30 de agosto de 2013

Justiça que atrasa!




Revolta e indignação! É tudo que eu tenho para expressar nesse momento! Você tenta entender a razão de certas coisas pela ótica do bom senso até você não precisar delas. Pois quando você precisa, meu bem, não faltam argumentos para você cuspir aos berros a lista das suas necessidades e incompreensões acerca de certos trâmites burocráticos que regem esse país. Sério, na boa, pobre do coitado que nem eu aqui que tem que ficar à mercê dos desmandos e da boa vontade da justiça de trabalhar. E ela, justamente ela que quer tentar conscientizar as pessoas a não burlarem as leis e agirem através da legalidade, acabam incentivando atos ilegais pela demora e até descaso com que são tratados os casos das pessoas. Explico melhor minha repulsa repentina:

Ontem fui a uma reunião organizada pela Vara da Infância e Juventude e do Idosos, situado na Praça Onze. Essa reunião é ministrada para os candidatos a adoção de crianças e tem por intenção explicar o passo a passo, a documentação, o que constitui uma adoção, a legalização da guarda provisória à definitiva e principalmente, enfatizar que a adoção é um gesto de amor mas de muita responsabilidade. Portanto é necessário que se pense e pese bastante essa decisão, pois uma vez tomada, impossível voltar atrás. Essa parte é legal, apesar de achar que a maioria das mais ou menos setenta pessoas que lotavam aquele auditório quente, minúsculo e pouco confortável já sabiam bem o que queriam, visto que grande parte das pessoas ali já aparentavam uma certa idade e a medida que as explicações "emocionais" sobre a adoção eram faladas, notava-se pelas feições que era a última alternativa, a única chance que restava para quem anseia ser pai ou mãe, independente de laços de sangue. Portanto, sim, as pessoas estavam cientes do que queriam e gostariam apenas de se informar como poderia ser feita a coisa. Não descarto a possibilidade de, após essa primeira reunião, muitas pessoas desistirem do ato. Algumas podem até cair em si e perceber que no momento não é isso que querem para suas vidas ou que simplesmente, não são capazes de fazê-lo. Porém, acredito que a maior parte das desistências se dá ao fato da lentidão com que as coisas se arrastam, a burocracia que se tem que enfrentar, as dificuldades processuais que por vezes podem se tornar exaustivas e tornado dessa forma uma coisa simples, visto que há infinitos abrigos abarrotados de crianças e adolescentes à espera de um lar, numa dificuldade enorme e sem previsão de término. Angustiados e ansiosos pela demora no andamento do processo, no meio do caminho muitos candidatos à adoção desistem pelo simples fato de não se ter uma posição de quando conseguirão e não têm mais nada que se possa fazer com relação a isso, está nas mãos deles.

A reunião estava marcada para às 13h. Assim que chegamos, meu marido e eu nos deparamos com uma fila gigantesca. Após alguns minutos de espera na fila e uma certa dificuldade para acomodar as pessoas no auditório, ouvimos uma das palestrantes falar: "nossa está cada vez mais cheio!". Pombas, se estão vendo que a procura está aumentando, por que raios não colocam mais reuniões no mês, em vez de ser somente na última quinta-feira? Dessa forma poderiam dividir em grupos menores e concentrar uma maior atenção até às dúvidas e questionamentos. Logo que conseguimos entrar no local, nos deram um envelope pardo que continham alguns dados de documentação necessária, uma planinha explicando as fases do processo e uma ficha cadastral onde você insere o perfil da criança desejada. Logo de cara já não gostei do que vi quando li os papéis! Primeiro, no site do próprio juizado que eu havia consultado dizia a documentação necessária para dar entrada no processo para "habilitação à adoção". Isso mesmo! Um processo para que a juizado nos conceda um "aptos" a sermos pais e só aí então, depois dessa aprovação, entrar na lista do Cadastro Nacional de Adoção, de fato. Bom, voltando a documentação, eles não informavam no site como estavam informando agora a necessidade de várias cópias autenticadas de cada documento meu e de meu marido. Além de uma série de declarações retiradas em cartórios que não são baratas. E isso porque no site constava que o processo era "isento de custos". Só se fossem na China!

Então, depois de explicarem e se certificarem de sanar todas as dúvidas, as assistentes sociais, psicólogas e advogas deram início a uma conversa para melhor informar como é o perfil das crianças colocadas para a adoção, como se dá a adoção dependendo da faixa etária preterida, os direitos e deveres dos pais assim que possuem a criança em seu poder, e o que constitui e as responsabilidades de uma adoção consciente. Já disse que, apesar de achar que a maioria dos candidatos presentes estava ciente do que iria fazer, acho válido enfatizar e explicar. Só não precisa gastar mais de quarenta minutos martelando nesse tema, visto que ainda haviam muitas outras coisas para falar. Não posso exigir que as pessoas pesquisem, se informem e corram atrás como eu, mas em todo e qualquer processo que queira dar início na vida, se não tiver o mínimo de esclarecimento sobre o assunto vai ficar complicado. Então, partindo desse ponto e mais uma vez levada a crer pelas expressões faciais e alguns ruídos emitidos, assim como cabeças balançando em concordância à algumas informações, percebi que as pessoas não estavam ali totalmente leigas. O que já era um indício de que podiam passar para o próximo tópico.

Passado para o próximo ponto, nova indignação: não é possível dar entrada na documentação que iniciará o processo pleiteando entrar no cadastro de adoção sem antes participar de no mínimo três palestras de grupos de apoio, tipo o AA. Só depois de participar delas e que, com o visto do monitor comprovando que eu estive presente é que conseguirei dar continuidade ao processo. Achei um tremendo absurdo. Não só pelos horários que não podiam ser piores (os candidatos a pais também trabalham e nem todo empregador é tão compreensivo com as necessidades de seus funcionários. E para se adotar uma criança é necessário ter como sustentar), mas pela obrigatoriedade de serem três. Uma já não estava bom? Legal ouvir pessoas falando de suas experiências após a adoção, de suas expectativas antes da adoção, mas salvo que cada caso é um caso e cada pessoa é uma pessoa. Não necessariamente o que um eu eu passei vai se repetir com terceiros e vice e versa. Isso não é garantia de que a adoção será um sucesso, que haverá uma boa convivência e aceitação, não haverá conflitos e se houverem que serão solucionados. As palestras não vão ensinar ninguém e ser bom ou mau pai e mãe. Podem ajudar a formar um cenário na cabeça e ter uma ideia da coisa, mas que não necessariamente vai ser a mesma quando for com a gente. Eles deveriam ministrar essas palestras para as mães prostitutas e viciadas que parem que nem chuchu na serra e jogam as crianças por aí pra morrer a darem para a adoção. Seria mais eficiente! Mas tudo bem, ainda estava engolindo com dificuldade essa história de palestras obrigatórias quando a assistente social pronunciou que, pela grande quantidade de candidatos e pelo fato de o grupo se encontrar apenas uma vez por mês, possivelmente só terá vaga para frequentar ano que vem. Que??? Gente, pra quê facilitar a vida né? Se pode atrapalhar pra quê ajudar? P..., se tem muita gente pra fazer o curso, abre mais dias. E se depende de fazer o curso para seguir com o processo de adoção, tá explicado porque muitos processos estão emperrados. Óbvio que é por conta da má organização e gestão da coisa. Quantos casais e pessoas não estão aguardando numa fila de espera para fazer um curso e seguir para outra fila que os coloca mais próximos (entre aspas) de seus objetivos? Milhares!

 #peloamordedeus

Juro que nessa hora minha vontade foi de levantar, gritar "palhaçada" bem alto, pois não posso xingar mas a vontade era essa, e dizer que pela incompetência deles é que na mesma proporção de gente que se animam para adotar também desanimam e procuram outros meios ilegais que eles condenam, mas ao mesmo tempo não dão nenhuma condição e facilidade para que seja feito tudo dentro da lei, da melhor maneira posível. Juro que quase saiu! Não sei que mão santa invisível foi aquela que me calou. De tamanha raiva eu acho que nem conseguiria articular as palavras direito. Sofro desse pequeno problema, as melhores respostas me ocorrem sempre cinco minutos depois de eu dar a mais idiota. Enfim, isso me desmotivou legal. Eu sabia que não seria fácil, nem rápido, mas não julguei que seria quase que uma missão impossível. A burocracia já é tamanha que você já sente vontade de desistir. Aí, em coisas que poderiam agilizar tudo, eles vão colocando "lombadas" como obstáculo te empurrando para mais longe do seu objetivo e tornando mais lenta a caminhada. Às vezes, creio que a verdadeira intenção da justiça não é simplesmente arrumar uma família para essas crianças. É fazer uma prova digna de reality show para ver quem resiste mais e chega no final perseverante. Prova de fogo! E fora que irrita as informações contraditórias. Cada um fala uma coisa e no final das contas o certo não é nada que todo mundo disse. É outra coisa que ninguém mencionou! O site deles diz que "adotar é fácil, rápido, longe de complicações e pode durar menos do que uma gestação"... Oi??? Aonde foi que nas quase três horas de palestra isso foi mencionado ou dado a entender? Em nenhum momento. Ou seja, são mentirosos, vendem uma informação que não é verídica para uma situação que não procede. Nitidamente estão comprando as pessoas a aceitarem a ideia da adoção e depois que elas estão todas entusiasmadas jogam um belo barril de água fria com tantos mas, porém, talvez, ainda não, mais pra frente. Tremenda injustiça!

E para finalizar o show de horrores, a psicóloga disse que após aprovados para entrar na fila para a adoção, ganha-se um documento que permite que se faça visitas aos abrigos para conhecer e ver de perto as crianças, coisa essa que mais uma vez estava escrita no site, "que os abrigos têm o maior prazer em receber visitas, desde que essas sejam agendadas previamente" (justo), mas ela, a psicóloga, não aconselha! Porque nos abrigos ficam todas as crianças, inclusive aquelas que já se encontram no meio de um processo de adoção, mas como nós e dependendo da idade da criança ela também não sabe, podemos nos decepcionar ao escolhermos uma criança, nos apegarmos a ela e ela não poder ser nossa. Por que deixá-las juntas então? Ou então, por que os funcionários do local não tem um controle, são informados das crianças que estão sendo visitadas já por famílias ou que já estão sendo colocadas à disposição para possíveis adoções através dos chamados da justiça ou até mesmo aquelas que ainda não estão prontas para adoção? Não entendo esses empecilhos todos! Que no fundo são simples de resolver. Eu posso ficar em casa esperando me ligarem dizendo que apareceu uma criança com o perfil desejado por mim ou posso ir pelos abrigos e encontrar uma, até mesmo diferente do perfil que eu escolhi. É um direito meu! Mas não é aconselhado? Como assim?

É tudo uma tremenda zona sabe? Uma monte de informações controversas. Um bando de mínimas coisas que dificultam e atrasam o processo. Em vez de haver incentivo e facilidades para que as pessoas se sintam estimuladas a fazer a coisa do modo certo, eles colocam obstáculos e mais obstáculos. Me senti no deserto vislumbrando uma miragem de Oasis. Não quero julgar o certo e o errado. Até porque, muitas vezes o errado vira certo e o certo vira errado. Dependendo das circunstâncias muita coisa é justificável. E eu vou ser bem sincera, se eu tivesse meios, conhecimento, se eu tivesse até mais coragem, talvez eu procurasse outros caminhos, do que ficar na incerteza do "quem sabe um dia" que pode nunca chegar. Eu sou adotada e desconfio que naquela época muita gente não seguia esse trâmite legal de adoção de hoje. E nem por isso as crianças são menos cuidadas e amadas e protegidas. Entendo o zelo e o cuidado da justiça para se certificar a quem estão entregando as crianças, em que lar e com que tipo de pessoas serão criadas. Mas de tanta dificuldade, acabam tirando e privando essas crianças que na sua grande maioria morará num abrigo até completar 18 anos e sair de lá dando espaço para outras crianças. Existe tantos corações maternos e paternos cheios de amor mais de braços vazios. Enquanto há muitas barrigas cheias e corações gelados. Antes fora da lei do que permitir que um bebê seja jogado à própria sorte sem nem saber se vai sobreviver! Que me recriminem os politicamente corretos, mas avaliem antes de julgar qual seria a decisão que tomariam diante de uma situação. Julgar é muito fácil! Mas o mundo gira e hoje quem acusa amanhã pode ser o acusado, justamente porque para ele, foi justificável o ato dele. Para mim, poderia não ter sido. É aquela velha história que se discute: é crime quem rouba comida? As opiniões de certo e errado são divididas entre as leis e os valores éticos e morais. Todo mundo concorda que roubo é pegar aquilo que não lhe pertence sem autorização do dono. Mas, mesmo por um motivo nobre, roubo se justifica? Depende! Se você for inflexível não, se for mais tolerante sim, se for comerciante não, se tiver uma família sim, se tiver de tudo não, se já tiver passado dificuldades sim, e por aí vai...

Mas, como infelizmente não me resta outra solução, tenho que me render aos desmandos e autoridades incompetentes desse país. Tenho que "a vossa vontade". Não sei o tempo que vai levar. Não sei muito bem como isso vai ser feito de fato. Tenho a impressão de que surpresas e imprevistos me aguardam pelo caminho. Vou tentar não desanimar e manter a confiança e a motivação lá em cima. É duro... mas vou tentar!

E essa foi a minha primeira luta nessa grande competição onde eu tenho certeza que os adversários podem e são maiores do que o tamanho que de fato tem. Mas enquanto não soa anunciando o final da luta, não há vencedores, mas também não há perdedores!

Boa noite e bom fim de semana



Um comentário:

Cris Medeiros disse...

A gente até entende que tudo isso é para proteger a criança, mas não entregá-las na mão de um louco, um pedófilo, ou mesmo a alguém que grande possibilidade de desistir da criança depois. Mas obviamente que pela quantidade de crianças a serem adotadas e condições em que vivem, a coisa poderia ser mais simples.

Beijocas