25 de agosto de 2012

Mudança de vida, de ares, de lares...



A vida urbana tem se tornado uma loucura completa. É tanta correria, tanta gente estressada, que tem horas que desanima. Tudo é motivo para brigas, discussão, impaciência e descontrole emocional. A vida que deveria ser vivida está vivendo a gente. Temos a obrigatoriedade de estarmos conectados 24h por dia, para consumir e gerar informação. Informação essa que muitas vezes, é dispensável e particular. Nos tornamos prisioneiros de um mundo onde não basta ser, tem que ter, tem que estar. O pertencimento e a aceitação se tornaram itens indispensáveis na mesa dos brasileiros tal como arroz e feijão. E nessa correria constante, deixamos de lado certos gestos que são indispensáveis para o bom convívio em sociedade: bom dia, tarde ou noite, com licença, muito obrigado, desculpe, por favor. Somos capazes de dialogar horas e horas com gente estranha e conhecida através de bate-papo, compartilhar de pensamentos mil de milhões de pessoas em redes sociais, muitas que nem se conhece, mas nos tornamos incapazes de olhar para o lado e perceber o outro. Criamos uma individualidade dentro de um mundo moderno e cibernético que nos basta. Não, não somos autossuficientes. É que tudo agora está ao alcance de nossas mãos com apenas um clique, um toque, um olhar que não precisamos fazer esforço. Com todo esse conhecimento tecnológico que adquirimos, com o avanço e a criação de novos aparelhos que deveriam servir para facilitar o nosso dia-a-dia, fomos controlados pela criação. Fomos tomados por uma necessidade consumista de ter absurda. Não basta ter, tem que ter o de "última geração". Mesmo que o seu seja bom, você se sente ultrapassado quando percebe que a maioria tem o novo e você está com o velho e que não é tão velho assim. O conceito de usabilidade x necessidade se modificou. Logo, temos que ter para ser! E isso gerou uma competição despercebida interior que incomoda e cria barreiras.

Adventos que foram criados para integrar separam o indivíduo. Em meu trabalho, poucas pessoas fazem parte da equipe de uma empresa. Somos ao todo 8 pessoas. Claro que existe o contato visual, o diálogo cara a cara, mas passamos a maior parte do tempo conversando online. chegamos ao cúmulo de conversar "on" com uma pessoa do lado. E na sala, reina um silêncio absoluto, cortado apenas pelo ruído das teclas sendo digitadas. Risos, choros, toda a emoção vai através de atalhos que se transformam em carinhas e desenhos.E isso se tornou normal, se tornou habitual, se tornou a nossa realidade. Isso cansa! Tem me incomodado muito, tenho que confessar. Às vezes, quero desconectar mas logo percebo que não existo. Não de fato, mas se você não está logado, logo as pessoas se esquecem de você e o substitui por alguém mais presente, mais "on". Tem dias que cago e ando mesmo e me dou ao luxo de passar um fds inteiro sem ser notada nas redes sociais, em bate papo, em emails. Só quem me vê, além de pessoas que moram comigo, é a minha cama, minha tv, meu livro, meu edredom. Sinto essa necessidade cada vez mais, de dedicar mais tempo a mim sem "ter que dar" satisfação a ninguém e ser esquecida ou ser banida do grupo por falta de interação. Tenho sentido falta do contato pessoal, cara a cara, olhos nos olhos com as pessoas. tenho sentido saudade de ouvir algumas vozes, antes que eu me esqueça como elas são! Ultimamente, o simples tem me agradado muito. O singelo tem se tornado muito mais interessante para mim. E isso amadurece cada vez mais em mim a ideia de em algum momento na vida, lógico que dentro das devidas possibilidades e oportunidades, tudo estudado e calculado meticulosamente, de mudar de ares. Ir para um lugar mais pacato, menos corrido, onde ainda exista vida fora do "face" e "MSN". Silêncio, tranquilidade e paz. É tudo que estou almejando nesse momento. Se me perguntassem se gostaria de ter isso ou 1.000.000,00 agora mesmo, juro de pés juntos que ficaria com a primeira opção, de tão pilhada que me sinto.

E justo eu, uma pessoa totalmente urbana, com vibe de festa e curtição, que gosta de gente e muito barulho, que detesta ficar sozinha e multifuncional que faz mil coisas ao mesmo tempo! Grita dentro de mim uma voz que clama por calma. Que anseia ver o dia nascer, o sol se pôr e a noite chegar. Que necessita ter tempo para almoçar sem ser em cima da mesa do trabalho e um fast food calórico. Que precisa voltar a era pré-histórica de bater papo olho no olho e não pela tela do pc com uma foto. De perceber as minuciosidades que estão a minha volta e que ficam abafadas pelo turbilhão de acontecimentos que nem tenho tempo de processar. Um teste prático: nunca tive boa memória. Mas ou ela está ficando pior com o passar dos anos ou estou um gravíssimo déficit de atenção. Não me recordo de coisas que falei, do que comi, de onde deixei as coisas, das conversas com as pessoas. Estou deixando de perceber cheiros, cores e som. Tudo tem se tornado superficial. Não sinto que me aprofundo mais em nada. E isso não é normal, definitivamente. Ou é uma total piração da minha cabeça que já começa a dar sinal de esclerose múltipla ou sinceramente, percebo claramente que essa vida acelerada, conectada e necessitada de acontecimentos está começando a me surtar! Sim, porque para eu querer me enfiar no meio do nada, com cheiro de mato, sem celular ou notebook e achar que mesmo assim serei feliz, não faz parte do meu ser. Bem até ontem não fazia. Até uns meses atrás.

Na falta de tempo e de grana para viajar e me refugiar em qualquer lugar que eu subentenda como lazer ou fora da realidade, tenho conseguido arrumar alguns subterfúgios. Hoje, conversando com meu futuro marido sobre essas sensações que tem se tornado cada vez mais presentes no meu dia-a-dia, fiquei sabendo que ele também acha a mesma coisa. E começamos a planejar um futuro, ainda bem longe, mas um futuro em que a gente se imagine fora daqui, com outra vida, outra casa, outros ares, outros gostos, outra gente. Pode ser que não faça tanta diferença assim e que a gente perceba lá na frente que essa epidemia que sofre a sociedade é mundial, globalizada. Mas, pode ser que a gente ache um cantinho onde tudo isso não fique tão evidente. Ou que as pessoas não deem tanta importância assim. Que não torne a futilidade da sua vida mais importante do que a necessidade de se viver a vida. Que a necessidade de estar sempre ligado ao mundo aos outros não seja maior do que estar ligado e atento a si mesmo!E que o mundo em si também seja mais importante e prazeroso de ser visto ao vivo, do que acompanhado na tela do pc como Big Brother.




Uma ideia, um desejo e quem sabe no futuro, uma realidade...

Um comentário:

Anônimo disse...

ecelente otimo as coisas tendem por sse lado mesmo!