15 de agosto de 2015

Uma amizade verdadeira vale mais do que mil no Facebook


Eu conheci a minha melhor amiga aos 4 anos de idade. Ela tinha um nome diferentes, duas janelinhas que se abriam quando ela sorria e a loucura dela combinava um pouco com a minha, o que me fez gostar dela logo de cara. Tão pequenas, mal nos víamos sobre a greta do portão que dividia a nossa hora de brincar. Mas rapidamente aprendemos a conversar por detrás das barras que nos separavam e entre sussurros e gargalhadas combinávamos as nossas peripécias de todos os dias. Logo que ela se mudou minha mãe insistiu para que eu fosse convidá-la para ver um filme. Acho que como toda mãe, ela já tinha certeza absoluta de que nos tornaríamos inseparáveis.

A partir daí aconteceu o inevitável: a vida. Hoje, mais de 25 anos depois, temos pouco contato. Ela está casada, tem a vida dela e nos vemos com uma frequência que nem de perto se compara aos tempos de escola quando não tínhamos tantas obrigações. O fato é que amizades verdadeiras são eternas, e não importa quantos meses a gente passe sem se falar, todas às vezes sempre parece que foi ontem, que foi a hora do recreio, que é primavera. 

Porque ela entende meus dramas, meu passado, minhas cicatrizes. Ela reclama sem pudor quando comento o mesmo erro seguidamente e escancara a verdade na minha cara todas as vezes que o resto do mundo decide mascarar o enredo.  Ela sabe coisas sobre mim que talvez nem eu saiba muito bem e acredite, ela já se enfiou em muita enrascada apenas para que eu pudesse ser feliz por breves segundos num sorriso. Ela chorou comigo na primeira grande burrada da minha vida, e também estava lá no primeiro e em todos os outros grandes momentos que rechearam a minha história. Ela veste a camisa, ela encarna o personagem, ela sabe muito bem qual é o papel dela no filme da minha travessia.

Eu não trocaria a amizade dela por nada nesse mundo, mesmo que nossos encontros agora sejam apenas casuais. Gente que se entende com o olhar, que conversa sem nem precisar esboçar uma palavra, um ser humano que te ama apesar de todos os seus defeitos mais tenebrosos não se encontra em qualquer lugar.Porque nem um milhão de amigos no Facebook tira de mim o que eu tenho com ela: liberdade. Livre arbítrio de ser, estar, permanecer, não importa a TPM, a falta de humor ou o tamanho do problema. Intimidade que eu não dei e não dou pra qualquer pessoa. Lugar marcado nos meus dias que foi conquistado, não apenas solicitado por uma tela de computador.

Por mais que os caminhos da rotina te levem para outro universo, eu digo: não deixe que o fio da vida se estique tanto a ponto de se perder de vista o laço inicial. Nunca. Coloque na mala, na lembrança, na visita rápida no final de semana, no happy hour de quinta, ou no telefonema inesperado no meio da tarde. Boas amizades demandam esforço e tempo, grandes parcerias também. Não deixe que o namoro, o casamento, a solteirice, o excesso de afazeres diários te impeçam de curtir um tempo de qualidade com quem realmente se importa com você. Dedique abraços, abrigos, afagos àquelas poucas pessoas no mundo que não vão te julgar por ter terminado com a Sandrinha ou por ter largado a faculdade no último período para se dedicar à outras artes se é o que te faz feliz. Beba um vinho, tome um porre, vá ao cinema, aproveite toda e qualquer oportunidade de trocar duas palavras que seja com quem pode tirar o peso dos seus ombros com apenas um sorriso.

O veneno da vida é justamente o tempo gasto com quem não agrega em nada a nossa vivência. Aquele pedacinho de tempo que é oferecido a quem nos suga a energia vital, ao invés de subir o ponteiro da serotonina até o tanque transbordar. Fazer parte do dia a dia é fácil, difícil e estar presente quando o barco fica avariado e pede socorro no porto. Enquanto a sua enorme lista de amigos da rede social te questiona sobre o seu status de felicidade para alimentar o ego, o seu amigo de infância quer mesmo é soltar uns bons palavrões para te tirar da zona de conforto e te colocar de pé para encarar o mundo novamente. E convenhamos, existem momentos na vida que uma boa bofetada de verdade na cara, dada por alguém que mora dentro do seu peito, é tudo que a gente precisa sentir (e escutar). Tirar a poeira da palavra amizade mais do que uma conveniência deveria ser uma prioridade. Valorize quem é de verdade. Quem é de mentira te manda inbox, não aparece na porta da sua casa depois de um fora devolvendo o amor próprio e a vergonha na cara deixada no meio do caminho, por causa de alguém que, muitas vezes, te conhece apenas pela foto de perfil.




Casal Sem Vergonha

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