25 de novembro de 2014

São Lourenço: um pedacinho de ordem e progresso dentro do Brasil


Enfim, as férias chegaram! E como o planejado, consegui fazer uma viagem curtinha mesmo, nada para muito longe, com o intuito de descansar. Estava precisando desacelerar, pisar no freio, desanuviar a mente e o coração. A rotina e a correria de todo o santo dia cansam demais. E fora os leões de cada dia que se tem que matar. E mais os problemas que fazem parte da vida. Chega uma hora, à beira do surto, que se não fizer uma pausa forçada, acabou-se! Portanto, eu me dei essa pausa!

Escolhi a cidade de São Lourenço em Minas porque não conhecia e sempre que vejo fotos ou ouço relatos é sobre uma cidade fofa, com moradores educados e simpáticos, além de ser ótima para descansar pela tranquilidade e uma ótima qualidade de vida pela natureza próxima. Tudo que eu precisava! Quem me conhece sabe que adoro fazer mil coisas nas viagens, passeios e afins. Mas desta vez, tal meu desânimo e cansaço eram grandes que eu necessitava apenas de um canto pra relaxar, fora desta loucura que a vida em uma cidade grande pode se tornar. Então, hotel e passagens ajeitados, malas prontas e lá vamos nós.

Confesso que achei que não eram nada aproximadamente 5 horas de viagem. Mas, ao longo do tempo com engarrafamentos e acidentes de percurso no caminho, já estava no auge da minha intolerância e impaciência dentro do ônibus. Mas, mantinha a minha cabeça focada em um lugar sossegado e que não via a hora de chegar. Por fim, após sair à 13h e chegar lá pelas 19h estava morta e com a bunda doendo de tanto ficar sentada. Precisava de um banho e comida. A única coisa que consegui ver mais ou menos foi o portal da cidade. Uma graça!  E sentir o clima, já com a temperatura caindo junto com a noite. 

Ao chegar no hotel fomos muito bem recebidos pelos donos japoneses que tinham um sotaque de mistos oriental, mineiro e carioca (pois haviam morado algum tempo no Rio). Um samba meio doido mas que dava pra levar. Fomos levadas eu e minha mãe às nossas acomodações simples porém tudo ajeitadinho e limpinho. Fomos informadas que em 15 minutos seria servido o jantar (lá a maioria dos hotéis tem a pensão completa embutida nas diárias, o que torna mais em conta também), o que eu dei Graças a Deus! O dia não estava sendo um dos melhores por conta de alguns acontecimentos no Rio que eu tinha tido conhecimento, mas eu começava a me sentir um pouco melhor quando comecei a sentir outra atmosfera me envolvendo, novos ares. 

Tomamos uma banho numa ducha ótima e seguimos para o restaurante. Toda a decoração do lugar era de temática japonesa misturando estilo rústico de cidade do interior. Me assustei ao constatar que apenas nó estávamos jantando no local. Mas para uma segunda-feira fora do mês de férias tradicional, realmente eu não poderia esperar muito. A comida veio farta de opções e quantidade, um gostinho saboroso caseiro me levou por alguns minutos de volta aos tempos de comidinha da vó (fiz essa viagem por uma semana em todas as refeições). Estava faminta e a comidinha gostosa contribuiu para eu me enfastiar a tal ponto de recusar a sobremesa de doces caseiros que são os que mais gosto. Após o jantar, fomos pegar uma fresca na varanda. Eu achei que seria uma fresca, mas tive que me render ao casaquinho, pois era notável agora o clima mais frio e ao mesmo tempo aconchegante. Mas o cansaço físico e mental venceram e por mais que deitar numa rede após o jantar fosse bem gostoso, meu corpo pedia cama e sono. O dia seguinte prometia ser melhor. E mais descansada estaria mais disposta a olhar com bons olhos esta cidadezinha que já me cativava pelo pouquíssimo que conhecia. 

No dia seguinte tinha mais gente para o café. Todos muito educados fizeram questão de nos oferecer seus "bom dia". Coisa não muito comum para quem vive numa cidade grande onde cada pessoa parece viver dentro de uma bolha eterna, impenetrável! Após estarmos devidamente alimentadas, seguimos para o Parque das Águas, tradicional parque na cidade que contém as fontes de águas naturais com propriedades medicinais, apadrinhadas pela Nestlé. Além de ser um excelente local para práticas de exercícios e lazer no estilo relaxar. Ao comprar o ingresso, primeiro fiquei boba com o preço. Pra quem está acostumada com os preços exorbitantes do Rio, onde todos querem lucrar em cima de você. Segundo, um ótimo incentivo para a visitação no parque era comprar um ingresso e este poder ser usado até duas vezes no mesmo dia. Caso fosse caminhar pela manhã e tivesse interesse em voltar à tarde, não precisaria desembolsar novamente a quantia. Começava aí a perceber uma cidade que visava incentivar seus cidadãos a participarem de seus propósitos, quais quer que fossem eles. 

Já na entrada o parque dá ideia de sua beleza. Com flores por todos os cantos, banquinhos de madeira ou de troncos de árvores, um verde imensurável e a perder de vista. Meus pulmões começaram a se abrir para um ar 90% puro (sim, porque como em toda e qualquer cidade povoada, existe a poluição). Nos pusemos a caminhar, e a cada passo mais estava eu encantada não só pela preservação do lugar como pela limpeza total e completa. O máximo que se via no chão eram folhas, e que eram varridas a toda hora. E mais algumas placas de instruções de condutas aos visitantes eram vistas pelo parque e por incrível que pareça, eram atendidas. Como usar a coleta seletiva, não pisar na grama, não alimentar animais, não se lavar nas fontes e etc. Olhando em volta, percebi que a maioria era morador local e que fazia uso do parque para caminhadas ou práticas de outras atividades esportivas que tinham lá. Realmente, lugar mais propício não há. Uma linda manhã ensolarada se apresentava para mim por entre árvores, flores e lagos. Estava eu no paraíso? Depois de algumas horas de caminhadas pelo parque, com direito a fotos e algumas provas de águas das fontes (podem fazer bem, mas o gosto não é lá essas coisas não!), voltei para o hotel. Mas tinha certeza de que eram certas as idas ao parque por duas vezes ao dia. Pena que não poderiam ser três!

Depois do almoço fomos desbravar a cidade. Passamos de táxi vindo da rodoviária por algumas ruas ontem, mas o cansaço era tanto que me impediu de reparar melhor. Só o suficiente para perceber que o comércio local era grande e com grandes marcas. E que em nada se parecia com comércio de cidadezinha. Era expansivo. E olhando os preços nas vitrines, quase desmaiei, tudo barato! Barato mesmo! Não eram liquidação ou promoção para turista. Roupas então... o que custa uma aqui no Rio dava para comprar umas três, lá. E era vestuário, alimentação, móveis e artigos de decoração, artesanato, eletroeletrônicos e domésticos. Tudo era absurdamente mais em conta lá. E novamente, atentei para a limpeza da cidade. Só que agora eu percebia que não era só o chão que não tinha sujeira, nem guimbas, chicletes e panfletos. Não tinha nenhum tipo de publicidade que pudesse contribuir para a poluição visual da cidade. Não tinham cartazes colados por todos os cantos e panfletos jogados ao chão. Também não tinha poluição sonora, nenhum carro berrando nenhuma música ou fazendo anúncios chatos. Achei fenomenal! Andando mais um pouco, vi que algumas placas eletrônicas espalhadas pela cidade continham dizeres do que era terminantemente proibido. E inacreditavelmente, atendido prontamente pelos moradores e turistas. Aliás, mais pelos moradores que tinham satisfação e orgulho de contribuir com a cidade onde moram. Aos turistas além da vergonha de suas cidades serem do jeito que são, não resta outra alternativa a não ser entrar na roda, pois você sente-se até mal fazendo algo impróprio em um lugar assim onde quase não há desvio de conduta e caráter. As placas de sinalização de trânsito são obedecidas (onde pode parar, por quanto tempo, se é contramão, o limite de velocidade, a preferencial). Minha maior surpresa foi constatar, depois de procurar que não existia sinal para atravessar a rua. Observamos os "nativos" rs e vimos que eles paravam na faixa que geralmente eram um pouco mais altas como um quebra molas, só que menor. Ao menor sinal de pedestres querendo atravessar, os carros paravam, prontamente. Sem buzinas e reclamações. Sem xingamentos e o carro ficar naquele arranque querendo passar por cima. Nada! E se os carros te avistavam e você ficava na dúvida se podia atravessar ou não, ele mesmo buzinava para você apontando que poderia atravessar sossegadamente. Gente, quanta evolução! Fiquei pasma. Pra mim esse tipo de coisa só existia lá fora do Brasil ou em cidades com outra colonização só que muito maior como o Sul (eu não conheço pessoalmente, mas tenho relatos de gente que já foi pra lá e diz que é assim). E depois deste banho de cidadania e civilidade, ainda vem turista de grandes cidades querer tirar onda com a cara dos "caipiras" de cidade pequena? É ruim, hein? Se eu ver algo do tipo ainda dou lição de moral no espertalhão! Somos soberbos demais com noção limitada de nossas obrigações e capacidades enquanto cidadãos.

Eles podem não ter nossos arranha-céus, nossa tecnologia, nosso desenvolvimento acelerado, mas os atrasados somo nós. Eles, em matéria de organização, cumprimento de normas e leis, obrigatoriedade, e participação do cidadão com seus papéis cumpridos na sociedade dão um banho em nós. Tudo bem que a população local é pequena, bem mais fácil de controlar, de vigiar. Mas eu entendo que mesmo tendo cinco pessoas num lugar, se alguém quer tumultuar e tornar caótico, basta fazer, E se outros quiserem seguir o exemplo, vão seguir. Não há nada que os impeça de "badernar" (Gostaram? Acabei de inventar! Rs). Mas em São Lourenço não. Cada indivíduo zela por outro e juntos, zelam por um todo. Foi mais ou menos assim que entendi a coisa toda. A cidade investiu pesado no turismo, mas ao mesmo tempo, para não se perder em crescimento desordenado, investiu pesado na conscientização de seus moradores. Quer maior exemplo do que as próprias pessoas que moram na cidade cuidar dela? E outros pontos eu percebi também. Quase não existem animais abandonados nas ruas. O que também é crime abandonar animais. E os poucos que têm são cuidados pelos restaurantes e locais de alimentação. Não são um estorvo e sim faz parte cuidar. Também quase não existem moradores de rua. E os poucos que tem são cuidados por igrejas e instituições. Que recebem mensalmente contribuições da prefeitura e dos moradores. Que além da contribuição financeira fazem questão de ajudar com doações de vestuários e alimentação, assim como remédios e quaisquer outros tipos de necessidades.

E não parou por aí... os dias se seguiram e além de caminhar no parque e conhecer um pouco da cidade andando pelas ruas, visitamos o artesanato local, a Maria Fumaça de 1914. Na estação, foram gravadas as cenas de Chocolate com Pimenta (algumas). O passeio é muito agradável, com música, degustação de queijos, vinhos e cachaça artesanal. Passeamos de charrete e eu juro que só em fazenda vi cavalos tão bonitos e bem cuidados assim. Os trabalhadores, digamos assim, não visam só o lucro com os passeios. Eles entendem e respeitam que o animal necessita de repouso à sobra com água fresca e trabalha um determinado n° de horas por dia/semana. Passado disso, é exploração. Aliás, como a charrete, além de entretenimento é um meio de transporte quase equiparado com táxi, tem placa e leis de uso e condução. Já viu isso? E o local onde elas ficam estacionadas é regularmente limpo, diversas vezes por dia pelos donos. Deixando assim a rua limpa. E por falar em limpeza (mai do que já falei até agora) fiquei boba com o n° de coletas seletivas espalhadas pela cidade. E também com o acondicionamento do lixo que é retirado igualmente aqui com dias e horários estipulados. Não fica um monte de lixo acumulado num lugar, é multa na certa. Além disso, uma cota vem anexada a conta de água e esgoto para o lixo. E sobre a coleta seletiva, quanto mais se faz, ainda se ganha para isso. A cota do lixo pode ser abaixada cada vez que constatada a eficiência da coleta seletiva no endereço. Ajudando o ambiente e o bolso junto. 

Sobre as pessoas, o que falar? Totalmente cordiais e hospitaleiras, simpáticas e educadas. Todos, sem exceção! Fizemos amizade com uma vendedora de anéis com quem ficamos horas a fio batendo papo. E com a atendente da Vó Bisa de laticínios onde por sinal, estão os melhores queijos e doces em compota que existe. Ah, e experimentei o famoso pão com linguiça mineiro. Que delícia! Mas claro que para alguém que não está acostumada com linguiça picante, toma-lê água depois rs. Ficamos amigos da vendedora da loja de chocolates artesanais. Delicinha também. E do dono da cervejaria onde fomos na última noite, provar as deliciosas cervejas artesanais. E olha que eu nem sou chegada a... Mas tinha uma lá a Ouro Pretana, tão levinhaaaaaa. Trouxe pra casa rs! O menino da charrete também ficou nosso amigo e passou a nos levar pra cima e pra baixo quando as pernas já não aguentavam mais ir e voltar do hotel, mesmo sendo perto do centro, depois de andar por duas vezes no parque todos os dias. E não posso esquecer do taxista que ficou nosso amigo e nos deu boas dicas na cidade. Sem falar de todo o pessoal do hotel, donos e funcionários, sempre solícitos, simpáticos. Realmente, foram 6 dias em que me senti quase em casa. E gostei tanto da cidade que moraria lá rs. Aliás, penso nisso um dia. mais velha, em reduzir a velocidade, ir pra um lugar mais calmo, visando melhor qualidade de vida. 

Fiquei mal acostumada e quando cheguei no Rio foram o trânsito, são notícias de assaltos e violência, esse povo mal educado e desordeiro. Essa gente que quer se dar bem às custas dos outros. Ninguém liga pra nada. Esse ritmo que não para. Outra coisa que eu reparei lá é que apesar de antenados e conectados e online, as pessoas não vivem cada qual com seus narizes enfiados nos aparelhos e alheios para a vida, sabe? Apesar disso, eles vivem. E tem tempo pra tudo. E o tempo rende, olha só! E a ida caminha num ritmo mesmos acelerado e mais prazeroso. As pessoas se curtem, curtem a cia, curtem o papo, curtem o olho no olho, aquele cumprimento bobo de todos os dias. E nesse ritmo a vida lá flui, calmamente e com tranquilidade na medida que dá. Até os alunos, podem crer, são diferentes lá. Adolescente é bagunceiro e criança é arteira em todo lugar. Mas até zona deles é organizada rs. Não parece que tá tendo um arrastão ou geral correndo de uma manada de elefantes na saída da escola. também não se ouve xingamentos mil. E olha que o hotel ficava quase ao lado de uma escola pública e por uma semana vi a entrada e a saída da escola, sempre seguida de agitação, mas com limites. 

Ah, não sei nem dizer do que mais sinto falta até hoje. Se do povo acolhedor, da cidade ordeira, de uma vida mais tranquila e que flui com leveza, se das caminhadas no parque que com a natureza e o silêncio me deixavam mais perto de Deus, se da felicidade simples e genuína ou se de tudo junto! E é claro, das pessoas pronunciando o meu nome carregado nos "erres". Aliás, ô sutaquezinho fácil de pegar, gostoso de falar e quando eu menos dou por conta, lá estou eu falando com erres e adjacências rs. Pois é, dizem que é assim né? Tem coisas que a gente sai delas, mas elas não saem da gente. Acho que esses dias lá são mais ou menos assim. Vai ser difícil de tirar de mim tanta coisa boa. E que um dia eu possa voltar lá novamente...

E de simples férias, tirei os melhores dias do meu ano!

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