24 de novembro de 2010

Os guardados de alguém...

Fim de semana comecei, penosamente, a arrumar as coisas da minha falecida avó. Começamos pelas roupas e depois entramos nos guardados pessoais dela. Gente, é impressionante como algo que pode ter representado muito para alguém um dia, para nós, hoje nada ser. Apenas meras lembranças em objetos mil...

Eram fotos, mechas de cabelo, roupas de neném, revistas e jornais antigos - nos quais tentávamos achar o motivo que tivesse levado a ser guardado, rs - broches, cartões de aniversário e natal e um diário, dado a ela pelo meu avo, em seu aniversário, no ano de 1946. Além de ficar fascinada por poder ver diante dos meus olhos um pedacinho da história que tanto ouvir falar alí, viva, também fiquei deslumbrada com as palavras que li no diário. Os momentos eram retratados com tal fidelidade que tive a impressão de estar dentro deles e de poder até visualizar roupas, gestos, lugares. Além de achar um mimo meu avó ter descrito desde seu interesse por minha avó, desde os segundos que eles se cruzavam até namorarem e casarem de fato. É também uma forma de eu conhecer um pouquinho mais da história deles e da vida dela, em particular e me aprofundar mais, sabe?

Bom, voltando a arrumação, o mais difícil era tentar entender os motivos pelos quais minha vó foi levada a guardar certas coisas. Céus! E de certa forma, até era engraçado imaginar as possibilidades. E ver brotar, de uma gavetinha cacareco que dava para lotar um armazém, rs. Com todo respeito: minha vó era bagunceira de marca maior. E guardava tudo quanto era treco. Desde pedaços de panos velhos e resgato, sem utilidade até milhares de revistas de crochê, bordados e pintura que ela não fazia mais tinha uns 5 anos, rs. Bonecas minhas que não sei porque guardava se estavam ruins, rs. E uma infinidade de coisas de costura!!! pelo visto, esta arrumação vai levar um pouquinho mais de tempo. Porque só Deus sabe o que mais ainda vai sair de dentro daquele armário pequenino, rs. E eu que pensava às vezes que ela tinha pouca coisa. Ela que camuflava mesmo, haha...

Deu para matar um pouquinho das saudades dela. Das roupas eu peguei algumas coisas, umas porque dá para usar, já que vestíamos o mesmo número. E outra porque quero ter algo dela como recordação. Apesar de saber que ela vai estar sempre comigo, nas mínimas coisas aqui em casa e no meu pensamento. Queria algo de concreto para um dia poder mostrar ao meu filho e dizer que foi da bisa dele. Mas, tô gostando de colocar os guardados dela em dia. Aproveito para me deliciar um pouquinho mais nos seus segredos e desconhecida história, por mim e para me despedir mais. Além, é claro, de dar boas risadas!!!


19 de novembro de 2010

Na vida a gente cai e levanta

Por mais que a gente esteja acostumada a levar rasteiras da vida, uma nunca é igual a outra. E sempre nos surpreendemos quando isto acontece, por mais que em algum momento, percebemos que mais cedo ou mais tarde será inevitável! Desentendimentos e até abalo de amizades acontecem corriqueiramente, pelos mais variados motivos, desde divergência de opiniões até intrigas e mentiras. Quando simplesmente é límpido se chega a um consenso de que não dá mais, beleza! Só não sei o que as pessoas ganham falando mal por trás, fingindo, mentindo, sendo ardilosas. E, numa hora destas, como dizem que toda história tem dois lados e eu concordo muito com isto, pessoas que rodeavam os personagens principais da trama vão ter que se posicionar. Se for por livre e espontânea vontade que eles escolhem um dos dois lados, ok! Cada um tem direito a creditar e pensar de acordo com suas convicções. Mas usar da manipulação e até da repulsa para forçar alguém a ficar do seu lado, é jogo sujo. Acho que as pessoas, pelo menos as que eu convivo e acredito ser, são muito maduras para se deixar influenciar pelas ideias dos outros. Cada um vai ter seu pensamento, mas que de repente não incomodará para que a amizade continue a fluir bem. Mas hoje, vejo que não é bem assim e isto me chateia bastante. Sei que mostra que a pessoas ou não era tão amiga ou não me conhecia tão bem a ponto de acreditar em qualquer coisa que falem a meu respeito. Mas dói do mesmo jeito. Eu, do meu lado, já evito aumentar a repercussão, justamente para não causar saia justa à ninguém. Que fiquem com apenas uma versão dos fatos, não me importo. Aqui dentro, sei bem minhas razões e motivos para ter agido de tal maneira. A gente não cansa de se decepcionar. E não deixa de ser uma forma de aprender com as experiências. Nem digo que foi erro, pois quando estava lá e fiz tudo que fiz, achei que era o certo a fazer. Hoje, só estou magoada com a falta de gratidão e incompreensão de uns e outros. Pela falta de humanidade em prestar solidariedade em um determinado momento difícil para mim, fora as divergências, pela incapacidade de uma ato de bondade. Ainda mais vindo de pessoas que se dizem tão religiosas e espiritualizadas. Pra mim, então, ainda tem muito que evoluir. Mas enfim, cada um tece sua vida e colhe aquilo que plantou. Não desejo mal, principalmente porque não é do meu feitio e acredito que tudo de ruim que vc deseja ao próximo, se volta contra vc. E tb porque existem terceiros envolvidos no meio, que não tem nada haver com isto e que dependem da pessoa que hoje desprezo para ser alguém na vida. Não os condeno, apenas lamento que tenha que ser assim. Tô tentando aprender a ser mais generosa, principalmente comigo e não me cobrar tanto se as coisas não saem bem. Tô aprendendo a não me culpar por não dar certo se eu estava certa em meus pensamentos e sentimentos. Ainda tô aprendendo, à passos pequenos, porque sinto tristeza ao lembrar e penso se não teria sido melhor, apenas um gesto de mudez e um desvio de olhar para evitar tudo isto. Será que valeu a pena? Não sei... Só sei que pelo menos minha garganta não parece mais ter um bolo entalado nela e minha consciência tá leve. Porque bem ou mal, fui verdadeira e me aliviei. Resta agora esperar as cenas dos próximos capítulos. Fds irei ver a apresentação da minha sobrinha e vou me deparar com o problema em questão e com os que estão envolvidos indiretamente na questão. Se meus amigos me tratarem bem e com carinho como sempre fizeram, já ganhei a parada. O resto é apenas o resto e eu nem quero saber.... Ansiosa!

Beijos

17 de novembro de 2010

Ave Maria - Beyoncé

Coincidentemente, ou não, dias antes do falecimento de minha avó, vim saber da existência desta música e desde o primeiro momento que a ouvi ela me sensibilizou bastante. Fiquei tocada pela melodia e pela letra. Por dias, fiquei cantarolando o que consegui guardar na memória. Ia dançar esta música no espetáculo de final de ano da academia de dança que frequento há muito tempo e no qual minha mãe é sócia. Mas, por uma série de acontecimento e, como ponto final a morte da minha vó, achei melhor não dançar. Embora a dança fosse o que minha vó gostava de me ver fazendo, sei que pela música e pelo que ela representa pois minha vó era muito religiosa, não iria conseguir me manter firme no palco. Hoje, ouço esta música em prantos, mas também sei que ela vai me ajudar a superar e a suportar. E, quando eu ouvi-la novamente, sem chorar, saberei que a dor está sarando e estarei aceitando a partida de minha vó.


Ave Maria

She was lost in so many different ways

Out in the darkness with no guide
I know the cost
Of a losing hand never found the grace of GodThough I
I found heaven on Earth
You are my last, my first
And then I hear this voice inside
Ave Maria

I've been alone
And then surrounded by friends
How could the silence be so loud
But I still go home
Knowing that I've got you
There's only us when lights go down
You are my heaven on Earth
You are my hunger, my thirst
I always hear this voice inside
Singing Ave Maria

Sometimes love can come and pass you by
While you're busy making plans
Suddenly hit and then you realize
It's out of your hands
Baby you got to understand
You are my heaven on Earth
You are my last, my first
And then I hear this voice inside
Ave Maria

16 de novembro de 2010

Carta de despedida

Hoje faz sete dias que minha vó se foi. A dor da saudade ainda é grande e acho que mesmo após anos, a imagem mais marcante que terei na memória é a dela, entubada, inconsciente, em um CTI. Fiquei muito perturbada com esta cena. E depois de ficar ali, ao lado de seu leito, esperando por apenas um momento de consciência e lucidez para me redimir de meus atos, percebi a absolvição que talvez nunca viesse.

A gente sempre acha que está preparado para o pior. Mas, nunca está. A gente, embora entenda racionalmente a situação e às vezes prefira que o ente querido se vá a ficar sofrendo, privado de suas vontades e em cima de uma cama, nunca sente racionalmente a situação. Somos totalmente emocionais e passionais. E embora a gente venha amaciando em nossa mente a hora da notícia da partida, o adeus final nunca é como imaginamos ou ensaiamos. E a ficha da perda não cai totalmente na hora não, muitas vezes só dias depois, com o passar do tempo e as situações rotineiras que somos forçados a enfrentar: a ausência à mesa, nas refeições, o diálogo diário, o quarto cheio de lembranças, a casa vazia, a vida meio sem sentido.

Fiquei desde o dia em que ela se internou no hospital pensando em algumas questões que talvez eu não tivesse me dado conta antes ou que não tivesse dado a devida importância. Questão estas que agora são tarde demais para resolver no plano material e só me resta o entendimento dela no plano superior, elevado, espiritual.


“ ... acariciando sua pele fria e trêmula, já pressentindo suas ultimas horas de vida, esperançosa de um olhar de reconhecimento em vão. Por tantas vezes ignorei ou reclamei de frases triviais dita-me ao longo do dia, como: olha o pé não chão; não esqueceu de nada?; já pegou o guarda-chuva?; saiu do banho quente e tá abrindo a geladeira!; não dorme de cabeça molhada, não faça isso, faça aquilo outro... agora rezo para escutar. Pago hoje o preço de não ter dado o devido valor em vida tanto quanto você mereceu! A gente sempre acha que já disse tudo a alguém, e nosso maior erro é achar que o outro sabe de tudo que pensamos e sentimos explicitamente. Sendo assim, me pergunto: A senhora sabia o quanto eu te amava? Acho que não aproveitei todos os dias em que esteve sã e saudável para poder dizer e demonstrar o quanto você era de fato importante para mim. Foi através de seus primeiros cuidados que me tornei a pessoa que sou hoje. E por causa de suas broncas e repreensões soube cultivar valores e atitudes que carrego comigo para a vida toda. Ao mesmo tempo que era durona e impunha respeito tinha um olhar doce e um jeito meigo que me fazia crer que de você tudo eu conseguia ter. Sua bondade era infinita e sua paciência eterna. Qualidades estas que tento inserir em mim. Sei que de onde está hoje, em algum lugar lá em cima, me ouve e me guia, e desta forma, eu te falo: obrigada! Por todas as vezes em que esteve ao meu lado, mesmo que eu estivesse errada, me ensinando o certo. Por todos os cuidados nas horas que eu estava doente. Por todas as rezas que desprendeu para mim quando eu me encontrava fora de casa e se preocupava com meu bem estar. Por todas as vezes que eu te solicitei e você voltou. Por sempre ter mudado seu caminho em função dos meus. Já que dizem que nunca é tarde para se agradecer. Espero não estar esquecendo de nada. Caso contrário, posteriormente agradecerei, em nossas conversas mentais diariamente. Ah, e espero que você também me perdoe, com sua imensa generosidade. Por todos os momentos de briga, intolerância, incompreensão ou rispidez. Desculpe a minha arrogância e ignorância por não perceber suas necessidades e fazer pré-julgamentos de suas atitudes. Sei que agora é um pouco tarde para olhar em seus olhos a procura de uma menção de perdão. Você me olha, mas não me vê. Me ouve, mas não me escuta. Me toca, mas não me sente. Seus sentidos estão se indo, junto com a sua consciência. Mas a minha fica aqui, pesada, cheia de culpas e arrependimentos, por saber agora que antes eu tinha todo o tempo do mundo para falar, aproveitar, dar valor e principalmente ouvir mais, de você, da sua história, das suas vivências, da sua experiência e ter desperdiçado com atividades banais ou pessoas agora sem importância. Ah, se o tempo voltasse, mas não volta! Não sei se eu faria diferente... mas poderia tentar. Meu consolo é saber que você teve uma boa vida e, dizem as más línguas que aproveitou a vida que teve. Soube viver! Será que sim ou suas escolhas e as de terceiros a acabaram levando a vida que tinha até dias atrás? Acho que nunca saberei. Mas prefiro ficar com a versão de que era satisfeita, realizada e feliz. Só quero que me prometa uma coisa, entre tantas outras que já me prometeu: que nunca vai me esquecer. E que sempre dará um jeito de vir me visitar e estar perto de mim. Me orienta, cuida, abençoa, como sempre fez. Se faça presente, como era de sua pessoa. Acalenta minha alma. Conforta minha dor. Porque eu vou contar com isso. E se for possível, se permitirem aí em cima, venha em sonho, visão ou sensação me contar como é o outro lado da vida. Se é bonito como aparece nas novelas. Se é calmo e exala paz. E como são os anjos? Tem asas, rs? Já encontrou alguém da família, pais, irmãos, marido? E você volta quando? Hein? Vamos nos encontrar daqui a algumas vidas novamente? Espero, ansiosamente, que sim! Que em minhas orações encontre uma forma de manter viva a nossa ligação e acesa o meu amor e carinho por você. Deixando assim, em mim a sensação não do Adeus definitivo, mas somente do Até Breve. Deitada, agora em sua ex-cama, agarrada aos seus ex-travesseiros, lentamente vejo os dias passarem e dentro deles oscilo entre muita e pouca falta, mais ou menos saudade. Dizem que o tempo ameniza a dor, não sei. Nunca passei por uma perda tão próxima. Mas uma coisa é certa, seu lugar sempre vai estar garantido entre nós e em meu coração, assim como na lembrança e nas pequenas coisas do dia. Sua presença não só é muito forte dentro desta casa, mas em todos nós que cercávamos você ou que por você éramos cercados. Você era o seio da família e a razão de vida minha e de minha mãe. É, não tem jeito, você se foi, mas deixou sua maior herança para nós... você em vida. Ter nos dado a oportunidade da convivência e do aprendizado com você. Isto é meu maior tesouro. Como nas suas orações, sei que está bem guardada e acomodada aí em cima, ao lado do nosso Senhor. E vai continuar sua jornada ajudando outros assim como fez em vida, aqui na Terra. Faça o bem e seja boa como sempre foi. Esta agora é sua nova missão. E, missão dada vó, é missão cumprida. Com certeza!”



Neguinha (Fernanda)

11 de novembro de 2010

"A morte não é nada..."

Pois é, depois de séculos de omissão, estou de volta! Eu acho. Muita coisa aconteceu em minha vida e uma delas foi o adoecimento e a perda da minha vózinha querida. O que, obviamente, mexeu muito comigo. Ela se foi tem 3 dias mas parece uma eternidade para a saudade. Para a lembrança, é como se ela nunca tivesse deixado de estar aqui. E para a dor que causava vê-la sofrer em cima de uma cama e padecer um pouquinho a cada dia, tenho alívio de saber que ela descansou, em fim, na santa paz da Deus, nos braços do Senhor. O fato é que desde o início da doença ate o término dela que culminou com o término da vida de minha vó, meus dias se resumiam a cuidar dela ou a me revezar cuidando dela com minha mãe, cunhada, madrinha e todos da minha casa. Infelizmente, todo este esforço foi em vão e dia 8/11/2010, às 18:22, por falência múltiplas dos órgãos, o câncer em seu fígado que se alastrou por todo seu corpo frágil e amarelado a esta altura ganhou a briga que ela travava com a vida. E, para deixá-la ir, como se deve, me proponho a voltar a minha vida, a ocupar meu tempo, meus dias com a minha rotina cotidiana.

Na falta de palavras para descrever o sentimento que borbulha dentro da gente após uma perda, encontrei este texto que possui uma mensagem de conforto. Conforto este que nem sempre sentimos, embora saibamos que a pessoa que se foi algumas vezes, esteja melhor assim, longe do que perto e sofrendo. A aceitação demora a chegar e tem horas que percebemos que só o tempo dará jeito... Este texto me lembrou a minha avó em sua essência, pois se ela pudesse tecer algumas palavras com sabedoria agora para nós, que aqui ficamos com uma saudade e dor imensas, seria assim:




A MORTE NÃO É NADA

“ Eu apenas passei para o outro lado do caminho

Eu sou eu, vocês são vocês,

O que eu era para vocês, continuarei sendo.

Dêem-me o nome que sempre me deram,

Falem comigo como sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas,

Eu estou vivendo no mundo do criador.

Não utilizem um tom solene ou triste,

Continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos,

Rezem, sorriam, pensem em mim.

Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado como sempre foi,

Sem ênfase de nenhum tipo,

Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.

A vida significa tudo que ela sempre significou,

O fio não foi cortado.

Por que eu estaria fora dos seus pensamentos?

Agora que estou apenas fora de suas vidas?

Eu não estou longe,

Apenas estou

Do outro lado do caminho...

Vocês que aí ficaram

Sigam em frente,

A vida continua linda e bela

Como sempre foi”



Santo Agostinho