27 de maio de 2016

A sua dor é a minha também


 

Minha revolta e indignação não é só por essa jovem e esse caso específico por mais asqueroso que seja. Que a polícia apura se foi exatamente como aparenta ser, mas que de qualquer modo não invalida o caráter monstruoso destes vulgos "homens". É por todas as mulheres! Aquelas que não ganham as capas e manchetes de jornais. Aquelas que ninguém nem sequer sabe o que aconteceu. Mas elas sabem. E muitas se culpam. Não, não é culpa de vocês.

A cada cinco minutos 11 mulheres são estupradas, agredidas, violentadas, física e moralmente fora e dentro de casa. Chega disto! Queremos respeito e dignidade. Que a nossa roupa, ou lugar que frequentamos, ou com quem andamos, ou nosso jeito de ser não seja um precedente para "estou facilitando ou permitindo que algo seja feito comigo". Estupro é crime e o seu caráter não depende de conduta e permissividade da vítima. E culpabilizá-la não vai resolver a questão, pelo amor de Deus! Assim como uma freira não merece ser estuprada, uma garota de programa também não. E nenhuma outra pessoa por sua raça, opção sexual, conduta, tipo físico, independente de qualquer coisa. Estupro é crime e não um ato que possa ser usado para "dar uma lição" ou ser um "cala boca" pelos usuários deste tipo de violência. É um ato desalmado de pessoa sem amor e respeito ao próximo. Crianças, bebês são cruelmente defloradas pelas mãos doentes e sádicas muitas vezes de um próprio familiar. Pausa para eu ir vomitar...

Muitas mulheres são estupradas dentro do tipo "correto moralmente" pela sociedade: indo ou saindo do trab., da igreja, de casa. Com roupa "comportada". De jeito "recatado". Do tipo "família". Com "namorado". Não vivem em nights, festas, baladas. Não bebem, não fumam, não dançam até o chão, não andam por aí e nem com qualquer um, não se expõem. E mesmo assim nada impediu que fossem violadas gratuitamente, de maneira brutal. Um banho pode lavar o corpo sujo. Mas e a alma e a dignidade, quem limpa? E as lembranças daquele momento quem apaga? E a alegria de viver, a paz de espírito, quem devolve?

Há anos muitas famílias criam seus filhos para serem homens com H e reproduzem ditados e discursos machistas, preconceituoso. E justificam suas atitudes condenáveis com a célebre frase que passa de geração em geração: "ah, mas ele é homem!". Ser homem não dá o direito de agir de maneira indigna com nenhum ser humano. E de mais de trinta homens não teve um que tivesse consciência do quão errado era aquilo tudo e parasse. Lembrando que não é uma generalização. Existem muitos homens decentes e que agem de acordo com os valores que lhes foram ensinados e fazem questão de transmitirem isso à seus filhos. Existem muitos homens que tratam as mulheres como o espelho de tratamento às mulheres de sua família ou convívio.Existem muitos homens que sentem nojo e repudiam qualquer tipo de violência, principalmente à mulher e sentem vergonha de fazerem parte da mesma classe de gênero destes covardes criminosos. Homem que é homem não precisa usar da força bruta para se reafirmar seja lá do que.

Mas não é só a questão da educação familiar, histórica (estupro acontece desde sempre com as índias, escravas, civís em meio à guerras, no próprio ambiente familiar) e cultural enraizada. Vivemos tempos de grande desvalorização, do corpo, de uma vida. Infelizmente, precisou acontecer mais um caso dentre tantos que ocorrem diariamente, e que nossa revolta fosse tamanha que não coube dentro de nós e ganhou o mundo para que as autoridades olhassem de verdade para a gente e enfim, constatar que precisamos de punições mais severas e eficientes. Precisamos de força máxima para coibir, diminuir, extinguir esse mal.

Todo ser humano vive com medo nos dias de hoje. Mas parece que nascer mulher é lutar todos os dias para se defender das tantas ameaças no nosso caminho. Vivemos inseguras e com medo. Nos tornamos alvos fáceis, vulneráveis, por mais forte que sejamos. A grande maioria perde sua vida e vira estatística. Ou exemplo do que não fazer para as demais, para elas não serem as próximas. Chega disso!

Queremos respeito! Queremos segurança! Queremos justiça! Queremos o direito de ir e vir, liberdade de expressão, de ser quem somos, de agir como acharmos que devemos e que isso não seja parâmetro para definir o que merecemos ou não que nos aconteça algo por isso.

Então, por todas as Beatriz, Ana, Maria, Fernanda, Joana, Helena, Sandra, Juliana, Camila, Roberta, Silvia, Patricia, Carolina... minha indignação e meu grito de basta! À Deus, clemência por um mundo melhor. 33, 30, 3 e que fosse 1. O número é que menos importa, apesar de amedrontar. O que pega de fato é a impotência que temos diante do ocorrido, e a comprovação dia após dia de que, infelizmente, não foi o último caso. Qualquer uma de nós pode ser a próxima... Ao enxugar minhas lágrimas ao final desta triste reflexão, espero estar enxugando as suas também.


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