Lendo aqui e ali, chegou aos meus olhos esse maravilhoso texto. Não conheço o escritor. Não sei dizer se é real ou fictício. Mas tem tanta verdade, tem tantos sentimentos contidos, tem tanta identificação... quem nunca fez ou passou por isso: as armadilhas do amor! Amar e não ser amado, dar e não receber, ser trocado, magoado, tentar esquecer de forma errada, dispensar as pessoas certas, cair no escuro de um abismo profundo e não ver a luz do dia ou da noite. Mas aí, um dia, um simples dia, um dia qualquer, que começa e termina como um dia qualquer, as coisas vão se dissipando e quando a gente percebe, puf no ar, sumiram. E pode a causa ser outro alguém e pode a causa sermos apenas nós mesmos. E a gente vê que todas aquelas frases prontas acontecem de fato: "uma hora vai passar", "você vai superar", "um dia você vai rir de tudo isso"... E é impressionante como quando a gente não sente mais dor e nem amor, nem raiva e nem pena, não sentimos nem indiferença, não sentimos absolutamente NADA por alguém que um dia tanto foi e muita coisa - boa e ruim - nos fez sentir. E simplesmente conseguirmos, enfim, seguir com a vida. Mas o mundo dá voltas, nos surpreende e vivemos constantemente essas surpresas...
Eu faço questão de compartilhar aqui esse texto que é um pouco longo, pois é uma carta e uma resposta a essa carta, mas que tenho certeza que quem ler vai se sentir tocado, de alguma forma e vai fazer uma visita ao passado, em algum momento. E também vai sentir o alívio de se ver uma pessoa liberta, ou o mal de saber que eternamente será uma pessoa arrependida e ressentida. Não importa que tipo de relacionamento é, se homo ou hetero, pois o que está em xeque aqui é o sentimento e a maneira como uma relação foi tratada e como repercutiu de maneira diferente - ou iguais - para os dois lados.
Boa leitura e reflexão, sobre o amor, os relacionamentos, as pessoas, valores e condutas, a vida...
A resposta.
Resposta que recebi do meu ex namorado:
"Oi Rafa.
Se ex é aquele que antecede, sou seu ex então.
Não sei escrever tão bem quanto você, mas vou tentar.
Talvez por isso que eu só tenha te escrito uma carta em 2012.
Enquanto você me mandou pelo menos dez.
Tenho todas ainda.
Teu e-mail foi uma porrada na minha cara.
Nocaute.
Eu sabia que tinha te machucado, mas não sabia a gravidade.
Vi que você postou o e-mail nas redes sociais.
Bombou.
Obrigado por não ter divulgado o meu nome.
Seria uma boa vingança.
Tava na padaria tomando um café e vi um casal falando sobre o e-mail.
Abri o facebook e vi alguns amigos compartilhando o texto.
Será que sabiam que você estava falando de mim?
Não sei.
Quase 3 anos se passaram.
Eu não sou mais aquele que fugiu sem prestar socorro.
Você não é mais aquele que foi destruído.
Amadurecemos.
Algumas coisas precisam ser levadas em consideração.
Eu tinha acabado de "me assumir" gay.
Você foi o meu primeiro namorado.
Era tudo muito novo pra mim.
Caí em tentação.
Eva também caiu.
Cauã Reymond, Kristen Stewart, Brad Pit.
Maria, Pedro, José, Ana.
Nada justifica, eu sei.
Mas somos humanos e estamos sujeitos.
"Errar é humano". Já ouviu falar?
Você tão inteligente.
Já formado.
Com um emprego incrível.
Mil projetos engatilhados.
Cheio de amigos legais.
Um cara tão forte.
Promissor.
E eu? O que eu era naquela época?
Um estudante.
Com um emprego ruim.
Trabalhava pra pagar os estudos.
Poucos amigos.
Incrivelmente seguro, eu?
Toda a minha segurança era simulada.
Sempre me senti inferior a você.
O que esse cara está fazendo ao meu lado? Eu pensava.
Você inflava meu ego com tanto amor.
Você me chamava de "incrível", de "inteligente", de "especial".
Embora eu me considerasse um grande nada.
O que esse cara tem na cabeça?
O que ele está vendo em mim?
Alguém avisa pra ele que eu não sou tudo isso?
Você criou expectativas demais em cima de mim.
Eu nunca fui tão bom quanto você pensava.
Ok. Você fazia eu me sentir incrível.
Você fazia eu me sentir inteligente.
Você fazia eu me sentir especial.
Mas aí tive que fingir ser tudo isso.
Fingi pra que você continuasse achando.
E pra que pudéssemos ficar juntos.
Pra sempre, talvez.
Fingi.
Até cansar de fingir.
E fui embora.
Eu sempre achei que você ficaria bem caso eu partisse.
Ele vai conhecer alguém melhor do que eu em questão de dias.
Nunca pensei que poderia te causar tanta dor (mesmo).
Tudo bem, eu poderia apenas ter terminado.
Mas eu te traí.
E você descobriu.
Ou eu poderia nem ter terminado e ter tido uma história feliz ao teu lado.
Mas a minha síndrome de inferioridade não permitiu.
Eu lembro que fiquei paralisado quando você me pegou no flagra.
Eu não consegui ir atrás de você pra te pedir desculpas.
O teu silêncio e o teu olhar berraram tão alto que eu fiquei imóvel.
O teu olhar naquela noite, lembro até hoje.
Foi como se você tivesse me dito tudo o que gostaria de dizer.
Apenas com o olhar.
Telepatia.
Eu entendi ali que tudo tinha acabado.
E pensei: "Ele vai ficar bem".
Você pode achar que eu não sofri.
Mas eu sofri, sim.
Chorei no meu quarto por ter sido tão babaca contigo.
Você não merecia passar por isso.
Logo você que sempre me deu tanto amor.
E motivos pra sorrir.
Voltei a viver.
Achava que você logo ficaria bem.
Que você encontraria alguém a sua altura
Conheci outro cara.
Comecei a namorar.
E olha a vida sendo vida:
Fui traído.
Peguei mensagens no celular dele.
E foi um soco no estômago.
Sofri bastante.
Quem bate, esquece, quem apanha, não.
Me joguei na balada e peguei geral.
Numa dessas noites me disseram que você estava por lá.
Fiquei com um cara e parece que você viu.
Eu jamais imaginei que você ainda se importasse comigo.
"Esse cara não deve nem querer saber que eu existo."
"Deve ter vergonha de ter namorado comigo."
Ou simplesmente não pensei nada.
Eu estava vivendo a minha vida ao estilo "deixa a vida me levar".
Eu parei de medir os meus atos e sem freio fui seguindo.
Um dia sozinho no meu quarto eu comecei a ler as cartas que você me enviou quando namorávamos.
E bateu uma saudade muito grande.
Saudade de ser amado
Amado de verdade.
Liguei pra você pra perguntar sobre o meu óculos.
Que na verdade sempre esteve comigo.
Foi só um pretexto pra ouvir tua voz.
Um pretexto pra dizer que estava com saudades.
Um pretexto pra pedir desculpas.
Um pretexto pra dizer: "volta pra mim".
Mas quando eu ouvi a sua voz eu travei.
Não consegui dizer nada.
E desliguei.
E voltei a namorar.
Sem muito critério.
As coisas já não eram mais novidade pra mim.
Eu só queria encontrar alguém, começar a namorar e recomeçar a minha vida.
Novamente levei um tapa na cara da vida.
O cara que eu comecei a namorar veio com um papo de "diferenças culturais".
Disse que era bom demais pra mim.
E me deu um grande pé-na-bunda.
Doeu.
Lembrei de nós dois.
Das nossas diferenças.
E do amor que você tinha por mim, ainda assim.
Você gostava de mim assim, do jeito que eu sou.
Senti saudades.
Fui pra balada e te reencontrei por lá.
Acompanhado.
Namorando.
Você estava tão lindo.
Você estava tão vivo.
E eu já estava destruído.
Com o coração destruído.
E eu te procurei.
E pedi pra voltar.
Levei quase três anos pra te pedir desculpas.
Antes tarde do que nunca.
Não é mesmo?
E recebi o seu e-mail com aquela resposta.
Que me fez entender toda a situação.
Às vezes a gente não tem ideia do poder dos nossos atos.
Às vezes o amor fere, mas às vezes ele cura.
Eu poderia simplesmente ignorar o seu e-mail.
Poder ficar bem e ser feliz.
Poderia aproveitar ao máximo.
Com verdade.
Uma vida de verdade.
Um amor de verdade.
Pra não ter uma vida vazia.
Mas me dei conta que quero viver com você esse amor de verdade.
Essa vida de verdade.
Vazia a minha vida já está.
E só você pode preencher.
Pode parecer pretensão da minha parte.
Mas se você escreveu aquele e-mail com tanto sentimento e com tanta verdade.
É porque ainda sente.
Ainda ama.
E se esse for o caso, eu vou estar aqui te esperando.
Pra gente recomeçar.
Recomeçar do zero.
Pra mostrar que tudo na vida tem um tempo certo.
E talvez o nosso tempo seja agora.
Um beijo.
Te amo."
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Querido Ex.
"Oi.
Sou seu ex.
Na verdade você é meu ex.
Ex é aquele que antecede.
Sou o seu ex, do ex, do ex, do ex. Se é que isso realmente existe.
Depois de mim você namorou três ou quatro vezes, acompanhei tudo secretamente pelas redes sociais.
Começamos a namorar em 2012 e terminamos no mesmo ano.
2012
foi um ano maluco, não é mesmo? O mundo iria acabar. E não acabou.
Nosso namoro, esse sim, acabou. Eu cheguei a pensar que a minha vida
também fosse acabar, mas veja só: 2015 chegou e eu ainda estou aqui.
Profecias erradas.
Namoramos poucos meses.
Você me fez tão feliz.
Nunca havia me apaixonado tanto.
Eu dormia sorrindo e acordava com um sorriso ainda maior.
Você era o meu primeiro e meu último pensamento do dia.
O nosso primeiro beijo arrepiou a minha alma e você perdeu o fôlego, lembra?
Você tão incrivelmente lindo.
Você tão incrivelmente seguro.
Você.
Só você.
Mas aí você me traiu.
Me traiu com um colega de trabalho.
Me traiu com um colega de trabalho qualquer.
E me destruiu.
E foi embora.
Partiu sem se importar.
Frio.
Calculista.
"Homem foge sem prestar socorro."
Manchete no jornal da vida.
Da minha vida.
Que já não tinha mais sentido.
Eu eu fiquei em estado de choque.
E comecei a fumar.
E bebia pra não lembrar.
E fumava pra tentar me acalmar.
E bebia porque eu lembrava.
E fumava porque não esquecia.
E bebia porque não me acalmava.
E fumava cada vez mais.
E bebia pra tentar esquecer.
E não esquecia.
E não me acalmava.
Então comecei a sair.
Meus amigos me arrastaram pra balada.
E eu te reencontrei por lá.
E você estava tão feliz.
E você estava tão lindo.
E eu só queria te abraçar e dizer:
- Tudo bem eu te perdoo, errar é humano, vem aqui, vamos tentar outra vez.
Mas você abraçou outro cara.
E beijou esse cara.
NA-MINHA-FRENTE.
E me destruiu novamente.
E eu bebi e fumei ainda mais.
Porque me traiu com o seu colega de trabalho se não tinha intenção de ficar com ele?
Me traiu só por trair?
Quem é esse cara que você está beijando?
Eu tinha tantas perguntas pra te fazer.
Eu tinha tanta dor dentro de mim.
Eu estava tão frágil.
E passei a ter raiva.
E um dia você me ligou.
Eu ouvi a sua voz.
E a raiva passou.
Mas você só perguntou pelo seu óculos.
Que não estava comigo.
E desligou.
E começou a namorar com outro cara.
Que não era o colega de trabalho, nem o cara da balada.
E você estava tão vivo.
E encheu o instagram de fotos.
E legendou as fotos com palavras de amor.
E terminou o namoro.
E encheu o instagram com fotos na balada.
E começou a namorar com uma outra pessoa.
E o ciclo era sempre o mesmo.
E eu fui murchando aos poucos.
Fui morrendo lentamente.
Tive que focar no trabalho.
Pra não morrer por inteiro.
E trabalhei muito.
E fui promovido.
Uma. Duas. Três vezes.
E só trabalhava.
E te acompanhava de longe.
Acho que gosto de sentir dor.
SADOMASOQUISMO.
E dispensei tanta gente que queria ficar comigo.
Tanta gente legal.
Vesti um escudo.
Achei que todas as pessoas eram igualmente maldosas.
Maldoso como você foi.
Comigo.
E com o cara depois de mim.
E com o outro cara, depois do cara depois de mim.
E vi algumas pessoas querendo cuidar de mim.
Teve um que chorou e disse que queria me fazer feliz, pediu permissão.
E eu disse não.
E de tanto dizer não.
Acabei dizendo sim.
E eu já não fumava mais.
E eu bebi, mas dessa vez foi pra brindar.
E eu me senti amado.
De verdade.
Pela primeira vez.
E me senti feliz.
E me peguei sorrindo sozinho.
Sorriso bobo.
E voltei a amar.
E não era você.
Verdade. Reciprocidade.
E você foi acabando dentro de mim.
Até acabar por inteiro.
E eu passei a dar risada sobre tudo o que aconteceu.
As pessoas me diziam que um dia eu iria rir disso tudo.
E eu ri.
E eu te reencontrei na balada.
E não senti nada.
Olhei pro meu namorado e vi um abismo entre você e ele.
Eu só desejei que a tua maldade e que a maldade do mundo nunca atinja quem agora eu amo.
E que ele nunca se corrompa por tão pouco.
Como você se corrompeu.
Que o mundo é sujo eu sei.
Você me mostrou.
Mas é possível sair ileso, basta ser bom. Basta ser do bem, meu bem.
E você me viu feliz com outro alguém.
E me mandou mensagem.
Disse que eu estou bonito.
Que o tempo me fez bem.
E fez mesmo.
E você pediu pra voltar.
Disse que se arrependeu de tudo e que sente muito a minha falta.
Disse que eu fui o único que realmente te amou de verdade.
Há 1 ano atrás eu correria pros teus braços.
E te dava todo o meu amor outra vez.
Hoje eu te deixo esse e-mail.
Que é a única coisa que eu tenho pra te oferecer.
Fica bem e seja feliz.
A gente só vive uma vez.
Aproveita ao máximo.
Aproveita com verdade.
Uma vida de verdade.
Um amor de verdade.
Pra não ter uma vida vazia.
Tchau."
Rafael Koerich