No fim de semana do dia das mães, por conta de alguns problemas de família de convivência, cada qual foi passar com a sua respectiva mãe. Eu fiquei em casa para passar com a minha e meu marido foi pra casa da mãe dele, passar com ela.
E é claro que todo casal depois que passa a maior parte do tempo junto, quando tem um tempinho pra si, sozinho chega a vibrar. Acho que tem gente que nem lembra mais como é falar com seus pensamentos rs. Mas passada a euforia momentânea, somos tomados por um vazio. Um saudosismo de quem não vê por anos alguém, sendo que essa pessoa mal ultrapassou a porta.
E é clichê, piegas, mas é na ausência que sentimos o quanto gostamos de alguém. O quanto estamos tão acostumados a sua presença, mesmo que seja essa um corpo estirado na cama, dormindo, babando, roncando. Mesmo que as noites divididas não sejam tão românticas ou glamourosas como mostram as revistas e filmes. Mesmo assim, a gente sente falta.
Aí, nesta noite que fui de euforia a uma grande falta, mal conseguia dormir achando que tinha algo estranho, depois de ver todos os filmes até a tv entrar em manutenção, eis que resolvi levantar e rabiscar algumas linhas dessa árdua missão que é dividir a cama, a coberta, o sono, as manias e que só o amor explica e quem divide as escovas de dentes, entende.
Dormir junto. Definitivamente a melhor e a pior ideia que o ser humano já teve.
Melhor porque é um dos momentos de maior comunhão da vida. Há quem
diga que dormir junto com alguém é um ato mais íntimo do que o próprio
sexo. Eu não duvido. Partilhar nossas sagradas e escassas horas de sono
com alguém é mesmo um ato de entrega, da mais profunda e sincera
generosidade.
Por outro lado…
Sério. Gente. Que ideia. Sério. Difícil. Muito difícil. Tudo começa com o horário de ir deitar.
Às vezes um acaba cedendo ao sono do outro, por mais que esteja
absolutamente disposto, animado e- o pior de tudo- falante. Deitam na
cama. Um se ajeita no travesseiro, se cobre e fecha deliciosamente os
olhos. Mas aí vem o Sem Sono e diz algo urgente do tipo “você viu que
vai abrir um restaurante de comida indiana perto da casa da sua tia?”. O
Com Sono tenta uma resposta do tipo “Ah é? Legal…”, enquanto se afunda
um pouco mais no travesseiro. E o Sem Sono insiste “É, mas não sei se
vai dar certo não porque os últimos dois restaurantes indianos que eu
conheço acabaram fechando e…”. Pronto, tá na cara que não vai acabar
bem. O Sem Sono acaba sem respostas, o Com Sono sem poder dormir.
Mas, por fim, o Sem Sono pára de falar e decide se ajeitar na cama.
Um já está lá, paradinho, cochilando e o outro começa a procurar
posição. Gira pra lá, gira pra cá, dá pirueta, parece um frango de
padaria. Conforme ele gira, o que já cochila vai pulando por causa do
balanço do colchão, quase como se estivessem numa cama elástica.
Mas pronto. Adormecem. Que bom. Até que um dos dois dá um daqueles
bizarros tremeliques semi epiléticos e o outro quase infarta de susto.
Tudo bem. Passou. Dormem de novo.
De repente um deles acorda assustado com um barulho. Não sabe bem se é
uma broca no vizinho, um leitão na varanda, um trator na rua ou o
Godzilla na janela. Mas não é nada disso. É só aquela pessoinha amada
tentando respirar. Inacreditável. A cada ronco até a estrutura do prédio
treme. Uns 6,8 na escala de Richter. E é geralmente nessa hora que elas
resolvem extravasar todo seu lado afetuoso, abraçando a outra pessoa
bem pertinho só para roncar carinhosamente bem na orelha dela.
Superada (ou tolerada) esta dificuldade começam os problemas de
termostato. Enquanto um transpira como se estivesse fazendo sauna no
inferno, o outro puxa o edredom até o pescoço. E claro, o edredom é um
só e acaba cobrindo também aquele coitado que está morrendo de calor,
que acaba tentando escapulir uma perna e um braço para fora da cama.
Nessas horas, ar condicionado e ventilador causam mais discórdia do que
whatsapp de ex. E nas raríssimas vezes em que há harmonia de
temperaturas, começa um tipo de cabo de guerra com a roupa de cama. Só
sobrevivem os fortes.
Ainda tem aquelas maravilhas periféricas tipo um que baba no braço do
outro, um que range o dente sem parar, um que solta frases non-sense
durante a noite, um que levanta 5 vezes para fazer xixi, um que vai
avançando no terreno alheio até quase jogar o outro no chão, o outro que
bebe 6 litros de água durante a noite. Enfim, essas alegrias todas.
Mas os abraços noturnos compensam tudo. Especialmente quando um
coloca o braço embaixo da orelha do outro, que começa a ficar quente e
vermelha enquanto o braço formiga até o cotovelo travar de dor. No
verão então, é uma maravilha. Você mal aguenta o contato com o lençol e
recebe aqueles doces abraços de uma criatura cujo corpo está a 36 graus.
Meu Jesus.
Para acordar, nada melhor do que um ter programado o despertador e na
hora que toca ninguém saber o que está acontecendo. É o seu? É o meu? É
a campainha? Até que um bate naquela porcaria e… Coloca na soneca. Dez
minutos depois a porcaria toca de novo. E mais dez. E toca. Mais dez.
Toca. Detalhe: são 6:40, sendo que o dono do despertador devia ter
levantado às 6 e o outro coitado que já acordou 4 vezes só precisava
levantar às 9.
Não é fácil, viu?!.
Mas quando acaba toda essa saga, você olha para aquela pessoa na cama
e acaba sorrindo. Não sabe bem por que, mas tem certeza de que aquilo
tudo faz sentido: roncos, babas, tremeliques e tudo mais. Não tem jeito,
aquela noite atrapalhada é mesmo boa. E por mais confortável que seja
uma noite com a cama todo ao nosso dispor, sem disputas por espaço ou
por lençol, fica faltando alguma coisa. Uma cama gostosa, inteira e
cheia de travesseiros acaba se tornando uma cama vazia.
Coisas que só o amor explica. E quem divide as escovas de dentes, entende.
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