28 de outubro de 2015

Sobre uma das melhores coisas da vida: os amigos


Num mundo em que as pessoas mal se olham, a gente ainda encontra pessoas que param, perguntam do nosso dia, falam um pouco das suas frustrações, escutam nossas pequenas tragédias e fazem piada do que nos atinge a fim de amenizar a nossa dor. Às vezes dormem até juntos, na mesma unha, dividem o sofá, fazem qualquer negócio. Buscam o balde para um pequeno problema chamado bebedeira, seguram seu cabelo, limpam o carpete e juram que a sua mãe nunca vai saber. A essas criaturas que nos amam através de xingamentos e que falam o que precisamos ouvir ao invés do que queremos ouvir, chamamos de amigos.

Amigos nos dão muitos presentes além da própria companhia, porque amizade é esse sentimento estranho e sublime que permite amar muitos ao mesmo tempo, não tem espaço para ciúmes e dispensa grandes alardes. Amizade que é amizade não se cobra, ela se sustenta por si só.

É um sentimento mútuo de confiança, intimidade e algumas babaquices, porque se de perto ninguém é normal, com amigos, menos ainda. Você pode ligar para eles às 5 da manhã para declarar seu amor no meio da balada ou para dizer que está chorando que a resposta vai ser a mesma: eles vão atender, dizer que te amam e te mandar dormir. Quando você acordar seu celular terá 392 mensagens e você vai se sentir reconfortado. 

Ser amigo é isso. É ser sincero, é perder a paciência, é pedir desculpa, é dormir na casa do outro pela simples companhia, é sair pra balada só porque o outro quer, é negar aquela saída e saber que o outro não vai te condenar por isso. É topar ideias insanas, não cobrar nada e acreditar que vocês estarão juntos para sempre, rindo e relembrando aquelas mesmas e velhas histórias que "deveriam esquecer". É gostar de alguém que você conhece como a palma da sua mão, e suportar as esquisitices e os defeitinhos e saber que o outro gosta igualmente de você apesar do jeito temperamental e das suas chatices. 

Amigo é aquele que mora longe e o que une você é maior do que a estrada. É aquele que sempre tem umas peças de roupas na sua casa para qualquer imprevisto, mesmo morando no mesmo bairro. É aquele que acoberta suas fugas e que te ajuda a fugir da realidade num almoço de 1 hora. Conversar com amigo é dar um gás naquele dia pesado. É saber que mesmo que tudo dê errado na sua vida, alguém nesse mundo ainda estará lá com você além dos seus pais e dos companheiros. Aliás, eles são meio parte da sua família também, a diferença é que foram escolhidos. Ou se reconheceram aí pela vida como eu gosto de pensar. Amigo é meio pai, meio mãe, meio filho, meio irmão e até meio namorado ou marido. Dá conselho sem que você peça e escuta os seus mesmo que não vá seguir. 

Concordo com o poeta quando ele diz que a amizade é muito mais nobre do que o amor. Você sobrevive sem um namorado/marido, mas não sobreviverá sem um bom amigo. Aliás, você sobreviverá sem muitas coisas, menos sem aquele ser fiel, de todas as horas, que tá ali pra tudo até mesmo quando você nem sequer chega a pedir. Aliás, eles são meio bombril: beber até cair, rir até o maxilar doer, chorar até desidratar, fofocar até a garganta secar, ou simplesmente ficar em silêncio um do lado do outro, afinal, amigo, entende até a sua mudez.

Escrevi, escrevi, e mesmo assim, falta muito para poder definir amigo. O que me consola saber é que ninguém conseguiria essa definição em palavra, afinal amizade é indefinível, indescritível, inenarrável e outras coisas mais. A gente sente e entende, só isso. Amigos são irmãos que não têm o nosso sangue, mas tem o nosso coração por inteiro.



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