraços. Só no seu peito consegui o lugar perfeito para o meu aconchego, para a minha paz. Ninguém me pega como você e, a certeza destes fatos me faz perceber o quanto de mim ainda está em você. Me pega no colo, me prende, não solta, faça-nos um do outro.

A chuva aumenta, aumenta a sensação de “não dever”. A chuva não pára e nós também não paramos para pensar “se era bem assim”... A chuva é incessante, e não cessa o que vem de dentro, cala, fala, mostra, se mostra, vem pra ser! Deixa o tempo lhe mostrar, nossa história, mesmo assim... Será que é melhor pensar assim: guarde o melhor de mim, pois no meu peito eu vou te guardar, vai ser melhor assim, vai ser melhor pra mim... um dia a gente vai se perdoar!

Não!!!!!!!

Posso mentir pra você, mas não posso para mim.

Eu não quero mais correr, não quero mais evitar, não quero mais lutar sozinha, por mim ou comigo! Choro, pois a chuva de agora vai molhar a minha história e a cinza indiferença vai ter fim. Eu não quero te perder, eu não quero te prender, eu não quero te ter... eu só quero VOCÊ, de forma singular, simplicidade, exatidão, cumplicidade, lealdade, sinceridade, carinho, amizade, amor!

Me chama pela tarde, a vida é tão suave... eu vou! Não sei se vou! Vem você, anda, corre, se apressa. A vida chama, a gente chama, você me chama, quem será que ama? Será que ama? O que é o amor? O amor foi? O amor é? Ou nunca chegará a ser?!!!!”


Fernanda Miceli



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