17 de dezembro de 2012

E foi assim... até quando?




E assim como a música: "foi assim, como ver o mar, a primeira vez que meus olhos se viram no seu olhar. Não tive a intenção, de me apaixonar...". E foi assim, de repente, como gasolina que incendeia, como luz que acende, como um pé de vento, inesperado. Eles se olharam e rolou. Aquele coração acelerado, aquela falta de ar, aquela boca seca, aquele desejo, aquela vontade de correr abraçar e não largar nunca mais. Aquele medo de perder, de vista, na vida, pra outra. Do olhar para o beijo um pulo. Do primeiro beijo para o segundo menos de um pulo. E daí por diante, mais do que duas bocas que se beijam, dois corações que batem juntos, dois olhares que se cruzam, passaram a ser duas vidas que se encontraram. Dentre os erros e acertos de ambos, se identificaram e se reconheceram. E de repente, no meio de tanta gente, no meio de tanta história, no meio de tantas e tantos, ele sobressaiu para ela e vice e versa. 

E no início, como qualquer namoro, tudo foi um lindo mar de rosas. As defeitos eram mínimos, as manias eram bonitinhas, as briguinhas apimentavam a relação e a certeza de que não existiria empecilho, pedra, algo ou alguém no caminho dos dois. Um grude só. Ninguém entendia, como de uma hora para outra, dois passaram a ser um. Nem eles sabia explicar, só conseguiam sentir uma necessidade muito grande de estar ao lado da pessoa amada 24h por dia. Não desgrudar, não perder um minuto do pensamento da outra pessoa, sentir a respiração quente, tentar adivinhar o olhar vago. Essas coisas bobas de quem tá apaixonado e que só quem está também ou já esteve consegue entender o que é. Fora os apelidos, os risos, as brincadeiras, quase que num código secreto.

E por aí foram-se alguns meses até perceberem que não poderiam mais viver um sem o outro. Independente de tempo - onde cada um sabe o seu - o tempo de namoro não era muito grande, em comparação ao demais. Mas de que importava comparações, se nenhum amor é igual ao outro? Para determinados casais, é cedo ou tarde demais. Para eles, era "a hora". E assim foi, meio que com receio daqui, dali, aqui, acolá, de amigos, familiares e afins, eles bateram o martelo e foram viver juntos. Aí, só aí, depois de fazer a famosa junção das escovas de dente é que se conhece alguém como ninguém. O que era pequeno ficou grande, o que era bonitinho ficou feio e o que não importava antes agora fazia uma grande diferença. Sim, vida a dois é uma coisa, vida de juntado, casado, como preferirem chamar os conservadores ou moderninhos é completamente diferente. Além de administrar ao outro, temos que aprender a administrar a nós mesmos. Não é fácil perceber defeitos e faltas. É fácil apontar, criticar. Só sabemos o que desagrada ao outro quando nos é mostrado. Ou quando percebemos em nossas atitudes o que desagrada ao parceiro. Coisa que só se conhece porque se vive em eterna adaptação, concessão, compreensão, brigas, certezas, razões e afins. E de repente, o belo não era mais tão belo assim. E não se tinha mais tanta vontade de estar junto, já que agora não existia a hora de separar, de cada um ir para sua casa, de cada um voltar para o seu mundo e viver sua vida.

E por falar em mundo, eram duas almas de planetas completamente diferentes. Se encontraram no sentimento, se esbarraram no pensamento e parou por aí as coincidências. Tirando uma ou outra coisa em que pensavam e agiam da mesma forma, de resto, eram completamente divergentes em suas escolhas, em seus objetivos, em suas maneiras de ver a vida e de encarar o mundo. Agora não era apena questão de ver que não eram tão compatíveis assim. Era questão de encarar o fato de que eram completamente diferentes em pontos cruciais. E como se pode viver assim? Sentimento mega mantém a relação? E por tais problemas, até o sexo esfriou. Ele queria, ela pensava em outros assuntos. Ela queria, ele cansou de tentar e esperar a vontade dela por ele, virou pro lado e dormiu. Nem a vontade estava mais na mesma sintonia, o que era reflexo do dia-a-dia deles. O problema é que mesmo incompatíveis eram ligados por um sentimento monstro que nem eles sabiam explicar. Algumas brigas homéricas rolaram, mas quem disse que um dos dois ou os dois roíam a corda? NENHUM! Eles não sabia ficar sem o outro. E a questão não se tratava apenas de uma dependência emocional. Pois sabiam que cada um poderia voltar para seu mundo, sua vida e que muito pouco provável voltariam a se esbarrar se não quisessem. Pois foi um esforço para rolar o encontro. Não foi necessário esforço foi pra se apegarem um ao outro. 



Eles combinavam num ponto: queriam encontrar alguém que levasse a serio um relacionamento, que quisesse constituir uma vida sólida, que valesse a pena se entregar e que valorizasse isso. Ah, eles queriam ser felizes também. Caso tenha esquecido de mencionar. Mas, as escolhas de como ser feliz, o que é felicidade, como ela é obtida, como ela é interpretada era diferente para cada um. Filhos era o maior impasse do casal. Ela, com a cabeça mais moderna e aberta, queria aproveitar a vida e só depois se prender a uma maternidade eterna. Ter alguém dependendo dela e que ela não poderia demandar para outro alguém e voltar a ter sua liberdade incondicional. Ele, de criação mais família, menos sonhador e audacioso, queria reafirmar a "família" com uma prole. Enquanto a problemática estava aí, ainda estavam no lucro. Mas, ela ainda tinha alguns sonhos a realizar, alguns objetivos a alcançar. Ele, achava que ela e a vida que obtivera já estava de bom tamanho, que na verdade era muito mais do que ele tinha almejado ter um dia. Já havia desistido de acreditar que algo assim aconteceria com ele e quado acontecer, quis prender, quis amarrar, quis enredar de acordo com seus costumes e tradições para não perder. Ela também achava isso, "também". Ele só achava isso. Na verdade, ele era levado, na maioria das vezes pelas ideias, pelas convicções e pelos sonhos dela, não por medo de contrariar, mas por ver que sem ela ele não poderia realizar os sonhos dele. só que não estavam na mesma "vibe". Apesar de um desencontro aqui e ali, na cama se encaixavam. Mas de resto, criação, família, amigos, trabalho, sonhos e objetivos, divergiam um pouco, pra não dizer muito. Antes era um muito que ainda achava-se possível tentar aproximar os gostos, os desejos. Hoje, essa divergência em alguns aspectos virou um abismo entre eles.

Já não riam tanto, se questionavam e questionavam ao outro muito mais. Já não brincavam com  tanta frequência  Falavam sérios demais. Viraram dois sérios, chatos, bem distantes da proposta acordada lá no início. Já não era tão fácil lidar com as diferenças e não dava mais para fingir em determinados momentos que certas posturas não incomodavam. Sim, chegou a hora de abrir os olhos e ver o que sempre esteve na frente deles: eles mesmos! Embora o amor fosse muito grande, não se vive só de amor. Assim como o corpo precisa de alimento, a alma também. Mas, o entranho disso tudo, era que no minuto seguinte em que tinham para si a certeza de que, pela total incompatibilidade de gênero, n° e grau poderiam se separar, sentiam que jamais conseguiriam ficar longe um do outro. Porque apesar do não existia o sim. E apesar de não concordarem algumas vezes, concordavam em tantas outras coisas. Ele era o oposto dela. Ele cedia mais fácil, ela relutava mais. Mas, ele gostava dessa coisa de conquista, ela gostava dessa coisa de ser "provocada e dominada". E então, quando achavam que a relação estava prestes a dar o último suspiro, por diversas vezes, no fundo dos olhos, na mudez e falta de palavras, num abraço calmo e demorado, sentiam que ainda estavam lá, aqueles dois jovem que hoje já não era tão jovens assim. Criaram responsabilidades, criaram juízo. Criaram uma casa, criaram uma confiança, criaram uma relação. Que poderia não estar dentro dos padrões formais e normais, mas era uma relação. Mais estável do que eles achavam que era. Achavam que deram um pequeno passo, mas se olhassem para trás, para a estrada percorrida, era um passo gigante, como diria Armstrong em relação a lua. O único problema: eles não se aceitavam como eram. E se não se aceitam, como esperam que o outro aceite também? Não perdoava suas falhas e dessa forma faziam com que o outro não as perdoassem também. Foi uma relação construída. Sim, foi! Com cuidado, com esforço, com empenho. E nenhum dos dois estava disposto a colocar abaixo o que tinha sido erguido. Mas, duvidavam quanto a se manter de pé diante de tantas dificuldades. Por hora, sabiam apenas que tinham que permanecer. Não por uma aliança, por um papel assinado, nem por móveis comprados, dívidas adquiridas, para uma satisfação para a sociedade ou por medo. Eles simplesmente se amavam. Não combinavam, mas se amavam... E como funciona isso? E como se vive não concordando mas se amando? Não sei, eles não sabiam, aliás, ninguém sabia. Só vivendo, nascendo e morrendo a cada dia para saber como é.

E foi assim, como a certeza da primeira vez que se viram, que eles tinham que ficar, tinham que tentar, não podiam fraquejar, não podia desistir. Não seria justo com eles, que investiram tanto, que quiseram tanto, que se deram tanto. O problema, é que tudo muda nessa vida. Sentimentos, pensamentos, gostos, sonhos, desejos. E se um dos dois mudasse? Ou se os dois mudassem? Pois é certo que ninguém permanece o mesmo com o passar dos anos. A gente pode não reconhecer em que mudou, mas reconhece que já não é mais o mesmo! E num beijo de boa noite, num trocar de canal na tv, numa conversa fiada desinteressante, num dia qualquer, de pausas, de esperas, de silêncio, nas madrugadas da vida aonde só o sono consegue alcançar, paira a dúvida do "até quando?".

Se o futuro a Deus pertence... então que quem somos nós, humanos, para nos consumir tentando entender.

"O coração tem razão que a própria razão desconhece". E eles eram assim, razões desconhecidas do porque tão diferentes ficaram juntos e do porque dessa diferença toda nascer uma igualdade que se traduz em sentimento... E foi assim, continua a ser assim...




Fernanda Miceli

PS: não é baseado em fatos reais!


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