3 de novembro de 2011

Sala de espera...


Não há nada mais angustiante do que sala de espera. Simplesmente porque você nunca sabe o que esperar, da espera. Pode ser uma coisa boa ou ruim. Para saber, resta esperar. Saguão de aeroporto, aquele entra e sai de gente. Gente esperando para se encontrar, gente se desencontrando, gente que espera muito mais do que o avião chegar, um parente chegar, uma plaquinha de "boas vindas!" ou um amor correndo pra te abraçar. Há muita expectativa no ar misturada a uma porção de incertezas limitadas. Tudo pode acontecer. E não estamos no controle desses acontecimentos.

Na sala de espera de um hospital não é diferente. É pior! Pelo lugar exigir silêncio, se faz silêncio até demais. Um silêncio cortante, que cala. Um silêncio que a gente não sabe se é melhor que fique ou que vá embora. Poucas palavras são trocadas entre os familiares que esperam uma notícia. Algumas histórias são contadas entre os 'desconhecidos íntimos' que compartilham segredos, verdades e casos, na espera de um consolo, de uma similaridade que acalme. Uma identificação que nunca é de fato. Olhar de minuto em minuto no relógio é inevitável. O ponteiro não anda. Nada anda. Quando estamos numa passeio muito agradável, conversando com amigos ou até dormindo, 1h parece 10 min. Se aguardamos algo ou alguém acontecer ansiosos, 10 min. parecem 10hs. 

Começamos a entrar numa espécie de transe, na expectativa de não pensar em coisas ruins. Ou, para fugir daquelas pessoas inconvenientes que vêm, claramemente, que você não quer assunto e mesmo assim, insiste em confidenciar seus problemas ou buscar alguma igualdade contigo. E o assunto em comum, geralmente é a doença do doente. E lá vem conselhos inúteis e sabedorias populares que em nada vão adiantar. Fora as crendices insanas e a insistência em demonstrar que ela (a pessoa) sabe do que fale. Bobagem! Não desmerecendo a dor ou a história dos outros. Mas, médicos sabem bem como é: cada caso é um caso. E cada paciente reage de um jeito. Resumindo, cada um com seu cada um, ponto!

Divagando pelas possibilidades do que pode estar se passando na sala de cirurgia, pensa-se em tudo. No que é ruim é mais comum. A gente tenta mudar o rumo da prosa e pensar em outra coisa, mas o medo é maior. E a porta abre. E sai alguém, com roupa de... de quem? Estão todos com roupas verdes. Não sei quem é o médico, o enfermeiro, o anestesista, o instrumentador e sei lá mais quem que faz parte da equipe. Sei que a toda hora que a porta se abre, meus olhos pulavam dentro do corredor, percorrendo cada canto à espera de encontrar quem procuro. O corredor tá vazio. Ou tá cheio de gente que eu não conheço. Que agonia! Saem algumas pessoas, pergunto pelo nome da paciente e eles dizem não saber dela. Não sei se me alegro porque se não sabem é um bom sinal de que nada grave aconteceu ou se não sabe é porque não se sabe mesmo! A gente se concentra nos mínimos detalhes: lê os mesmos recados no mural várias vezes. Futuca o celular. Anda em círculos, vai e vem, senta, levanta, abaixa, estica e nada acontece. O som de uma goteira do bebedouro vai ficando mais longe. meu olhar se fixa no vazio, no nada e fico ali, paralisada, mesmo não querendo ficar. E naquele vazio, naquele silêncio é onde fazemos nossas súplicas mais íntimas, onde em silêncio, nos redimimos de nossos pecados maiores, nos arrependemos dos nossos piores erros e juramos e fazemos promessas mil em troca de uma boa notícia. Nos penitenciamos e nos absolvemos em silêncio. No mesmo silêncio que nos calou. No mesmo silêncio compartilhado por tantos desconhecidos a essa altura íntimos, nem que seja pela semelhança da falta de notícias e da expectativa pulsante na veia.

Enfim, a hora passa, o médico enfim sai e vem uma boa notícia. Risos, abraços, alívio! Ouso a dizer que no mesmo compasso que o coração bate acelerado, parecendo comemorar, os olhos também se enchem d'água felizes com a boa notícia. É sim, emocionante! É uma reação que enm sei ao certo se consigo traduzir. É tudo muito sentido no íntimo. Não é nada muito exposto. A não ser a angústia da falta de noticias e o bendito do silêncio. 

Esperamos a vida toda e não nos acostumamos com a espera. quando demora muito queremos que venha logo, quando vem logo, queremos que demore mais um tantinho. Esperamos para nascer. E muitos de nós esperamos para morrer. A grande maioria de pessoas na vida espera viver uma vida de sonhos e deixa a vida real passar. Outra tanto de gente, espera tanto ser outro alguém diferente de quem é, que fica na corda bamba, sem ser um nem outro; não é ninguém. Alguns esperam ações, mas não esboçam reações. Alguns esperam calma enquanto outros esperam pressa. Alguns esperam que um dia o mundo se acabe. E outros acabam se acabando com essa espera, que pode tardar, mas nunca falhar. Esperar é um aprendizado. Esperar é aprender a transformar a ânsia, o desejo e a vontade em algo a nosso favor e não contra nós. Esperar não é penoso. O erro é esperar que algo seja feito. Que façam por nós. Mas, nós mesmo, nada fazemos, nem por nós, nem por eles, nem por ninguém. A espera pode ser benéfica, ajuda a amadurecer sentimento, a abrandar a mágoa, transformar o rancor, a diluir a tristeza, a avaliar mais a nós mesmos. Mas a espera também é que nem fruta madura: se passar do ponto, apodrece! E quando apodrece, não presta. Vai pro lixo uma fruta saborosa, que o gosto doce ou amargo ninguém nunca provou. Enfim... e por falar em espera, espero não ter crise de insônia essa noite. Pois não aguento mais cochilar e acordar, esperando um novo dia, uma nova vida chegar.



Um comentário:

Cris Medeiros disse...

Tenho horror a sala de espera. Aliás não gosto de ir a médicos, muito por conta da sala de espera, aquilo me angustia por demais!

Beijocas