14 de março de 2015

Os melhores dias da minha vida!





E numa destas curvas da vida, a gente se deparou com um cruzamento logo à frente, e nos separamos. Não, não foi fácil! É muito mais difícil dizer adeus do que se pensa. Mesmo que passemos horas a fio na frente do espelho ensaiando as melhores palavras e nos preparando para as emoções do momento. Nunca estamos prontos de fato. Principalmente para lidar com aquele buraco que fica, aquela sensação de vazio, de abandono, de incompletude, de que parece que nunca mais seremos refeitos e que ninguém no mundo inteiro será capaz de ser o que um dia alguém foi para nós. As pessoas se separam por não se gostarem mais, não por estarem completamente apaixonadas. Mas foram atrapalhadas pelas incompatibilidades da vida. 

E todos me dizem: "um dia vai passar", "quando menos esperar, você conhece outro alguém", "não vale a pena ficar cultivando esse sentimento, vá curtir a vida", "ela não merece que você fique assim". Ok. Agradeço todos que se importaram comigo, mas discordo da grande maioria das coisas que me foi dita. Até porque, a grande maioria que me disse coisas triviais que apenas repetem sem parar sequer para pensar no que de fato dizem, ou estão com seus amores ao lado, ou nunca conheceram o amor. Ou vivem de conveniência! A única coisa que de fato concordo, é que um dia, passa. Não que esqueçamos. Mas vai lá pro baú das lembranças. Junto com tantos outros amores e vivências e momentos e pessoas especiais. E algumas certezas que a gente cala pra poder seguir em frente. A gente caminha pra frente, vai levando, vai vivendo, não tem jeito. É o ritmo natural da vida. Mas a verdade interior de cada um sempre vai estar lá, seja a cada olhada no espelho ou a cada visita aos pensamentos perdidos nas horas vagas.

E como dizer que não foi nada, que não valeu a pena, que foi em vão? Foi simplesmente tudo! Uma destas coincidências que a vida nos reserva e quando menos esperamos, tchum! Lembro de quando nos conhecemos, meio que por acaso. Num destes barzinhos da vida, quando a gente vai despretensiosamente apenas para beber e ver o agito. Na verdade, eu fiquei de olho foi na amiga gostosa dela! Tá certo, não dei muita bola pra ela. Na verdade, até a usei para tentar chegar à amiga, mas com a minha sorte com as mulheres, aliado ao meu charme irresistível, trocamos algumas meras tentativas furtivas de uma aproximação que foram falhas. Por fim, apesar da tentativa dela por me achar um "cara legal", apenas levantou e desceu os ombros no fim da noite querendo dizer, "desculpas, mas não vai rolar". Pagaram a conta e saíram porta à fora sem nem olhar pra trás.

Nosso segundo encontro também foi meio inesperado. Nos corredores de um mercado. Lugar beeeemmm romântico. Lembro que olhei pra ela e de cara me pareceu familiar, mas minha memória me trai a toda hora e eu achei de cara que a estava confundindo com outra pessoa, só podia. Mas, me permiti dar uma olhada mais apurada nela e apesar de jeans, camiseta básica, sapatilhas nos pés e um nó no alto da cabeça com o cabelo, estava com uma beleza singela, principalmente porque emanava felicidade, olhando embalagens e comparando preços. Minha divagação não demorou muito para ser perturbada, por ela! Como num relance, ela olhou pra mim, parou por uns instantes e deu um tchauzinho tímido, acompanhado de um sorrisinho. Na certa com medo de que eu não a reconhecesse, como reconheci. Ou que também estivesse se confundindo. Mas ao emparelharmos carrinhos naquele corredor estreito cercados por enlatados, ela me lançou um "oi" meio sem jeito e disparou logo "infelizmente naquela noite a minha amiga não estava boa pra investidas". Ráaaaaaaaa, sim era ela e graças a Deus a minha memória falha não me traiu. Mas nossa, eu não reparei nela naquela noite como estou reparando agora. E que além de bem vestida, era educada e simpática. E fiquei em fração de segundos tentando entender porque cargas d'água eu me interessei pela pessoa errada? Coisa sem explicação! E ela me arrancou das minhas indagações me perguntando algo sobre se eu já tinha experimentado uma marca de molho de tomates. 

E de repente, de uma coisa idiota a conversa fluiu como água em rio. E de comida fomos para o tempo, do tempo para a novela, da novela para o trânsito infernal e depois de pagarmos as compras, não me lembro bem como fomos parar nos finalmentes, mas combinamos de tomar um chopp no fim da semana. Ajudei-a com as compras no carro e segui meu caminho, me perguntando como eu não estava fazendo esforço para ser conversado, cavalheiro e tudo o mais, como geralmente eu fazia. Estava simplesmente sendo...

E a semana seguiu com várias vezes ela habitando a minha mente. Entrando sem pedir licença, com aquele jeitinho despretensioso mas de quem já chega chegando. Fiquei lembrando da risada dela com coisas tolas e também da mania de mexer no cabelo. Não sei bem se é por nervosismo ou puramente mania. Notei também que os olhos mudam de cor à luz do sol, ficam mais claros. E que ela caminha parecendo dançar, porém pisando firme e com determinação. Me peguei mais atento aos detalhes sutis, imperceptíveis aos olhos nus, mais do que no corpo que logicamente chama a atenção e na beleza do rosto. Coisa que qualquer um consegue reparar. Notei também que ela é inquieta, assim como eu, sempre tem que estar procurando algo para focar a atenção, apesar de estar no meio de um conversa, de um grupo de amigos, de um bar cheio de gente. Até porque no mínimo eu não queria pensar que seu olhar não gostaria de se encontrar com o meu. E nunca torci tanto para uma sexta-feira chegar que não fosse primeiramente para me livrar do trabalho, mas quanto mais eu ansiava, mais distante ela ficava.




No dia mesmo estava mais inquieto do que de costume. Distraído, pensamento longe. Deixei pessoas falando sozinhas ao longo do dia e me peguei imaginando algumas coisas, coisas essas que tento afastar da minha mente, pois não queria expectativas de nada. Mas ao mesmo tempo precisava delas. E o dia se arrastou, como sempre quando temos algo que queremos muito que chegue. Entrei no mesmo bar com as pernas meio bambas, as mãos transpirando um pouco e a respiração meio ofegante. Tentava me manter calmo e relaxado e não estava entendendo as reações do meu corpo. Como um tufão de ar, ela abriu a porta e iluminou o ambiente, apesar de ser noite. Não estava pouco e nem muito arrumada. Estava perfeita! Ela me viu logo de cara e abriu aquele sorriso largo e cativante. E nem esperou que eu me levantasse pra puxar a cadeira pra você. E pra minha surpresa, ela não sentou na minha frente e sim ao meu lado. Me deu um abraço e um beijo no rosto de cumprimento e já me mandou um "e aí?" como se fôssemos velhos conhecidos. pronto, nos conectamos! E como era de se esperar, meu nervosismo sumiu. E as conversas vieram, junto com os chopps e risadas. E eu contei um pouco mais sobre mim e ela me falou mais dela. Não chegamos a ir fundo demais, mas o suficiente para estabelecermos uma intimidade maior. E nas pausas entre as conversas e os goles de bebida, ela cantava a música do ambiente, olhava em torno mexendo no seu cabelo e encontrava meus olhos e os encarava. E a noite foi maravilhosa, divertida, leve, como há muito tempo eu não tinha. E eu mal podia esperar pelo próximo encontro, sentia que não podia mais ficar longe dela, ela era vida. A vida que eu queria! Meio sem jeito nos despedimos e me lembrei que não tínhamos até agora perguntado o nome um do outro, como se fosse totalmente dispensável. Mas ao ouvir a palavra Marina, parece que fui marcado à ferro e fogo na pele.

Mais dias vieram, cinemas, barzinhos, praias, passeios de bicicleta, ver o pôr-do-sol, caminhar sob a luz do luar, jantares em casa, filmes no sofá, jogos em dia de chuva, cozinhando juntos, alguns fins de semana em lugares diferentes e tudo era simplesmente sensacional, inovador, reconfortante, animador. Éramos invejados por outros casais e por aqueles envergonhados com exibição explícita de amor e felicidade. Todos os dias ao acordar e ver o rosto dela tranquilo dormindo ao meu lado e à noite relaxada sob o meu corpo, vendo TV, lendo um livro ou conversando sobre tudo e sobre nada, me perguntava como as pessoas demoravam tanto para ser felizes. Ou para achar a felicidade. Será que elas esperavam demais? Ou se cobravam demais? Sei lá, tanto faz... eu simplesmente achei e da forma mais simples do mundo: basta Marina estar junto à mim. E assim seguiram-se meses, passamos de amor de verão, de carnaval, de casal que se junta pra passar o dia dos namorados junto rs. Passamos também pelo inverno, por mais algumas datas comemorativas e nelas, conhecemos as famílias um do outro, amigos, onde fomos aceitos e acolhidos. Pois todos, sem exceção, pareciam perceber o fomos feitos um para o outro.




Porém, nada dura pra sempre! Ou ao menos não do jeito que gostaríamos. E como naquele texto "que seja eterno enquanto dure", vivi intensamente os melhores dias, semanas, meses e anos da minha vida naquele longo porém curto espaço de tempo. Quanto tempo não sei precisar, eu não contei. Eu simplesmente amei, ri, chorei, briguei, fiz as pazes, fiz amor. Eu simplesmente vivi embriagado de Marina todo esse tempo que estivemos juntos. E eu me doei, eu cresci, eu aprendi, eu mudei, por ela e no final das contas, por mim mesmo. Mas também ensinei coisas e sei que alguma parte de mim vive nela. E fomos aluno e professor, alternado papéis na cama, na vida, no coração. Fomos amantes e amigos. Fomos o porto-seguro um do outro. Fomos o apoio, o incentivo, as verdades ditas. Fomos o bem querer, a cumplicidade, o acalento. Fomos a cura para as feridas. Fomos fortalecimento. Fomos o medo que as adversidades, as incompatibilidades, os pesares da vida fossem maiores. Não foram! Mas o destino foi. E tem forças que por mais que tentemos, não podemos lutar contra. Simplesmente é nadar e morrer na praia. Um dia nublado e cinzento, destes que deixa uma sensação de inquietude meio inexplicada dentro da gente, veio a notícia. Uma nova oportunidade, uma nova chance, destas que só acontecem uma vez na vida e a única coisa que se podia fazer é seguir o curso da vida. 

E desde aquela notícia nossas noites nunca mais foram as mesmas. Nem os dias. E nem nós. Já não tínhamos mais a leveza no olhar, a calma na alma e no coração. Pois sabíamos que tínhamos os dias contados para pôr fim a nossa felicidade. A eternidade já não era mais a nossa morada e então, nossos beijos e abraços e noite de amor foram de necessidade, de urgência. Queríamos sugar tudo que pudéssemos um do outro para termos mais do outro em nós do que nós mesmos. Mas isso era muito mais difícil! Eu não podia pedir a ela que ficasse. Eu não suportaria vê-la desistindo de um sonho e anos mais tarde, de repente acabaria frustrada e nos punindo, a ela por ter deixado por mim coisas na vida e eu por achar que ela estivesse fazendo a escolha certa e agora se arrependendo. Não temos como saber como as coisas vão ser no futuro. Mas nós dois, com certos calos da vida, sabemos que não se vai muito longe quando não apenas se abre mão de uma coisa por outra ao fazer escolhas, mas quando você se anula, anula seu desejo, seu sonho, sua vida em prol do outro. E eu não podia ir com ela. Minha vida era aqui. Estava crescendo e prosperando e atingindo o lugar onde batalhei tanto a minha vida toda para conseguir estar. E acabamos descobrindo que manter um relacionamento não é difícil. Difícil é ter que abrir mão dele.




Certa vez li num livro que quem ama deixa livre. E se for pra ser, um dia os caminhos se cruzam de novo. Torci os dedos, fiz prece na igreja, pedi a Deus no silêncio do meu quarto. Pensei num presente que ela pudesse levar como a melhor lembrança de nós e percebi que não existe. Isso vai ficar no coração e na memória. De qualquer modo, embrulhei aquela blusa minha que ela gostava de usar quando estava lá em casa e que dizia que tinha o meu cheiro nela. Eu nunca senti nada além de cheiro de amaciante. Mas se ela estava dizendo... Também escrevi uma carta, ao menos tentei. Quando você mais precisa as palavras parecem que simplesmente somem da cabeça e da boca também. Por diversas vezes tentei falar para ela não só o quanto eu estava dilacerado sabendo que nossa separação estava próxima mas o quanto ela mudou a minha vida e que não a enxergo mais sem ela. Tentei falar dos momentos maravilhosos que ela me proporcionou. Mas toda vez que eu tentava falar a voz embargava, os olhos lacrimejavam, não saía nada, só silêncio. E até nele, ela me entendia. Me dava um beijo carinhoso e se aninhava no meu peito. Tenho a sensação de que ela também estava num confronto grande entre as palavras e as emoções. Rabisquei umas frases e torci pra que fizessem algum sentido. Escrevi no envelope para ela ler depois que embarcasse.

Planejamos um monte de coisas pra fazer na nossa última semana juntos. Mas o que fizemos de fato foi ficarmos quietos no nosso cantinho nos curtindo, nos olhando, nos guardando um no outro. Nos eternizando! Não fui ao aeroporto. Não iria aguentar, simplesmente. Bem cedo, antes dela sair de casa, antes do sol nascer, antes de qualquer ser na terra acordar, estava eu lá parado na porta da casa dela. Escalei a janela bem fácil como de costume, após brigas e na urgência de fazer as pazes. Mas desta vez apenas sentei na cama e a vi dormir. Ainda continuava com a aparência serena, mas seu sono agitado denunciava. Acariciei o cabelo, passei os dedos pelo rosto, beijei infinitas vezes a boca, me aninhei junto ao corpo dela e a puxei pra mim. Não sei se ela acordou de cara, mas instintivamente nossos corpos respondem um ao outro e ela se chegou pra perto de mim, virou e me abraçou, aninhou sua cabeça no meu pescoço e apenas murmurou "eu te amo". O primeiro eu te amo, e o último eu te amo. Nos amamos desde que nos vimos naquele mercado, desconfio, e em todas as outras vezes mais. Mas o sentimento que tínhamos dispensava palavras de confirmação ou provas. A gente simplesmente sabia. 

E ela despertou bem antes do despertador e me encarou, e com os olhos já em lágrimas chorou. E eu chorei. E nos beijamos, nos abraçamos, fizemos amor pela última vez. E eu sai por onde entrei e fui caminhando sem olhar pra trás com medo de fraquejar e voltar correndo para o meu mundo, seus braços. Meus passos eram pesados, doídos, martirizantes. Não tenho mais lágrimas para chorar, então eu grito, bem alto pra ver se essa dor, esse misto de raiva com tristeza sai do peito. Mas não sai. Corri o mais rápido que consegui de encontro ao mar, para fugir de mim, de você, de nós. Mergulhei bem fundo e não pensei em mais nada.

Os dias passaram. Mantínhamos mensagens apaixonadas, mandávamos foto, falávamos de nossos dias, as novidades, o que nos aconteciam. Mas o tempo, implacável tempo, foi a causa da separação de vez. Com a vida ficando mais agitada e muitas atribulações, já não nos falávamos com tanta frequência e nem participávamos mais da vida um do outro com tanta prioridade. Outras pessoas e momentos passaram a tomar o nosso lugar. E assim, em mais um destes dias meio inexplicáveis, onde estamos meio assim, você foi pra lá e eu vim parar aqui. E éramos mais que dois corpos separados pelo tempo/distância. Estávamos agora separados em corações. E foi assim que nos perdemos. E foi assim que nós nos fomos um do outro. Nada mais de mensagens, fotos, conversas. Apenas lembranças. Lembranças essas que ainda hoje habitam a minha mente ao deitar e ao acordar. Que são o meu refúgio quando a vida castiga e vai mal, ou quando quero desistir de mim. Já foi bem mais difícil logo no início, não da sua partida, mas da nossa ruptura de fato. Acho que ambos percebemos que seria em vão tentar, então melhor deixar ir de vez. Seria mais sofrido ficar com o pingado quando já tivemos a imensidão da completude. Hoje, ainda dói, mas vou levando. Tenho certeza de que jamais me esquecerei dos melhores dias da minha vida. Sei que ainda há muita coisa reservada para mim e que o amanhã não sabemos. Mas eu simplesmente não quero me livrar dela. Seu n° ainda está na minha agenda, sua foto no meu cel., seus bilhetinhos na minha carteira. Ainda vou aos lugares que íamos e nos vejo lá. E se eu me esforçar um pouco mais, sinto seu cheiro e o sabor do seu beijo, e a sensação que seus abraços me traziam, e de volta aquela paz. O tempo vai levando tudo sutilmente, inclusive as lembranças mais preciosas. Tenho medo de acabar me esquecendo das minuciosidades suas, nossas. É muito difícil dizer adeus!

Então hoje, resolvi por mim e não pelos outros, te guardar no lugar mais especial que existe em mim e seguir. Mas não é um adeus! Quem sabe um dia? Mas por hora, só me resta andar pra frente, esperar o que o amanhã me reserva e escrever as páginas em branco do livro da vida que restou. Mas de uma coisa eu tenho certeza: que alguns infinitos são maiores que outros, como naquele filme. Por isso, é você, tem sido você e vai ser sempre você. Minha escolha, minha certeza, meu amor. 

Porque alguns amores nunca se vão, são pra vida toda! Mesmo que separados... é, eu acho que é assim que funciona.




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