24 de junho de 2009

"Desconhecido íntimo"

Bom, toda pessoa na vida acaba tendo um desconhecido íntimo. As vezes até mais de um. Para quem não está entendendo, explico. Intitulei “desconhecido íntimo” aquela pessoa que nunca vimos mais gorda (ou magra), mas que por fração de segundos devido às circunstâncias passa a fazer parte de um determinado momento nosso. Porém, minutos depois, vai embora e nunca mais sabemos se vamos cruzar com o(a) dito cujo(a) novamente.

Cena clássica, transporte coletivo: Ônibus, trem, metrô. Todos os dias, uma gama de gente desconhecida invade, nem que seja o tempo de uma estação ou ponto de ônibus a sua vida. De maneira passiva, ativa ou até mesmo física. Como o espaço é restrito e os usuários muitos, ficamos espremidinhos de uma tal maneira que posso jurar que se fosse possível pela ciência, trocaria de corpo com outra pessoa ou até mesmo seria feita uma espécie de mutação perante as posições que somos obrigados a ficar. Numa ideia menos apertada, não existe privacidade e, mesmo que uma conversa esteja sendo feita baixinha vai ter sempre ouvintes. Estes são os "desconhecidos passivos" em nossas vidas. Aqueles que soltam um risinho, olham algumas vezes, mas não se intrometem. Já os "desconhecidos ativos" são aqueles que pela proximidade puxam papo ou entram na convesa existente. Que pode ir por caminhos mil: saúde, trabalho, vida pessoal, religião. Concordam ou não, contam suas experiências e no tempo do sinal tocar vão embora seguindo seus caminhos. Quem sabe amanhã encontraremos? Quem sabe não!

Mas o que os torna íntimos não é propriamente o fato de compartilhar as conversas e dar pitacos (coisa que carioca adora fazer), mas em determinadas situações a maneira como entra nelas. Na verdade, como age nelas. O desconhecido íntimo tem a capacidade de interferir na nossa vida momentaneamente. Ele se expõe, participa, muda. E posso dizer que em algumas vezes dá certo! Um desconhecido íntimo começou a falar de si, da vida e acabou me dando uma nova visão dos meus problemas, me proporcionando novas perspectivas. Ou também fez aquela festa junto comigo por uma vitória ou conquista pessoal. É fascinante!

Possui um rosto, mas não sei nome, telefone ou profissão. Outras vezes até tenho estas informações, mas não impede que no ponto de partida dele(a) vá embora sem lenço e sem documento, sendo apenas mais um corpo caminhando de costas, sumindo na multidão. Mas as palavras, um olhar e até mesmo o silêncio condescendente permanecem. Pode parecer loucura o que tô aqui falando. Mas para e pensa: não já aconteceu com você? Citei transportes mas em mercados, elevadores, filas, lojas, na praia e em todos os lugares existe um desconhecido íntimo esperando a oportunidade de fazer parte um pouquinho... Nesta jornada louca de correria e pouco tempo, temos e somos todos grandes desconhecidos íntimos uns dos outros, reafirmando a ideia de que nunca se está completamente só. Somos todos parte de um todo.


À vocês, desconhecidos que passem por aqui... beijos

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