Não sou mãe! Então vou deixar bem claro que esse texto que vou postar não é em defesa da causa própria. Mas tenho amigas que são, e vejo que é uma tarefa árdua! Apesar de todos os benefícios e da felicidade e amor incondicional em ser mãe e vivenciar todas as incríveis experiências, existe um outro lado que creio eu que muitas vivem, mas poucas falam! Assim como toda e qualquer coisa na vida, há o lado bom e o lado ruim.
Por coincidência, estava lendo alguns sites que gosto e um deles é o Macetes de Mãe. Não, não estou lendo porque pretendo ser mãe - apesar de pretender - ou porque estou grávida ou porque estou querendo julgar ou criar parâmetros através de comportamentos relatados. Apenas porque gosto de ler, de tudo um pouco e me interesso por tudo que venha da essência humana. E, fui lendo, lendo, lendo e de repente, me identifiquei com certas palavras, com certas descobertas e com certas verdades escritas através de um relato de uma mãe, que não sei se é de primeira viagem ou se simplesmente resolver contestar o mundo perfeito da maternidade. E mais uma vez, por coincidência, ela disse coisas que mesmo sem vivenciar certas experiências como mãe, comentei certo dia com uma amiga próxima e que não gostou muito das minhas observações. Ela não disse, mas deve ter pensado: "com que embasamento, já que você não é mãe, tem a ousadia de vir me dizer essas coisas?". Afinal, para ela, depois da maternidade, tudo tomou outra forma e proporção e só quem é mãe que é capaz de uma compreensão total de certos momentos e conflitos. Bom, portanto, se eu não era mãe e não aspirante a ser, como poderia eu, logo eu que não passei por nada disso, estar me atrevendo a achismos? Simples, porque sou filha! Porque sou amiga de mães! Porque tenho sobrinhos e afilhados e participei bem de pertinho da criação deles! Porque o mundo ensina, independente de se estar na mesma situação que outros! E se tem uma coisa que eu aprendi com todos eles é que pai e mãe não são super heróis. Eles podem até ser os heróis dos filhos eternamente. Mas serão mais reconhecidos pelos seus gestos e dedicação, cuidados e carinho mesmo que intercalando entre erros e acertos do que pela perfeição de um ser supremo. Criar uma criança com a ilusão da perfeição é criá-la para um mundo de faz de contas que não existe e, consequentemente, para a frustração. Deve-se criar e educar os filhos principalmente para a vida, e não há melhor maneira de prepará-los para isso do que desde cedo introduzindo-os à realidade que nos cerca. E isso inclui as coisas ruins também. Até porque, se não aprenderem pelos ensinamentos dos pais, que tentam com carinho mostrar a dura realidade, vão acabar a prendendo na vida, caindo, se machucando. Porque afinal de contas, a gente sempre aprende, pelo amor ou pela dor! Do jeito mais fácil ou do mais difícil!
Cresci vendo e sabendo pelos meus pais que eles erram tentando acertar. Afinal, é difícil encontrar a dose certa mesmo. É difícil ter o peso da responsabilidade de criar, ensinar e encaminhar na vida um serzinho a partir do que nós achamos que é o certo, se muitas vezes, nem nós mesmos sabemos qual é o certo. E até uma certa idade são completamente dependentes dos pais para tudo, muito mais a mãe. É uma carga muito grande! E que pode ficar mais leve se compartilhada e admitirmos fraquezas e medos e erros e dúvidas! Somos seres humanos, oras! E se surtamos e enchemos o saco em outros campos da nossa vida, em dado momento, por que haveria de ser diferente com a maternidade, que tem que ser exercida em tempo integral e muito solicita da mãe?
Só que eu acho que a maioria acredita que o que sentem é fraqueza e fraquejar é sinônimo de incapacidade e diminuição. Errar então, é sinônimo de incompetência. Associado a não ser boa mãe ou ser menos mães que outras mães. Outras podem estar no mesmo dilema, só não falam. E se não estão, se estão se dando bem e são super bem resolvidas com todas as questões, que bom pra elas! Mas ninguém precisa ser igual a ninguém. Eu cresci tendo uma mãe devota à mim, protetora e preocupada, carinhosa, zelosa, que também era profissional e mulher e filha, que cuidava da casa e mais uma série de questões pessoais. Cresci vendo que ela se esforçava e dava o seu melhor sempre para mim. Talvez ela tivesse conseguido administrar melhor porque os tempos eram outros e muita coisa era mais simples e mais fácil. Ou talvez apenas, porque ela não se cobrava demais. Sabia que estava fazendo o seu possível. E dentro deste possível, nunca deixou a desejar. Mas é claro que ela errou, é claro que teve dúvidas e medos, é claro que nem sempre a coisa toda saiu como o planejado. Mas aí ela aprendia e seguia em frente. Ela sempre me priorizou, mas nunca abdicou de si mesma! E eu cresci entendendo que sempre a podia solicitar para tudo e que eu era a pessoa mais importante da vida dela, mas que ela também tinha vida própria, um marido, um trabalho, amigos, família. E cresci sabendo entender que cada núcleo tinha uma importância na vida dela e que por isso, algumas vezes, ela poderia não dar conta. Só que deu! Do jeito dela, mas deu! E nunca me faltou nada! E eu nunca tive dúvidas do amor incondicional dela, apesar dela ter que dividir o tempo comigo e tudo o mais. Só que hoje vivemos o tempo da perfeição e da autossuficiência. O que acaba por atrapalhar mais do que ajudar! Uma palavra amiga, uma palavra de carinho e compreensão, uma palavra de incentivo, não necessariamente tem que vir de uma pessoa que está na mesma situação que você. Toda e qualquer pessoa e situação pode ser uma resposta, uma solução ou apenas uma oportunidade para refletir.
Tenho certa que quando a hora da maternidade chegar pra mim terei meus próprios conflitos e questionamentos. Talvez alguns que nem estejam listados neste texto abaixo. Também tenho certeza de que terei momentos em que ei de surtar, coisa que encaro como normal. Também poderei ter momentos de desesperos, de não saber o que fazer, até porque não sei tudo, nem todas as respostas, tenho muito a aprender e talvez alguns aprendizados venham com meus erros. Mas uma coisa eu tenho certeza, criarei meu filho ou filha para entender que os pais fazem o melhor que podem, mas não são perfeitos. E dentro de nossa imperfeição faremos o melhor sempre em cuidados, assistência, estando presentes, podendo ensinar o máximo que soubermos, mas que também, quando a coisa não sair como planejado e o lado B da vida vier, estaremos lá para amparar, apoiar, dar a mão pra levantar, ajudar a consertar e encontrar o caminho. Pois foi assim que cresci e é assim que eu quero que meu filho ou filha cresça, sabendo viver e que viver implica em não saber, e que pode ter coisa boa e ruim, mas que tudo na vida passa e o que não nos mata, nos fortalece!
Bom, na teoria, é mais ou menos isso. Quando eu estiver praticando de fato, eu volto aqui e conto pra vocês se foi mais fácil do que eu imaginava em certos momentos ou mais difícil do que eu imaginava em outros. Por hora, deixo abaixo o texto que achei além de muito bem escrito, uma excelente visão de como funciona toda a coisa. Ah, e de agora em diante eu guardo meus achismos e visões para mim! Porque muitas mães, até como defesa e autoafirmação de capacidade e competência já tem a resposta pronta na ponta da língua de que "todo mundo acha que sabe criar seu filho melhor do que você!". E não se trata disso, do modo de criar, mas da maneira de agir com relação à criação de forma simples, natural e verdadeira, levando em consideração que é para a vida que os filhos são criados, para o mundo e seria melhor, desde cedo, ele aprender como funciona e quais são as regras do mundo, esse mundo tão louco em que vivemos, onde é quase uma sobrevivência do que uma vivência!
"O LADO B DA MATERNIDADE: PORQUE SE FALA TÃO POUCO SOBRE ELE?
Logo que eu me tornei mãe e que vivi alguns momentos difíceis da
maternidade me perguntei por que ninguém nunca havia me alertado que
esse lado B também existe. Toda vez que eu conversava com uma mãe, ela
se derretia em elogios ao filho, dizia como sua vida tinha mudado para
melhor, como pela primeira vez na vida estava vivendo um amor
incondicional e como era maravilhoso, soberbo, estupendo, incrível,
inexplicável ser mãe.
Sim, tudo isso é verdade, por outro lado,
nunca nenhuma delas me chamou num canto e disse: “olha só amiga, quero
te contar uma coisa, ser mãe é tudo de bom, mas também tem uma parte bem
difícil e chata, e você vai ver as duas coisas. Com certeza!”.
O
máximo da parte difícil que eu havia ouvido era: você vai sentir sono,
muito sono, vai morrer de sono e nunca mais vai dormir direito na sua
vida. Ou, então, o famoso: no início dói para amamentar.
Ponto
final! Foi só isso que me disseram. Foi só sobre isso que fui alertada.
Sobre tantas coisas que depois eu iria viver, e que com certeza muitas
de vocês também viveram ou viverão, ninguém nunca me falou nada.
Nunca ninguém abriu a boca para me dizer que amamentar era muito, muito,
muito difícil. Que não era só o bebê nascer, abocanhar o peito, sugar e
se alimentar. Que podia ter N fatores que iriam prejudicar a
amamentação e que talvez eu não fosse conseguir amamentar como gostaria.
Também nunca me alertaram que no início as coisas são muito, mas muito
difíceis. Que não é só o não dormir direito, mas é o não dormir, não
comer, não tomar banho, não escovar os dentes, não fazer xixi.
E
mais do que isso, tem ainda outra coisa muito importante. Também nunca
haviam me dito que tem horas que a gente simplesmente enche o saco. Que
tem momentos que a gente secretamente se pergunta: Por que tudo tem que
ser tão difícil? Por que tenho que estar passando por isso? Por que
resolvi ser mãe?
Ah sim, porque tem horas, que mesmo a mãe mais
babona, apaixonada, dedicada e mimimi do mundo vai se fazer essa
pergunta. Isso porque, sempre haverá um momento em que ela irá chegar no
seu limite do cansaço e da paciência.
Agora, volto lá na minha
dúvida do início: porque ninguém fala isso? Porque ninguém comenta essas
coisas com a gente? Porque todo mundo sempre quer dourar a pílula?
De duas uma: ou querem proteger a futura mamãe do choque que está por
vir ou veem essa confissão como algo que as faz menos mãe.
Eu, ando
mais inclinada a acreditar que a segunda alternativa é a verdadeira. Que
a maioria das mães não mostra o lado difícil das coisas e não confessa
que muitas vezes chega no seu limite da sanidade porque acha que fazendo
isso irá descer no ranking que elege as melhores mães do mundo. E se
tem uma coisa que toda mãe quer ser é a melhor.
Gente, está aí uma coisa ultrapassada, que podia funcionar no tempo das nossas mães e avós, mas hoje em dia não cabe mais.
Estamos no tempo da sinceridade, do ser verdadeiro, do assumir suas
falhas e fraquezas sem que isso nos faça menos importantes. Além do
mais, hoje, muitas de nós não assumem só o papel de mães, mas também o
de profissionais, de voluntárias, de pessoas engajadas na sociedade e
por aí afora. Ou seja, quem disse que temos que ser perfeitas como mãe?
Quem disse que não podemos confessar que uma hora cansa, que uma hora
enche o saco, que uma hora temos vontade de fugir de casa para voltar
uns três dias depois? Afinal, é difícil dar conta de tudo, é difícil
assumir e conciliar todos os papeis que nos cabem nessa sociedade
moderna.
Se alguém tivesse me dito isso antes do Léo nascer, eu
teria me culpado menos quando tive esses sentimentos. Só fui descobrir
que outras mães também passam por esse momento “saco cheio da
maternidade” quando conversei com algumas amigas íntimas e confessei que
era isso que eu senti algumas vezes. Aí sim, algumas também
confessaram: Ah! é assim mesmo!
Mas então, por que cargas d`’agua nunca me falaram isso antes? Catso!
Gente, então vou dizer, vou deixar bem claro aqui: ser mãe é tudo de
bom. Ser mãe é lindo. Ser mãe muda a gente, mudo o mundo, muda tudo para
melhor. Mas ser mãe também tem o seu lado B, como tudo na vida.
E
ter esses momentos de “putz, tô de saco cheio” não torna ninguém menos
mãe. Só a torna humana. Porque vamos ser sinceras, alguém que vê na
maternidade uma experiência maravilhosa, edificante, encantadora 100% do
tempo, ou está mentindo, ou é de outro mundo. Só acredita que isso é
possível quem nunca viveu a experiência de ser mãe.
Talvez irá
aparecer mamães por aí para dizer que tudo isso que estou escrevendo é
uma bobagem, que não é assim não, que a maternidade é linda, cor de rosa
e perfeita. Mas tenho certeza de que em meia hora de conversa vou
conseguir arrancar delas pelo menos um exemplo de uma situação em que
elas tiveram vontade de arrancar os cabelos e fugir para uma ilha
deserta, sem filhos.
A questão é que desses momentos a gente
esquece. Na maior parte das vezes. Só os lembra quem ainda os está
vivendo. E aí, se culpa, se martiriza, se pune!
Gente, na boa,
ninguém é menos mãe porque tem seus momentos saco cheio. E se mais
pessoas confessarem isso, em claro e bom som, tenho certeza que a culpa
de muitas mães será amenizada.
Bom, estou fazendo a minha parte!
Minha confissão está aqui, para quem quiser ver e se conformar! Mas
também garanto: apesar dos perregues, dos momentos “putz”, eu faria tudo
de novo (e garanto que ainda vou fazer). E não há como negar que o lado
B, na grande maioria das vezes, desaparece da nossa memória quando o
lado A abre aquele sorrisão".
Por Shirley Hilgert, autora do blog Macetes de Mãe
www.macetesdemae.com