A verdade é que tá foda! Ontem descobri que o amor da minha
vida encontrou o amor da vida dela. Quando vieram os papos de aliança
dourada, eu quis desconversar, mas não teve jeito, meus amigos disseram
alto: ‘Esquece de vez. Ela vai casar’.
Palavra não é revólver, mas mata tanto quanto. Não sejamos hipócritas, o sorriso de quem a gente ama também nos deixa destruídos no
canto. Basta que não tenha sido ao nosso lado que os lábios, felizes,
se abriram. E não entro em exageros de depressão e o caralho que for.
Falo de perder o chão, as estribeiras, entender o que é dor.
Depois da notícia busquei meu altar e sequei duas garrafas
de whisky. Não encontrei alívio algum. Escutei dez ou cem músicas de
fossa. Nenhuma pareceu dizer o que eu queria dizer, o que eu queria
escrever, o que meu coração precisava gritar.
Se eu começar a falar de sexo, aí é que a coisa fica feia. Ela transformou um menino em homem. Me dizia o que queria e como queria. Me ensinou o que a língua faz enquanto as mãos podem estar na nuca ou dando tapas de amor. Ela é dessas que não tem pudor. Faz do sexo o templo sagrado que deve ser. Seu limite é o gemido alto, o entorno é só um detalhe. De fantasias mil, eu já tive ao meu lado a mulher mais safada e independente que já se viu; e se verá.
Foi tanta coisa ao lado dela que minha cabeça me trai:
começo a achar impossível alguém preencher todo o vão que ficou na
partida. A gente já jogou bola na praia; eu – sem ciúme – já incentivei
ela a diminuir a saia. A gente já tomou cerveja no gargalo; também fomos
juntos conhecer o sul de carro. Ela nunca fez teatro, mas numa das
nossas viagens encenou que morreu. Nunca vi aquela filha da puta rir
tanto como quando eu gritei: ‘Pelo amor de deus, amor: acorda! Puta que o
pariu, acorda!’
Falo por mim: ela é dessas que você dá corda à partir de um
só sorriso. Joga o cabelo pro lado e te pede o isqueiro. Quando você
menos percebe, daria o mundo inteiro para mais cinco minutos ouvindo cada palavra que sai daquela boca.
Ainda não sei se aquela área de fumantes fez parte do melhor ou o pior
dia da minha vida. Ainda não sei o que vale a pena nessa vida. Porque
nos apresentar pessoas tão distintas e marcantes se logo depois vai nos
tirar à força? Talvez eu ainda precise entender que felicidade é o beijo que se dá no presente, não planos de futurismos baratos.
Todos os dias eu ainda lembro que ela é do tipo que inspira
só por respirar. Cujas palavras formavam frases que me queimavam o
juízo. Dessas que têm no cabelo o cheiro que eu queria sentir ao deitar.
A pele que eu queria sentir com a palma da alma quando acordasse. A
voz, meu Deus, dessas que eu queria guardar e fazer música dentro de
mim.
Ela é assim: linda. E sobrava tanto que quando eu encostava nela,
me sentia lindo também. E aqui falo de beleza que sai dos poros, não nas
capas. Ela era justa. Podia gritar, podia chorar, podia implicar; mas
eu morreria ao lado de uma justa.
Só que não deu. Num desses dias esquisitos, sumimos. Ela foi pra lá. E eu vim parar aqui.
Tô com saudade dela...
PS: texto fictício
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