Mais um caso na mídia de alunos e familiares que agridem professores. Os
motivos são os mesmos: não pode chamar atenção, dar nota baixa ou
reprovar. E depois, indignados, esses mesmos pais reclamavam quando a
aprovação era automática no sistema de ensino público! É quase a mesma
coisa coagir um professor a passar a mão na cabeça do aluno ou fechar os
olhos para tudo de errado que ele venha a fazer. Mais uma vez comprovo,
não só educação escolar falta neste país. Falta pai e mãe que sejam
pais e mães com valores éticos e morais a passarem aos seus filhos. Sou
do tempo que professor era autoridade máxima dentro da sala de aula,
dentro da escola, dentro de uma comunidade ou bairro, da sociedade.
Sou
do tempo em que se tinha um respeito ímpar não só pela figura como pelo
importante papel que estes representavam. Sou do tempo em que, se
chamados na escola por reclamação de comportamento ou de notas, os pais
não só apoiavam o professor como "passavam o sabão" novamente em casa
nos filhos. Sou do tempo que no final do ano, independente de aprovação,
os pais iam cumprimentar os professores pelo excelente trabalho
exercido. Sou de um tempo que os alunos não levantavam nem a voz, nem os
olhos que dirá uma mão para um professor! Enfim, constato que sou de um
tempo não muito longe, que não existe e nem vai voltar mais. Hoje em
dia além da falta de valorização financeira e social, cada vez mais
professores se tornam educadores, pelo simples fato de que além de
ensinar matemática, português, história, ciências e geografia, eles têm
que ensinar os alunos os princípios básicos de educação que deveriam vir
de casa. Literalmente a maioria prepara os alunos para a vida dentro e
fora da escola. À contragosto, mas fazer o que?! Sobra pra eles a árdua
tarefa de educar, ensinar, criar.
Mas ao mesmo tempo, a eles é negado
qualquer tipo de autoridade e repreensão, principalmente de caráter e
conduta. Aí, os pais que foram obrigados a ser pais (não vou entrar no
mérito que na hora de fazer sexo ninguém pensou na responsabilidade de
criar um filho) e que jogaram no mundo uma criança para ficar a ermo,
com família, atenção, amor e cuidados fake, se sentem no direito de
nesta hora partirem até para a agressão física porque não admitem que os
professores "consertem" seus filhos negligenciados. Francamente! Sou
professora formada mas nunca exerci a profissão. E a cada dia que passa
percebo que tomei a decisão certa. Jamais saberia lidar com essa nova
geração do se achar maioral, acima do bem e do mal, com crianças cada
vez mais carentes vindas de um núcleo familiar defasado sendo jogadas na
escola para lá, ser feito o milagre de serem alguém, como se os pais, a
família, a criação, o meio em que vivem, a realidade que convivem e
todo o qualquer tipo de influência externa pudesse ser bloqueada e
banida. E com isso, eximem-se da culpa e passa a depositá-la justamente
em quem mais faz para poder ajudar um ser a ser alguém, o professor.
Me
indigno por minha mãe é professora e a vida inteira vi como ela sempre
lutou por cada aluno, pelo direito de um por um de ter sempre o melhor,
independente de qualquer coisa. Muitas vezes deixando até ela mesma de
lado. Apesar de realizada na profissão por exercer com amor aquilo que
sempre quis, foi uma tarefa nada fácil durante anos. E nem sempre foi
valorizada por isso. Me indigno porque devo muito aos meus professores
por estar onde estou, não só pela parte educacional, mas pela parte
emocional e intelectual que sempre fizeram questão de trabalhar em mim e
em meus colegas, enfatizando para acreditarmos em nós, darmos o nosso
melhor, a sermos cidadãos ativos e não passivos para absorver
informação, responsáveis por nossos atos, não eximindo-nos de nossas
obrigações como indivíduos dentro de uma sociedade. Devo a escola por
ter sido durante muitos anos mais que um lugar de conhecimento escolar e
sim uma segunda casa, onde além de fazer amizade exercitei meu senso de
civilidade. Onde as famílias eram participativas das atividades e
interagíamos todos para um bem maior. E hoje, inegavelmente trago
excelentes memórias.
E sinto um pesar, por esses jovens de hoje carentes
ou não socialmente, mas de certa forma todos igualados num grau de
alienação de responsabilidade e comprometimento, por possuírem menos do
mínimo necessário de discernimento de certo e errado, e quando o tem é
sempre o que convém à eles. Lamento principalmente por eles que vão
entrar na escola sem saber nada e sair mais "analfaburros" do que nunca.
Porque ninguém pode fazer por eles para aprender, evoluir, crescer e
ganhar o mundo, se tornarem pessoas honradas, dignas e de bem, darem
valor a dádiva que é ter conhecimento e passarem adiante a importância e
essência do professor e da escola na vida de um indivíduo que sabe
aproveitar o que tem. E que se a escola é um passatempo, então por favor
deem lugar para aqueles que de fato querem estar ali e não tem
oportunidades. Há de ter quem saiba valorizar e respeitar aqueles que
dão seu sangue por amor à profissão, mas não vivem só de amor, se viram
nos 30 para dar aula, atenção, incentivo, sem ganhar pra isso, sem
material e ambiente escolar adequados e o mínimo que pedem em troca
senão gratidão, consideração, senão nem um e nem outro então não faça
nada por aqueles que de repente, foram os únicos a acreditarem no
potencial de seus alunos. Apenas, sejam pessoas de bem!
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