Muitas pessoas relatam que sentem um vazio
dentro de si mesmas. Como se algo as faltasse, como se não estivessem
mais vivendo suas próprias vidas.
Existem diversas explicações
para o surgimento desse sentimento de vazio que assola boa parte da
humanidade. Mas de uma forma geral a explicação é a de que estamos
vivendo nossa vida sem levar em conta aquilo que somos lá dentro de nós.
Hoje vivemos na era da tecnologia, da informação e do consumo, onde
quase não precisamos refletir sobre nós mesmos, onde milhares de
soluções são vendidas como “produtos” de mercado, onde descontamos
nossas carências na comida, em remédios de diversos tipos e em programas
de TV, onde passamos mais tempo num aparelhinho de celular do que
convivendo com nossos irmãos, onde também vivemos mais no barulho, no
concreto, no cimento e na poluição do que na natureza, junto com a grama
verde, o rio que corre, com a brisa matutina do campo ou com os animais
que antes alegravam nossa vida. Tudo isso nos proporciona uma sensação
de ausência de algo que é essencial, de vazio da alma, um estado de
torpor onde apenas reagimos aos estímulos externos, falamos
compulsivamente e buscamos o prazer a todo custo, sempre como forma de
amenizar um pouco a falta profunda que existe dentro de nossa alma.
Essas soluções fúteis podem ser comparadas a alguém que bebe agua do mar
para aplacar a sua sede: quanto mais bebemos, mais sentimos sede e a
consequência pode ser uma forte disenteria. O espírito da vida parece
ter se retirado do mundo atual e dado espaço ao novo reality show ou ao
estojo de maquiagem da moda.
E qual a melhor forma de preencher o vazio que fica desse mundo fútil e sem alma?
Em primeiro lugar, é preciso retomar o contato com a natureza. A seiva
vital da mãe Terra nos acolheu há milênios e dela nascemos e nos
alimentamos. Um dos motivos desse vazio é a dolorosa separação do filho
perante sua mãe sagrada. Os filhos da Terra precisam regressar ao seu
lar natural, e assim voltar a viver na simplicidade de um belo campo
gramado esvoaçando com a brisa, de um canto de pássaro e de um mergulho
num riacho de águas frescas e límpidas.
Em segundo lugar,
precisamos deixar de ser o que o outro espera de nós. Hoje em dia
vivemos sendo tão somente aquilo que as pessoas esperam de nós, apenas
para agradar o outro. Sendo assim, deixamos de ser nós mesmos e passamos
a ser apenas uma imagem projetada dos desejos do outro.
As pessoas
aceitam ser essa imagem ideal criada para que, com isso, possam se
sentir amadas pelo outro, mas obviamente isso nunca dá certo. As pessoas
nunca recebem o amor do outro apenas sendo uma cópia do que a mídia e a
sociedade determinam. É fato que muitas pessoas comem muito, consomem
muito e fazem muitas coisas a fim de preencher esse vazio, mas claro que
isso nunca funciona. Parar de viver de acordo com as tendências da
moda, com as exigências do mercado, imitando modelos de comportamento
socialmente aceitáveis e permitindo que nosso interior expresse aquilo
que somos é essencial para aqueles que aspiram a uma vida mais plena e
feliz. Neste caso, a vaidade e o orgulho são os principais ingredientes
do vazio que se forma dentro de cada um.
Em terceiro lugar, as
pessoas precisam se dedicar mais à leituras, ao teatro, a filmes
humanistas, à meditação, à contemplação e ficarem mais tempo sozinhas,
consigo mesmas. Uma das características do mundo atual é que, de uma
forma geral, o ser humano tem medo da solidão, e por isso evita a todo
custo o ato de ficar consigo mesmo. Mas quando uma pessoa fica consigo
mesma, e percebe o quanto isso é positivo, ela começa a se sentir melhor
e passa a não mais temer a solidão. No momento em que ela não mais
evitar a solidão, ela pode se libertar, ao menos em parte, dessa
tentativa sistemática de ser amado pelos outros, e isso ajuda a
extinguir comportamentos de desespero em que visamos ser amados e
aceitos. Passamos a gostar mais de nós mesmos, não como mera
personalidade, mas como uma essência ou uma luz espiritual que vive e se
desenvolve no plano material.
Além dos três aspectos anteriores,
é importante também deixamos de lado as futilidades, as
superficialidades e passarmos a nos dedicar àquilo que realmente
importa, como nossa família, nosso trabalho, nosso desenvolvimento
interior, à leituras, à meditação e a reflexão sobre nossa vida. É
difícil de acreditar que existem pessoas vivendo no mundo de hoje que
jamais fizeram reflexões mais profundas sobre quem são e o que estão
fazendo aqui nessa vida. Pare e reflita sobre essas questões
fundamentais, e procure se ater a tudo o que é essencial, como valores
universais, aquilo que não é tragado pelas correntezas do tempo, como o
amor, a caridade, a compaixão, a paz, a tolerância, o respeito, a vida,
etc. Faça mais períodos de reflexão e não se aquiete caso você não
encontre respostas prontas. A força que empenhamos na busca pelo sentido
da vida é muito mais importante do que o encontro com respostas prontas
e acabadas. Respostas prontas são sempre dispensáveis, uma vez que
podem dar origem ao fanatismo religioso, a intolerância em relação a
crenças e comportamentos alheios, além de gerar estagnação e bloquear
nosso caminho.
Outro fator importante é permitir que a vida flua
com toda liberdade dentro de nós. Emoções presas geram tensão, irritação
e depressão. E como fazer isso? Quando sentir vontade de chorar, chore;
quando sentir desespero, se desespere; quando sentir raiva, bote para
fora sem atingir outros; quando sentir tristeza, fique triste; quando
sentir alegria, viva essa alegria; quando sentir uma emoção, permita sua
livre expressão. Não fique prendendo seus sentimentos, não tenha
vergonha de demonstrar o que sente e nem acredite que emoções que vêm à
tona implicam em fraqueza. Pessoas que vivem se anulando, se reprimindo
frequentemente têm problemas com suas emoções, e passam a viver como
zumbis, autômatos, frios e sem alma. A partir disso cresce um vazio
dentro delas. Não importa se hoje você está triste ou melancólico,
amanhã você estará melhor. Ficar bloqueando a tristeza só fará com que
você não olhe para ela, não a descarregue, não a libere, e assim ela
ficará represada dentro de você e causará muito mais efeitos deletérios
em seu psiquismo.
Reflita sobre esses pontos e procure
praticá-los em sua vida. O vazio interior é ausência de uma existência
plena onde vivemos pelo mundo ilusório e não pela essência que existe
dentro de tudo e todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário