Não sei quanto a outros sentimentos, mas, falando de amor, não penso
duas vezes antes de afirmar que, sim, ele se encontra nos detalhes. O
amor está na tranquilidade que, muitas vezes, o outro nos traz apenas de
fazer-se ali, presente, mesmo que em um cômodo distinto da casa. Nem
sempre é questão de cheiro e toque; ele está também no impalpável, na
cumplicidade invisível de um sentimento que não demanda excesso de
palavras. Amar é também
encontrar serenidade nos espaços e silêncios, é não precisar de provas
diárias para lembrar-se de que se é totalmente idolatrado e aceito; mas
carregar a paz e a certeza de uma entrega mútua que não permite dúvidas,
pois é sentida em todos os lugares.
O amor está na telepatia, no conhecer o outro tão bem a ponto de
antecipar suas palavras e pensamentos e, mesmo assim, sempre
surpreender-se com a magia que é conectar-se tão profundamente com
alguém a ponto de pronunciar frases sincronizadas, de ouvir o outro
falar alguma coisa e pensar "nossa, eu ia falar exatamente a mesma
coisa".
O amor está na falta, na saudade absurda que sentimos do sorriso torto,
da textura de sua camiseta favorita, do cheiro do pescoço e do cabelo
bagunçado do outro. É esquecer-se propositalmente de todas essas coisas
só para se apaixonar novamente por elas no reencontro. O amor é
reencontro. É uma constante mistura dolorida e gostosa de uma saudade
daquilo que, muitas vezes, ainda nem aconteceu.
O amor está, também, não necessariamente no concordar, afinal, e,
felizmente, sempre haverá discordâncias e opiniões divergentes. Um será
mais "relax", tomará decisões precipitadas e impensadas e sempre irá
adiar mais um pouquinho as consequentes preocupações, enquanto o outro
será mais atento, meticuloso, sofrerá mais por antecedência do que por
reais consequências. Mas, muito antes de compreensão, o amor está no
respeito, na sensibilidade de saber ouvir mesmo que ainda assim não
decida concordar, na não necessidade de mudar para agradar ou adequar-se
ao outro; mas na liberdade de reinventar-se naturalmente, na
tranquilidade de ser exatamente aquilo que se é.
O amor está em todos risos, ora tímidos, ora escandalosos; nos silêncios
e também nos barulhos; nas pernas bambas e na força da união de dois
corpos; no respirar tranquilo e também no não conseguir respirar; na
coragem de incluir alguém nos seus planos, mesmo sabendo que amanhã já
não seremos mais os mesmos; mas está, acima de tudo, exatamente no
turbilhão de detalhes não denotáveis que surgem em nossas mentes quando
alguém nos faz aquela difícil pergunta: "o que é o amor?"
Patrícia Pinheiro
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