12 de dezembro de 2012

Penitência eterna


Tava vendo TV essa manhã - novidade rs - e saiu uma matéria dizendo que o pai que esqueceu o bebê no carro trancado por mais de 4h o que o levou à morte foi absolvido pela justiça. Ele foi indiciado por homicídio doloso (quando não há intenção de matar). Mas, saiu ileso do inquérito. 

Particularmente, sempre achei que crime era crime, independente do tipo de crime. Independente da violência e brutalidade do crime. Da intenção ou não de cometer aquele crime. Claro que não tô falando de legítima defesa. Isso já é outra coisa, que na minha cabeça nem deveria ser considerado crime. Mas, negligência sim. Não me convenço totalmente de que todas as negligências são sem intenção. Há as que sejam. Mas também há as que não sejam. A gente nunca pode afirmar que sabe totalmente o que se passa na cabeça das pessoas. E seres humanos são suscetíveis a terem pensamentos maldosos, maliciosos, agir por impulso, mesmo que depois se arrependam e queiram voltar atrás para tentar consertar. O arrependimento pode se dar numa fração de segundos. Só que qualquer modo, é tarde demais!

Não creio que tenha sido o caso daquele pai. Ele de fato pode ser uma pessoa atualmente leviana, despercebida, distraída e pagou um preço alto por isso. Mas, se ele é tão "avoado" assim, com certeza não tem condições de cuidar dele, quem dirá de uma criança que depende de cuidados e atenção. Acho que nesses casos, as pessoas deveriam passar por testes, assim como de aptidões, para saber se estão aptas não a cuidar, mas a aprender a cuidar, a ser alguma coisa. Nem todo mundo aprende na marra, com a cara e a coragem, sob pressão, no tem que ser, tem que dar conta, tem que fazer. Tem gente que te suas limitações sim e que de fato, não nasceram pra coisa. Visto a quantidade de pais e mães que parecem terem saído de um hospício, tamanha é a quantidade de maus tratos contra crianças e adolescentes. Tirando as pessoas que são perversas por natureza e que já nascem com esse predisposto à crueldades, a maioria age insanamente por puro despreparo. Quando se sentem pressionadas ou numa situação estressante não se dão conta de seus atos. O que, ao meu ver, também não foi o caso daquele pai. Ele foi o típico caso de abandono de incapaz - denominado assim pelo conselho tutelar para as ações que são tidas como sem intenção mas deferidas contra àqueles que não podem se defender ou responder por si próprio. 

Ele, nitidamente foi aquele que achou que iria ali rapidinho e que nada demais poderia acontecer. Assim como eu, você e tantos outros que agem achando que nada demais nunca vai acontecer. Só que são justamente nesse achismos que a coisa acontece. A gente não se descuida de propósito. Se descuida achando que de fato, acontece com todo mundo, mas nunca com a gente. Obviamente  a maioria das pessoas saberia que deixar uma bebê trancado no carro num sol de verão por muito tempo, não daria certo. Eles tem a saúde frágil ainda. Não aguentam muita coisa. Mas, o pai pensou que seria rapidinho e que não aconteceria nada demais. 

Imagino, o que se passou na cabeça dele quando voltou e se deparou com a cena lastimável. É aquela vontade de fazer o tempo voltar só que não dá. Vem aquela culpa por ter sido tão burro e não ter percebido. Vem a raiva de pensar em como pôde deixar isso acontecer, sendo você o pai. Porque mãe, a maioria - tem aquele instinto protetor, aquele zelo em excesso mas que não faria uma coisa dessas. Neurótica, zelosas ou apenas precavidas seja lá qual tipo for a sua, todas elas com certeza irão preferir prevenir. Enfim, a coisa toda se deu. O pai ainda tentou salvar o filho mas foi em vão. Isso já não é castigo o bastante. Imaginem esse homem conviver com a culpa que matou seu filho indefeso por burrice, sabendo que poderia ter feito diferente, mas não fez. Sua imprudência foi cara demais. Mesmo que o tempo passe, mesmo que venha a ter outros filhos, mesmo que ninguém coloque o dedo em sua cara e o acuse, mesmo que Deus dê a ele a chance de fazer de novo, só que dessa vez certo, ele NUNCA vai se perdoar. Vai viver e morrer com aquela culpa correndo por dentro. Porque ele agiu mal, não de má fé, não de propósito, não intencional. Mas errou e feio. E tem muita gente aí que não se perdoa facilmente por um errinho de nada. Imagine errar com a vida do próprio filho? Sou impiedosa com crueldades contra crianças, animais, idosos... tenho vontade de fazer a mesma coisa com o(a) infeliz que resolve praticar alguma ação imoral ou maldosa. Sou do tipo que faria sofrer o dobro só pelo prazer de ver passar pela mesma agonia que os outros. Mas, engraçado, não nesse caso. Não que ele seja banal, sem importância. Mas acho que ele por si só já foi tão surreal que naturalmente as consequências dele farão valer qualquer justiça.

Acho que pior do que prisão perpétua, sentença de morte, acusações alheias, a culpa que um ser carrega em seu íntimo e não consegue se perdoar é mais eficaz do qualquer o pior castigo do mundo. Então, na minha opinião, em nada precisaria ser julgado e condenado pela justiça dos homens, independente da divina. A justiça pessoal dele já o condenou eternamente. Está fadado a lembrar todos os dias e reviver como se fosse hoje esse trágico e infeliz "the end".




Um comentário:

Cris Medeiros disse...

A versão real da história nunca vamos saber. Ele pode ser um louco sádico que esqueceu de propósito a criança para morrer, ou simplesmente um pai num dia ruim e acontece uma tragédia. Espero que a justiça tenha sido feito.

Beijocas