27 de agosto de 2013

A maternidade toma conta de mim!




Quem acompanha esse blog desde seu nascimento sabe que maternidade sempre foi aquele item totalmente dispensável na minha lista de prioridades. Nunca cogitei mesmo a hipótese, além de julgar que não tinha a menor vocação para ser mãe. Estava numa época egoísta, por assim dizer, querendo me pôr em primeiro lugar sempre, pensar nas minhas necessidades, batalhar pelos meus sonhos, trilhar objetivos de vida. E não me via, nem tão cedo, abrindo mão de mim por um serzinho que precisaria de meus cuidados e atenções em tempo integral. E então, esse foi meu discurso por anos sempre que perguntada sobre "quando viria o filhote". E colocava na lista estabilidade financeira, um emprego que me satisfizesse, a hora em que eu achasse que já tinha cansado de curtir a vida, quando já tivesse realizado alguns projetos e sonhos pessoais, incluindo cursos, viagens, passeios e afins. Por anos usei isso como razão para justificar a minha falta de vontade por ser mãe. Hoje vejo que dei desculpas. Não, não foi errado! De fato, naquela época e há um ano atrás eu verdadeiramente não estava preparada para assumir tamanha responsabilidade para o resto da vida. Achava injusto colocar uma criança no mundo e fazê-la pagar pelas minhas imprudências e pior, caso eu viesse a colocar a culpa nela pelas minhas não realizações e complexá-la. Por isso, esse assunto era sempre tabu pra mim e poucas pessoas aceitavam numa boa essa escolha. Sempre tinha alguém para argumentar que quando se é mãe a coisa se transforma, você muda seu jeito de agir e pensar, que compensa por isso e por aquilo. Fora os discursos de quem não entendia como uma mulher simplesmente não tinha vontade de ter filhos e proferia aquilo com tal naturalidade como quem diz que hoje não está afim de ir ao cinema. Em determinados momentos, tamanha era a cobrança e reivindicações por explicações que eu comecei a me sentir um E.T. Eu achava tão normal que hoje, a mulher moderna e independente, dona de seu corpo e de sua vida pudesse escolher que viga gostaria de ter que não acreditava quando ouvia essa ladainha feminina. 

Bom, o tempo passou, me relacionei algumas vezes, algumas sérias outras não. Estudei, viajei, fiz amigos, realizei alguns projetos. E um dia, sem mais nem menos, entra na minha vida, de maneira arrebatadora um homem que viria ser meu marido. No início, cansada de decepção e falsas promessas de amor e compromisso não levei muito à  sério. Mas com o tempo, fui vendo a verdade em suas palavras e ações. E eu, que também já me sentia numa fase pronta para, como diria, "sossegar" e encontrar alguém a fim de ter algo mais consistente não recusei o convite que partiu dele de morarmos juntos e construirmos uma vida a dois. Não levamos muito tempo entre as saídas, o namoro, o noivado, o morar junto e o casamento para oficializar a união que ele tanto fazia questão. Nos reconhecemos quando nos encontramos. Então, se duas pessoas possuíam um desejo comum, por quê adiar mais, né? Pronto, casamos, construímos a nossa casa e sempre estivemos muito felizes, tirando algumas brigas e desentendimentos que todo casal tem, normal. Mas, mesmo ele sendo compreensivo, me apoiando sempre e cabeça aberta o tema filhos sempre foi um assunto delicado entre nós. No início, ele não entendia a minha falta de vontade. Depois, acabou aceitando. Quer dizer, não sei até que ponto foi aceitação mesmo ou apenas deixou de insistir num assunto em que ele via que eu não mudaria de ideia e ele não conseguia concordar comigo simplesmente porque o grande sonho dele sempre foi ser pai. Depois de estabelecidas as opiniões sobre filhos, vez ou outra esse assunto surgia e aos poucos, fui me vendo considerar a questão falando as palavrinhas "se" e "quando". Às primeiras vezes que eu disse eu mesma nem me dei conta, quem me chamou a atenção para isso foi meu marido. Depois, eu mesma percebia que falava, mas sempre cogitando a hipótese para um futuro beeeeeemmmmmm lá na frente. 

O tempo passou mais um pouco e cada vez mais a vontade de ter um bebê surpreendentemente tomava conta de mim. Eu nem sabia explicar como uma coisa que até ontem eu tinha pavor de pensar hoje dominava a minha mente a ponto de me imaginar fazendo tudo que uma mãe faz. Aquele pezinho atrás não me abandonava. Sempre tinha uma voz que insistia em vir e ficar matutando na minha mente se realmente eu queria aquilo, se conseguiria lidar com a situação ou se apenas estava sendo tomada por uma vontade passageira visto que muitas amigas minhas entraram ou estavam entrando nessa coisa de maternidade e eu, por tabela, não estaria sendo contagiada pela vontade e alegria delas. Me perguntei isso por meses e meses até poder afirmar para mim mesma que não. As razões que eu alegava antes para não ter um bebê eu vi que já não existia mais, a não ser a preocupação financeira e a estabilidade profissional, que precisam ser cada vez melhores quando se imagina que terá mais uma pessoa para incluir no orçamento da família  que nos primeiros anos de vida gasta-se a rodo. Mas de resto, hoje em dia estava bem mais tranquila em casa, aliás, gostando cada vez mais de curtir a minha casa, feita com tanto esforço. E por falar nele, depois do casamento e da casa, vi que se a gente esperar demais o momento certo, esse pode nunca vir. Pois sempre terá alguma coisa que fará com que os planos sejam empurrados pra depois. Muitas vezes temos que forçar a barra mesmo, empurra daqui, empurra dali, priorizar coisas, cortar outras. Mas se quer mesmo alcançar um objetivo, as concessão são necessárias. Se não fosse isso, não teria chegado hoje aqui, tendo o que tenho. Não viajei e conheci todos os lugares de que gostaria, mas tinha ido a tantos e aproveitado tando a minha juventude, adolescência que o sentimento de ter que deixar de fazer alguma coisa já não fazia parte de mim. Já não tenho saído muito e as minhas saídas são mais lights, meu pique também não é mais o mesmo. Minha vida se assentou e posso não ter feito tudo que imaginei que faria, mas estou satisfeita com o rumo que as coisas tomaram. Claro, se algumas coisas pudessem mudar para melhores quem não iria gostar? Mas chega uma hora que a gente percebe que não leva a nada insistir em "chegar lá" e que é melhor se concentrar e valorizar o "aqui". Sim, eu de fato havia mudado, por dentro e por fora e agora, me sentia pronta em experiências e em tempo para ser mãe.

Alguns amigos brincaram falando do tal "relógio biológico", aquele que dizem que a mulher quando chega perto dos 30 começa a ter vontade louca de engravidar. Bem, estou justamente nessa casa então, pode ser que seja isso, rs. Ou pode pelo fato de eu perceber que apesar de algumas privações no começo quando uma criança nasce, aquilo não perdura para sempre. Vejo muitos casais saírem, viajarem, e terem uma vida normal com os filhos. Claro que isso é fruto de uma boa base familiar e uma boa cumplicidade do casal, já que a intimidade por vezes fica abalada momentaneamente, perde-se alguma liberdade e não pensa-se mais em dois. Decisões e planos são à três, à quatro... E a prioridade passe a não ser mais nós e sim eles, filhos. Mas, estou disposta a isso. Depois que eu vi que não precisaria perder nada e sim mudar um pouco a dinâmica da coisa parece que me senti ainda mais confortável e confiante perante uma decisão tão importante.

Então, depois de muito conversar, planejar, orçar, calcular daqui, dali, resolvemos que era chegada a hora. Bom, vocês leitores antigos também devem ter acompanhando alguns textos publicados logo em seguida após a descoberta de que meu marido, por conta de uma problema genético, não poderia ter filhos. Isso foi um baque para ele muito maior, claro, até porque ser pai sempre foi seu grande sonho e agora ele estava sendo cortado pela raiz. Já que os médicos disseram que mesmo com tratamento e remédios para melhorar o problema, gerar filhos era uma questão quase que certa, não poderia. Eu, por outro lado, levei um baque por ver que o que eu sempre disse que não queria, agora acontecia de fato. Comecei a me dar conta diante da impossibilidade de engravidar que naquela época eu disse que não, mas não era de fato uma vontade minha para o resto da vida. Eu não tinha mais opções, de voltar atrás, de mudar de ideia, de querer. Agora realmente, minha vontade primária de não ter filhos era concreta. Não achei que fosse me abalar com isso já que na minha cabeça estava certo que se isso algum dia acontecesse seria mais como uma coisa natural do que como uma grande vontade. E acho que a certeza disso de fato nunca acontecer acabou ajudando a aflorar a vontade que crescia dentro de mim dia após dia. Bom, com esse diagnóstico nas mãos, começamos uma busca por tratamento e opções e as duas mais certas como inseminação e adoção passaram a ser os temais mais procurados e estudados e investigados. A primeira opção é cara e no serviço público de saúde é sem previsão. Então, partimos para a adoção e aí, foi quando me vi numa expectativa que eu não me imaginava.

De repente, de uma mulher que pensava em si, me vi horas e horas na net e dentro de lojas de bebês vendo quartos, enxoval, me informando sobre produtos e cuidados. Vi que muitas vezes entrava no quarto vazio ao lado do meu e imaginava como ele ficaria cheio de vida, de choros e risadas, além dos brinquedos espalhados. Começava a me imaginar no lugar de mães que eu via na rua com seus filhotes, brincando, acariciando, embalando nos braços. Senti esse tal de amor incondicional começar a brotar em mim por alguém que eu nem sequer tenho. Eu já sinto que amo um bebê que nem tenho noção de quem é. E quando eu me vi, meu mundo começou a girar em torno de produtos e assuntos infantis. Era tarde demais, eu já estava tocada e totalmente comprometida com a maternidade. E agora, vivo a expectativa de encontrar esse alguém por quem eu já nutro um sentimento especial. Que sei que vai me dar muitas noites em claro de presente, trabalho, cansaço e preocupação. Mas sei também que terei para sempre o meu amor maior.

Fiquei impressionada com tal transformação. Se não fosse comigo, eu mesma não acreditaria. Sim, ainda existe medo, mas agora é diferente. Tenho medo de não ser boa mãe, de não saber cuidar direito, de não dar conta do recado, de não suportar as responsabilidades. Não são poucos os casos em que se imagina que é uma coisa e é outra. Não são poucos os casos em que depois do nascimento a mãe surta ou entra em depressão. Não são poucos os casos em que as mãe são sabem lidar bem com essa mudança de rotina que não é passageira, não é só uma fase,é para sempre. Esses medos acho que sempre existirão. Acho que toda mãe tem algum medo, lá no fundo, com relação a si e com relação ao filho. Há fases e acontecimentos comum a quase todos os bebês que muita gente desconhece, simplesmente porque não é falado.A gravidez e a maternidade são retratadas apenas em sua parte linda, feliz e plena. Mas "o lado negro" em que às vezes a mãe tem vontade de sumir, jogar tudo pro alto, está a ponto de enlouquecer, dorme pouco, come mal, vive numa correria danada, numa cobrança e pressão sem fim, tem que dar conta da casa, do marido, do trabalho e dela mesma, isso ninguém conta. Nunca vi um livro que contasse esses pormenores que parece que esqueceram de mencionar. Ou preferem não falar para não assustar mesmo! Mas existe e eu ainda tenho medo disso. Mas confesso que não sei nem de onde vem uma força que me diz que sou capaz. Que tudo vai ficar bem e que se não ficar para eu me acalmar que darei um jeito. Me anima ainda mais saber que poderei contar em tempo integral com o Ju, que ele vai me dar um suporte sempre. 

Ainda oscilo pensando se estou tomando a decisão certa visto que não tem mais volta, uma vez que dito sim ao juiz. Mas meu coração não duvida! Sim, é isso que eu quero! Não sei se estou pronta, mas sinceramente, alguém está? Não há receitas em como ser bom pai ou mãe, em como agir assim ou assado, não há um manual para casa situação. Tudo se aprende na prática. O conhecimento vem da vivência. Mães e pais, permitam-se errar. Permitam-se tentar. Permitam-se! Esqueçamos a cobrança de perfeição alheia, os conselhos que não pedimos e a intromissão que não é bem vinda. Cada um cuida e cria o filho da maneira que quiser. Não sei, mas me parece um saco aqueles que sempre vêm com um conselho como se fossem os donos da verdade. Pombas, o que funciona pra um pode não funcionar pra outro. Cada caso é um caso. Óbvio que toda ajuda é bem vinda, desde que venha com humildade. Não somos autossuficientes, não temos todas as respostas. Então, perdoemos nossas falhas. Pois se não faltar amor e boa vontade, tá tudo certo.

Não vejo a hora de começar de fato a colocar a mão na massa e ajeitar o quarto e as coisinhas e esperar o dia em que estarei com ele nos braços e amarei de todo coração como se tivesse sido gerado e saído de mim. E que torne nossas vidas mais completas e felizes.

Como a vida é surpreendente! 



"Ainda bem que sempre existe outro dia. 
E outros sonhos. 
E outros risos. 
E outras pessoas. 
E outras coisas..."

Clarice Lispector

Um comentário:

Cris Medeiros disse...

Acho que pode ser o tal relógio biológico que bate mais ou menos por volta dos trinta. Eu como não nasci num corpo feminino, certamente esse relógio não veio embutido em mim... rsrs. Nunca tive vontade de ter filhos e acho que dificilmente terei. Agora tb já tá meio tarde para eu pensar nisso... rs.

Mas torço que consiga realizar esse novo sonho que surge na sua vida.

Beijocas