2 de maio de 2011

Jornalismo x Sensacionalismo

Sou jornalista, com muita honra! De formação - é bem verdade - não por atuação. Mas, não me orgulho nem um pouco sobre o tipo de exploração midiática que a imprensa vem fazendo sobre alguns assuntos. A desculpa é para saciar a necessidade e a vontade de informação dos leitores/consumidores que a partir do nosso mundo tecnológico e multimídia, querem se manter atualizados 24horas por dia. Mas, ter assunto não é sinônimo de esticar o mesmo até ninguém aguentar mais. Acaba que o efeito é o contrário: em vez de prender os leitores, o excesso de matérias sobre o mesmo assunto acaba afastando-os. Pois eles ficam saturados de respirar os mesmos acontecimentos.

por exemplo, achei demasiada a cobertura do casamento real. Tudo bem, muita gente estava curiosa para saber da história dos dois e, diga-se de passagem, mesmo quem não é assíduo de atualizações sociais, gosta de ficar sabendo o que rolou na cerimônia e que não é qualquer cerimônia. Mas daí a todos os veículos de informação - rádio, TV, jornal e internet - noticiarem nos mínimos detalhes durante 1 semana, é dose! Até o recheio do bolo eu fiquei sabendo de que era. E caso eu tivesse perdido essa informação na hora do almoço, ela passaria, novamente à tardinha e depois à noite. No mesmo canal ou em canal diferente!

A mesma coisa acontece também com catástrofes e acontecimentos hediondos. Tiroteio na escola em Realengo. Relatar os acontecimentos é bom. Noticiar o desenrolar da história e o seu final é fundamental, pois muitas vezes a mídia dá uma notícia, fala nela a semana toda, mas o que acontece no final não é dito. Dar algumas informações extras relevantes informa e mata a curiosidade alheia, mas a super exposição das pessoas envolvidas já estava me dando nos nervos! Não se tem mais respeito com a dor da perda e o trauma das pessoas, não? Tá certo, a população, quer saber, mas auto lá: tudo tem limites! Tudo que tinha para ser mostrado e noticiado, passou nos 3 primeiros dias. Depois foi exagero. E os inúmeros repórteres diziam em suas matérias: como as pessoas conseguirão voltar às suas vidas? Como????? Pergunto eu. Com todo santo dia uma matéria na capa do jornal dando bom dia, ligando a tv ou o rádio e só ouvindo ou vendo falar sobre o assunto e ter a porta da sua casa lotada de repórteres sedentos por mais um pronunciamento de tudo que já foi dito, anteriormente. Como?

Outros casos ao longo dos anos e da história do jornalismo foram explorados até com boa intenção ou levianamente. E o fato é que ao mesmo tempo que a população acha fundamental saber de algo, ela também concorda que a demasiada informação sobre algo sufoca. Visita de Obama ao Rio, e o carioca não tinha mais o que saber do que acontecia na cidade do que todo o planejamento passo a passo da vinda do presidente americano em solo brasileiro. Exceto as mudanças de trânsito, isso sim, era fundamental!

Os meios do comunicação acabaram por se tornar prestadores de serviços, de denúncias e de expressão de uma cultura ou grupo. Apoio e incentivo. Muitas vezes, a presença dos repórteres se fez necessária para que alguma providência fosse tomada ou para que a história fosse mudada. Só que, por conta disso, os veículos de comunicação e as grandes empresas da mídia brasileira não podem se achar detentoras do poder absoluto e fazerem ou usarem o jornalismo a seu favor e do modo que bem entenderem. Jornalismo tem que ser pensado, principalmente, para quem está sendo feito e sob que circunstâncias. Porque influência, porque doutrina, porque generaliza, porque massifica!

Foi essencial a cobertura em grandes desatares e em outras partes do mundo. Serviu como portal de recados e de intermediações. Na tragédia da Região Serrana, No Morro do Bumba, no terremoto no Japão que gerou problemas nucleares, no 11 de setembro, nas guerras, nos incêndios, nos desastres aéreos, na história e na política de nosso país. Partes da história que só foi possível contar e permitida que fizesse parte de nossa vida por causa da mídia. Reconheço seus méritos e faço questão de ressaltar. Em momentos importantes, tristes ou felizes, coletivos ou individuais, a imprensa se fez presente e fez diferença. Ela é essencial para a nossa vida. Mas, dependendo do cunho jornalístico que ela resolver ter.

Vejamos se a ênfase da nota da semana - a morte de Osama Bin Laden - vai ser dada na morte de um assassino que causou mortes injustificásseis com seus propósitos deturpados sobre religião. Ou se na felicidade, alívio e liberdade dos parentes, amigos ou apenas moradores americanos de terem feito justiça e vingado a morte dos seus. Além de poderem viver sem o medo de atentados assombrando seus dias.Ter conseguido dar um ponto final em uma história trágica onde muitas similares ficam apenas nas reticências, sem explicações. Gostaria que fosse na segunda hipótese a ênfase, mas estou quase certa de que vai ser na primeira, E aí, vão ser suitadas - termo jornalístico para dizer que um assunto já noticiado vai ser "esquentado" e enxertado com novas informações - todas as matérias já dadas ao longo desses 10 anos. Uma retrospectiva, além da que é feita nos finais de ano, em algumas emissoras de TV.

Tantos bons repórteres, tantos jornalistas criativos, tantos prêmios na estante para que a inovação, a diferença e a necessidade real não sejam incentivadas. Faz-se sempre o mesmo! Quero acreditar que a minha classe é capaz de mais. Quero acreditar que a minha classe tenha vontade de ter um bom reconhecimento de seu trabalho. Quero acreditar que a minha classe ainda acredita nos propósitos que os fizeram se sentar durante quatro anos em uma sala de aula que nos ensina que vale a pena acreditar nos seus sonhos e investir neles e que seremos a diferença ou a única coisa que vai restar para alguém: esperança! ... Quero acreditar! Mas, nos moldes do jornalismo de vendas, de ações, de anunciantes onde o seguimento de marketing tem mais poder de decisão nas matérias que entram ou não do que os próprios redatores e enquanto os acionistas e sócios ditarem a pauta do dia, da semana, do mês, onde as matérias serão compradas ou realizadas através de permuta onde o mínimo que se ganha pode ser lucro... não quero mais fazer parte disso... tô fora!

Mídia manipuladora ou manipulada? Tanto trabalho para se livrar do rótulo de imprensa marrom, para agora cair nas graças de ser chamada de sensacionalista. Imprensa burra, isso sim!!!

Um comentário:

Cris Medeiros disse...

Concordo! Realmente a imprensa foi se transformando com o tempo e hoje em dia é esse festival dos horrores...

Mas o povo gosta disso, todos nós sabemos, por isso que a imprensa acabou ficando desse jeito. Lamentável

Beijocas