Temos visto um massacre na mídia sobre os últimos acontecimentos na França, depois que a revista Charlie Hebdo foi invadida por um grupo radical terrorista inconformados com suas publicações e jornalistas e cartunistas foram executados à sangue frio. E não parou por aí: para desviar a atenção dos assassinos da sede da revista, outro terrorista fez reféns e algumas vítimas em supermercado próximo ao local. De certo, um lamentável acontecimento. Como já disse em post anterior, sinceramente vou morrer e não vou entender esse povo extremista que faz terrorismo em nome de Deus. Matam sem dó nem piedade e peso na consciência e dizem ser à favor de uma religião. Mas partindo do ponto que eles tiram a própria vida brincando, que dirá a vida dos outros. Mas não vou me aprofundar nesta vertente porque o foco é outro.
Isso reacendeu, mais uma vez, a discussão sobre a liberdade de expressão. O direito que uma pessoa tem de se manifestar e aos demais aceitarem numa boa. Isso é viver numa democracia! Isso é viver num país livre onde devemos respeitar o direito às ideias contrárias às nossas. Sim, concordo totalmente! O que eu não concordo é que se use a liberdade de expressão como desculpa para ofender, desrespeitar, incitar o preconceito. Apoio a liberdade de expressão, desde que seja precedida de respeito e bom senso
Lembro das aulas de ética na faculdade e de como era debatido a percepção da responsabilidade como formador de opinião e do peso de palavras escritas e proferidas em uma sociedade, enquanto veículo de comunicação de massa. Sim, somos responsáveis pelo que escrevemos e somos tão responsáveis quanto pelas consequências e repercussões do que escrevemos. Não tô, de maneira nenhuma concordando com essa chacina ensandecida. Mas também não sou "Je Suis Charlie" pura e simplesmente.
Apesar de entender que através do humor e do sarcasmo, eles tentavam levantar bandeiras para certos conservadorismos e assuntos tabus na sociedade, brincar de falar sério, como se diz, não aceito que falte com respeito à religião, por exemplo. Com tanto a se falar, com tanto pra usar, por que ofender, mesmo que de brincadeira a fé a religião alheia? Acho que tudo tem limites e com certas coisas não se brinca. Está acima do bem e do mal. Que nem falar mal de filho, pai e mãe, colocar nossa índole e caráter em xeque. Há aqueles que vão levar na esportiva e não se ofender, e há aqueles que na hora vão levar para o lado pessoal, mesmo que se esteja falando de um modo generalizado. Assim como há aqueles que não vão fazer nada além de se chatear e destilar meia dúzia de palavrões e há aqueles que são malucos, de sangue quente, com acesso a armas, meios, com coragem o suficiente e que vão lá e acaba neste banho de sangue de gente culpada (?) e inocente que vemos na mídia.
Claro que eu não tô tentando justificar o acontecido. Até porque não existe justificativa para mim para o terrorismo e mesmo fora o terrorismo, não acho que a violência seja a melhor forma de resolver as coisas, nunca. Mas não posso fechar os olhos para o que Hebdu procurou. Mexeu com gente louca. E eu fico me perguntando, assim como eu sou obrigada a entender que o cara pode falar o que quiser e ser resguardado por isso como liberdade de expressão e que é um direito dele, e eu tenho que aceitar, mesmo que eu não respeite essa ideia dele, ele também deveria ser obrigado a entender e aceitar que as pessoas tem direito de se ofender com a liberdade vexatória criada por ele para atacar mesmo que direcionadamente, e acaba sendo generalizada a coisa e que eu tenho o direito de me sentir desrespeitado e não gostar, e ele tem que "arcar" no bom sentido de pesar, isso. Esse limite é uma linha tênue entre o certo e o errado e que vai de acordo com cada valor e com cada pessoa. Só que ao que parecia ali, o que eles faziam era arte e liberdade de expressão, então, porque se preocupar se o cara tá se ofendendo com o que está sendo escrito? Eles literalmente cagaram e andaram para o direito da população se sentir insultada, ofendida, degradada, devastada. Até porque eles não avacalharam a cultura, religião e as crenças do país deles. Eles saíram atacando outro país sem se importar com nada.
E olha que não sou conservadora, mas acho muita coisa do conteúdo deles desrespeitoso, grosseiro e sem necessidade de ser. Acho que as pessoas acabam confundindo um poder que lhes é dado para fazer chacota com o alheio que é terra de ninguém. E isso, ao meu ver é muito perigoso! Em muitos anos já vi nosso símbolo mor, Cristo Redentor ser retratado em cada situação, neste país. Morrendo de calor, fugindo de bala perdida, fechando os olhos para o vexame do futebol, virando as costas para a política, e etc. Mas nunca vi por exemplo, como numa capa de Charlie, colocarem o papa fazendo sexo anal com Cristo e com o símbolo do Espírito Santo em outra penetração, numa suruba só. Pra que isso, fico me perguntando? O que se ganha com isso? Que tipo de humor negro é esse, gente?
Guardadas as devidas proporções, acho que esses profissionais da comunicação são tão libertos de consciência e culpa quanto àqueles que tiraram suas vidas e de outras pessoas, por motivos diferentes. O que não dá a nenhum dos dois o direito de agirem como agiram, na minha opinião. É aquilo né, tudo eu posso, mas nem tudo me convém. Mas, muita gente não liga pra isso mesmo. Porque travesseiro e consciência, todo mundo tem, cada um que durma com o seu. E até o dia do atentado, a do Charlie Hebdu estava aparentemente tranquila, porque ele não fez nada demais. Assim como a dos terroristas, porque pra eles, também não foi nada demais. Infelizmente duas vertentes que se cruzaram e que na minha humilde visão se igualaram, guardadas as proporções deturpar o que seria de fato liberdade de expressão.
3 comentários:
O direito de ofender é a razão única para a existência da liberdade de expressão. Para qual outra razão existiria liberdade de expressão? Dizer somente o que é aceitável ouvir?
Faltou um pouco de conhecimento básico de filosofia e ética por parte da autora. Se eu cortar o seu dedo com uma faca, ele sangra. Se eu der um tiro na sua testa, você morre. Isso são fatos objetivos e independem da interpretação ou subjetividade. E é por isso que a agressão física é um crime. Com relação a se sentir ofendido por algo ou não, isso NÃO é um fato objetivo, mas um conceito subjetivo que vai variar de indivíduo para indivíduo.
Em suma, NÃO EXISTE o “direito a não se ofender.” Isso NÃO é um direito e ponto final. E sabe por quê? Porque absolutamente qualquer coisa que alguém diga tem o potencial de ofender alguém. E aí onde você traça a linha? E mais importante, QUEM traçará essa linha, você? O Congresso? Um líder religioso? Quem é esse ser de sapiência absoluta para determinar o que o ser humano pode ou não pode dizer? Criar limites à livre expressão do pensamento sob a pretensa de “defender a sensibilidade” de outrem abre um precedente para uma coisa chamada CENSURA, que é justamente o que governos mundo afora fazem.
“O direito que uma pessoa tem de se manifestar e aos demais aceitarem numa boa. Isso é viver numa democracia!”
Errado. O nome disso é o reconhecimento da liberdade individual. Democracia é ditadura da maioria, nada mais. Segundo, ninguém precisa aceitar nada “numa boa”. As pessoas podem discordar e apresentar seus argumentos contrários ou insatisfação. O que não vale é a agressão à integridade física e à propriedade privada.
Mas não posso fechar os olhos para o que Hebdu procurou. Mexeu com gente louca. [..] ele também deveria ser obrigado a entender e aceitar que as pessoas tem direito de se ofender com a liberdade vexatória criada por ele [...] e ele tem que "arcar" no bom sentido de pesar, isso.
Praticamente tentou inocentar terroristas aí. Segundo essa lógica, posso facilmente extrapolar o seu argumento para justificar o estupro e culpar a mulher que usa roupas curtas e provocantes em público, afinal de contas alguns homens não vão ligar, alguns vão se conter, mas alguns não vão resistir à tentação de assediá-la ou violentá-la, e a mulher deveria aceitar que os homens têm direito de satisfazer suas necessidades sexuais.
Você tem todo o direito de odiar o conteúdo do Hebdo. Eu também não gosto. Acho grosseiro, vulgar e muito sem graça. O que nem você nem eu temos é o direito de ditar o que os outros podem dizer ou deixar de dizer. Culpado é quem puxa o gatilho, SEMPRE! Pare de cair na conversa de seus professores socialistas/coletivistas.
Liberdade de expressão não é = direito de ofender?
Lamento, mas está errada. Liberdade de expressão é também o direito de (poder ou querer) ofender.
Somos todos adultos, não somos? Se não gosta do que o Charlie tem a dizer, pode sempre contra-argumentar, manifestar, por palavras ditas ou escritas, a sua revolta, oposição ao Charlie. Não gosta? Vai-se embora, não é obrigada a ouvir. Sente-se ofendida? Tem exactamente o mesmo direito em ofender/contra-argumentar de volta. Mas não pode impedir o Charlie de dizer algo que a ofende a si, pois ao impedir, não só está a restringir a liberdade de expressão do Charlie, como também está a impedir a liberdade de todos os outros de ouvirem o que o Charlie tem para dizer.
PS: Concordo com tudo o que o Sérigo disse.
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