18 de agosto de 2015

Viver também é uma lição que se aprende na escola!


Mais um caso na mídia de alunos e familiares que agridem professores. Os motivos são os mesmos: não pode chamar atenção, dar nota baixa ou reprovar. E depois, indignados, esses mesmos pais reclamavam quando a aprovação era automática no sistema de ensino público! É quase a mesma coisa coagir um professor a passar a mão na cabeça do aluno ou fechar os olhos para tudo de errado que ele venha a fazer. Mais uma vez comprovo, não só educação escolar falta neste país. Falta pai e mãe que sejam pais e mães com valores éticos e morais a passarem aos seus filhos. Sou do tempo que professor era autoridade máxima dentro da sala de aula, dentro da escola, dentro de uma comunidade ou bairro, da sociedade. 

Sou do tempo em que se tinha um respeito ímpar não só pela figura como pelo importante papel que estes representavam. Sou do tempo em que, se chamados na escola por reclamação de comportamento ou de notas, os pais não só apoiavam o professor como "passavam o sabão" novamente em casa nos filhos. Sou do tempo que no final do ano, independente de aprovação, os pais iam cumprimentar os professores pelo excelente trabalho exercido. Sou de um tempo que os alunos não levantavam nem a voz, nem os olhos que dirá uma mão para um professor! Enfim, constato que sou de um tempo não muito longe, que não existe e nem vai voltar mais. Hoje em dia além da falta de valorização financeira e social, cada vez mais professores se tornam educadores, pelo simples fato de que além de ensinar matemática, português, história, ciências e geografia, eles têm que ensinar os alunos os princípios básicos de educação que deveriam vir de casa. Literalmente a maioria prepara os alunos para a vida dentro e fora da escola. À contragosto, mas fazer o que?! Sobra pra eles a árdua tarefa de educar, ensinar, criar. 

Mas ao mesmo tempo, a eles é negado qualquer tipo de autoridade e repreensão, principalmente de caráter e conduta. Aí, os pais que foram obrigados a ser pais (não vou entrar no mérito que na hora de fazer sexo ninguém pensou na responsabilidade de criar um filho) e que jogaram no mundo uma criança para ficar a ermo, com família, atenção, amor e cuidados fake, se sentem no direito de nesta hora partirem até para a agressão física porque não admitem que os professores "consertem" seus filhos negligenciados. Francamente! Sou professora formada mas nunca exerci a profissão. E a cada dia que passa percebo que tomei a decisão certa. Jamais saberia lidar com essa nova geração do se achar maioral, acima do bem e do mal, com crianças cada vez mais carentes vindas de um núcleo familiar defasado sendo jogadas na escola para lá, ser feito o milagre de serem alguém, como se os pais, a família, a criação, o meio em que vivem, a realidade que convivem e todo o qualquer tipo de influência externa pudesse ser bloqueada e banida. E com isso, eximem-se da culpa e passa a depositá-la justamente em quem mais faz para poder ajudar um ser a ser alguém, o professor. 

Me indigno por minha mãe é professora e a vida inteira vi como ela sempre lutou por cada aluno, pelo direito de um por um de ter sempre o melhor, independente de qualquer coisa. Muitas vezes deixando até ela mesma de lado. Apesar de realizada na profissão por exercer com amor aquilo que sempre quis, foi uma tarefa nada fácil durante anos. E nem sempre foi valorizada por isso. Me indigno porque devo muito aos meus professores por estar onde estou, não só pela parte educacional, mas pela parte emocional e intelectual que sempre fizeram questão de trabalhar em mim e em meus colegas, enfatizando para acreditarmos em nós, darmos o nosso melhor, a sermos cidadãos ativos e não passivos para absorver informação, responsáveis por nossos atos, não eximindo-nos de nossas obrigações como indivíduos dentro de uma sociedade. Devo a escola por ter sido durante muitos anos mais que um lugar de conhecimento escolar e sim uma segunda casa, onde além de fazer amizade exercitei meu senso de civilidade. Onde as famílias eram participativas das atividades e interagíamos todos para um bem maior. E hoje, inegavelmente trago excelentes memórias. 

E sinto um pesar, por esses jovens de hoje carentes ou não socialmente, mas de certa forma todos igualados num grau de alienação de responsabilidade e comprometimento, por possuírem menos do mínimo necessário de discernimento de certo e errado, e quando o tem é sempre o que convém à eles. Lamento principalmente por eles que vão entrar na escola sem saber nada e sair mais "analfaburros" do que nunca. Porque ninguém pode fazer por eles para aprender, evoluir, crescer e ganhar o mundo, se tornarem pessoas honradas, dignas e de bem, darem valor a dádiva que é ter conhecimento e passarem adiante a importância e essência do professor e da escola na vida de um indivíduo que sabe aproveitar o que tem. E que se a escola é um passatempo, então por favor deem lugar para aqueles que de fato querem estar ali e não tem oportunidades. Há de ter quem saiba valorizar e respeitar aqueles que dão seu sangue por amor à profissão, mas não vivem só de amor, se viram nos 30 para dar aula, atenção, incentivo, sem ganhar pra isso, sem material e ambiente escolar adequados e o mínimo que pedem em troca senão gratidão, consideração, senão nem um e nem outro então não faça nada por aqueles que de repente, foram os únicos a acreditarem no potencial de seus alunos. Apenas, sejam pessoas de bem!

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