23 de novembro de 2011

Filhos da P... átria!

Minha indignação foi tanta no dia que nem consegui articular meu pensamento para escrever. Assisti ao "Profissão Repórter" terça e me deu um embrulho no estômago. Gente, uma criança de 11 anos grávida. Com um marido mais velho que ela, mas igualmente, uma criança, achando o máximo esse acontecimento abominável. Eles sorriam e demonstravam tamanha satisfação com o fato de serem pais, tal como se os pais deles chegassem e dissessem: "Olha o brinquedinho novo que eu trouxe pra vc!". Porque é exatamente isso que essa gravidez está associada: ter uma criança = uma boneca!

Na flor da juventude, recém saídos das fraldas, sem nenhum preparo nem físico nem emocional, com que base essa criança vai ser educada? Aliás, como ela vai ser sustentada? Numa sociedade com o mínimo de infra-estrutura já é complicado. Imagina para pessoas de baixo ou quase nenhum poder aquisitivo, desprovidos de estudos, de trabalho formal como ganha pão e até mesmo de valores éticos e morais? Visto que a cultura das família de classe baixa é repetir amanhã o que se vive hoje. Geralmente, as crianças de hoje, adolescentes, com 'filhos' nos braços é reflexo do que vivenciaram na infância. São espelhos de mães, irmãs, amigas desnaturadas e sem nenhum juízo.

Mas, de quem é a culpa? É uma guerra de empurra empurra e ninguém se assume. Porque na verdade, é um crime com múltiplos assassinos. E quem morre, é mais de uma vítima. É aquela mãe que muitas vezes vai ver seu futuro encerrado precocemente, como carreira de jogador de futebol quando se contunde. É o pai que insatisfeito com a responsabilidade imposta pelas circustâncias fogem de exercer seu papel de chefe de família financeiramente e moralmente, ou vai procurar na bebida e nas drogas o consolo ou alguma resposta que ele iludidamente, acredita ter. São os avós que negligentes, acham que já fizeram por demais cuidando dos filhos e que agora netos, nem pensar. E das creches que recebem filhos em vez de alunos. E professoras que não apredem no curso normal que vão ter que lidar com crianças problemas, crianças carentes, crianças que já nascem sem nenhum expectativa de vida. E da escola que tem que se preparar para lidar com essas crianças semi-rejeitadas pelos pais, que quase não lhe dão atenção e nem lhes têm como prioridade. Cabe, ao corpo docente escolar ser psicólogo, pai, mãe, amigo e educador. Dos hospitais, que superlotados, não têm mais condições de aceitar nenhum paciente a mais em seus domicílios, pois já estão superlotados não só de pessoas, mas de falta de profissionais, de medicamentos, de aparelhos, de espaço físico. E os poucos que restam e trabalham com amor à duras penas ainda levam a culpa por algo que estão fazendo "do jeito que dá" pra não deixar de fazer. E, por fim, a culpa maior é do governo, minha gente. Que diz a torto e à direito nas campanhas políticas que precisa-se de melhores escolas, hospitais, moradias, saneamento básico, alimentação e condições dignas para um cidadão viver. E, que nem criança acreditando em papai noel quando chega o natal, acham que apenas uma política de conscientização resolverá o problema.

Enquanto não houver uma lei que determine um n° "x" de crianças por família, de acordo com a faixa salarial e com as condições de educação para essa criança, a coisa só tende a piorar. Hoje, amanhã e daqui há 50 anos nunca vai haver infra-estrutura que baste para toda essa gente que nasce mais que coelho. Sei que sou um tanto quanto radical muitas vezes em meus pensamentos. Mas, acredito que enquanto não der um basta para que essas crianças continuem a crescer sem eira e nem beira com um tratamento de choque, sempre vai haver uma organização dos infernos, os direitos humanos que nunca fica do lado certo, o estatuto da criança e do adolescente que em vez de ajudá-los só dá mais condições para que continuem errando, passando a mão na cabeça deles. Há leis para tantas coisas... Se essa tal menina hoje com 11 anos já está grávida de um menino de 16 anos, quando ela completar a maior idade e que vai poder decidir se vai fazer ligadura de trompas, já deve estar com mais uns 3 ou 4 filhos. Isso se não for mais! O pai da criança hoje, com muita sorte também será o pais das demais que nasceram por aí. Caso contrário, ele já deve ter mais filhos espalhados por aí, com várias meninas diferentes e sorte daqueles que tiverem o nome do pai na certidão de nascimento. Sem nenhum controle populacional. Sem nenhum planejamento de vida, custo-benefício para cada criança, esses são os filhos do nosso Brasil!

E depois disso tudo, ainda tem gente que me diz que eu não tenho que me importar, que a causa está perdida, que "eles" são assim mesmo! Como assim eles? Eles somos nós, cara-pálida! Afinal de contas, para onde vão nossos impostos cobrados fielmente em altas taxas anuais? Para reformas de escolas, hospitais, creches e até presídios. Então, sinto muito, mas eu tenho todo o direito de me indignar e me revoltar sim. Não só pela situação que por si só já é absurda demais, como pela estagnação da sociedade como um todo, se acostumando com o que não é certo e aceitando calado como se não tivesse solução e nada mais pudesse ser feito.

Eu reclamo sim, eu falo sim, eu me indigno sim! Pois sei, que se a essas família tivesse sido apresentadas uma outra realidade, outras opções de vida, uma gama de oportunidades que poderiam obter caso fizessem as escolhas certas, tenho certeza que muita gente, não todos, mas a maioria, optaria por fazer diferente. Mas, como você quer que alguém tenha expectativas de um futuro rentável, casa confortável, carro, viagens e um mundo de oportunidades e experiências se na mesa só tem arroz e feijão pra comer e quando tem? Se quando tá doente leva até 8 horas para ser atendido num posto de saúde público quando é atendido? Como falar palavras bonitas para as crianças sonharem com o futuro se desde que acordam até a hora que dormem elas só se deparam com a dura verdade de que são quase um nada. da janela só veem pobreza, miséria, sujeira, esperanças 0.

Muito difícil. Mais difícil do que tentar reverter essa situação é mudar a base, a raíz do pensamento, as atitudes de um povo que já se acostumou com o pouco ou quase nada. E que sonho, é se imaginar no lugar da mocinha na novela das 20h. Nem que seja fazendo sucesso como cantora de funk para ser notada. Já que na escola leva 0 na redação, o que mais se pode ter além de um popozão e de din din na mão para chamar a tenção e se firmar como alguém.

Não, não tô dando desculpas... é apenas a lamentável saga "dos filhos deste solo que não é nada gentil, da pátria amada, Brasil"



Um comentário:

Cris Medeiros disse...

Eu estou com o programa gravado para ver. Mas o pessoal comentou ontem no meu trabalho. Realmente é algo chocante. E pior que não vejo uma solução nem a médio prazo!

Beijocas