7 de janeiro de 2015

Direito de escolha...



Embora a gente viva de fazer escolha e diz-se num país onde o livre arbítrio impera, não é verdade! Muitas vezes somos obrigados a viver de acordo com leis, normas, protocolos, imposições de conduta, de valores, de crenças. Doce ilusão que somos donos de nossos atos e de nosso nariz! Temos liberdade até certo ponto. É uma liberdade controlada, mascarada de bom senso. E por falar em censo, somos censurados constantemente, julgados, avaliados, tentam nos ler, nos interpretar, todos querem entender razões... Acho muito invasivo e vazio essa procura toda por um porque alheio. Concordo que vivemos em uma sociedade e temos que seguir certa conduta desenvolvida para o bom convívio. Mas sobre nossa vida, deveríamos poder ter o livre poder de escolhas.

Ontem estava vendo, novamente o seriado "O Canto da Sereia", no qual o assunto gira em torno da morte planejada de uma cantora de sucesso que sabia que tinha seus dias de vida contados, por conta de um câncer em estágio avançado. Evitando passar por todo aquele drama de um paciente que fica em estágio terminal, ver a vida se esvair de seus dedos, no lugar de risos e felicidade, dor e tristeza, Sereia preferiu à morte. Ela escolheu sair de cena no auge de sua carreira, enquanto ainda gozava de alguma saúde, enquanto podia levar a vida a qual amava viver, intensamente e livre. Para isso, pediu a um amigo que lhe matasse, mas sem dizer quando e nem como. Porém, todos nós temos uma intuição muito forte. Um sexto sentido que nos norteia pela vida. Acredito que todos nós sabemos quando o fim está próximo e sendo assim, Sereia olhou bem nos olhos da sua morte desejada e se deixou ir, para ser livre.

Ok, era uma minissérie e tirando o tom poético, tem sim, certa lógica. Mas cadê que nossa vontade é respeitada? Sobre nossa vida e sobre tantas outras coisas que nos cercam, até minimamente. Desde a escolha do cardápio, à roupa que vestimos, como nos comportamos e como escolhemos viver, nada, absolutamente nada, é fruto somente de nossas escolhas. E isso é tão ilusório quanto frustrante. Achamos que estamos no comando, mas muitas vezes apenas seguimos um caminho que não temos outra escolha a não ser segui-lo.

Recentemente, um caso que ganhou grande repercussão na internet, também sobre vida e morte, foi debatido até a exaustão por milhares de pessoas que não chegaram a nenhum entendimento. Uma menina com câncer também em estágio terminal, querendo evitar passar e fazer sua família passar por todo o sofrimento, que não tinha mais jeito, resolveu acabar com sua própria vida. Escolheu dia e horário. Parentes e amigos próximos concordaram com o direito dela de ter o comando de sua própria vida e optar fazer o que acha certo, já que para câncer em estágio terminal não há cura e o final é sempre trágico. Todos os envolvidos foram crucificados. Se os médicos para de prestar auxílio e socorro à um paciente até seu último suspiro é crime além de ser contra a ética moral da profissão. Mas quando é eutanásia, consentida pelo paciente ou seus familiares quando estes têm plenos poderes para decidir, essa vontade deveria ser respeitada e aceitada, simples assim. Quem quer ter uma morte sofrida? Ninguém! Claro que todos nós, enquanto pudermos, vamos lutar até o último suspiro de vida. Mas que se tenha vida com qualidade e não uma vida vegetativa. 

Mas tudo bem que a morte e como se morre é sempre um assunto polêmico, mas parei para observar ao meu redor ultimamente como se quer mandar na decisão alheia de cada ser, na vida. Como criar um filho, um cachorro, o trabalho que escolhem, as atividades que praticam, as roupas que vestem, as comidas que comem, os lugares que frequentam... Ainda mais hoje em dia, em tempos de superexposição na mídia. Famosos e anônimos informam sobre cada passo dado, seu dia a dia. Muitas vezes a intenção é apenas compartilhar algo legal, uma sensação gostosa, uma coisa engraçada ou até mesmo algo que muitos dos que olham, comentam, censuram, rotulam também fazem. E simples assim, a pessoa vira isso ou aquilo, é assim ou assado e a pseudo liberdade de controlar sua vida e de viver como se quer, foi-se pra casa do cacete. E quem se atreve a não dar ouvidos para os achismos alheios, tocam o foda-se, literalmente e simplesmente se importam menos com os outros e mais com elas mesmas são egoístas e etc... 


Mas gente, cada um vive da maneira que quiser! Cada um escolhe o que acha que é melhor para si, sua vida, o que melhor lhe convém. Todos sabemos que escolhas implicam em consequências. Mas se cada um consegue conviver com as consequências dos seus atos, ter a consciência tranquila e o coração em paz, tudo bem! Posso não concordar com a escolha da pessoa, não fazer a mesma escolha para mim, mas sou obrigada a respeitar. Não vou ficar julgando, criando estereótipos, condenando, maldando, maldizendo, e tantas outras coisas. Pelo contrário, se a pessoa está satisfeita, realizada e feliz, por que não ficar feliz por ela? Em tempos onde a depressão, o isolamento pessoal ao relacionamento online, a ansiedade e o stress estão em alta, encontrar pessoas que fogem a essa ditadura sentimental e comportamental é tão raro que deveria ser comemorado. Simplicidade e leveza hoje em dia são raridade. As pessoas estão mais preocupadas em parecer ser do que ser. Sua essência está ficando em segundo plano para dar lugar à popularidade nas mídias. Porque muitas vezes não é bonito dizer o que pensa, ser verdadeiro com o que sente e ser honesto sobre você mesmo. Viramos um produto a ser vendido e só conseguimos "likes" se agradamos aos outros. Mas, e à nós mesmos? Quando que colocar a satisfação e realização pessoa ficou em segundo plano? Não sei... viramos um status!

Dizemos o que pensamos, criamos polêmicas e discussões, somos fervorosos em nossos pontos de vista, levantamos a bandeira da liberdade de expressão, de imprensa, de vida, de escolhas, de sexualidade, de religião, de grupos culturais, mas de fato, pouco se vive isso. Digo de um modo quase genuíno. Sei que na real a vida é mais difícil e dura do que simplesmente escolher entre o azul e vermelho, o arroz e feijão, a boneca ou ballet como na infância. Geralmente nossas escolhas na vida adulta não só nos afetam como a uma gama de coisas e pessoas que estão ligadas à nós. E talvez, por causa disso, percamos a coragem, nos sentimos intimidados com o possível fracasso, perda ou derrota e que vai sobre cair em toda a bagagem que carregamos conosco, então, talvez, seja preferível fazer o que parece ser certo, do que fazer o que se quer. E com isso perdemos aquele brilho nos olhos, aquela euforia d'alma, aquela urgência em se jogar no mundo, mesmo sabendo dos riscos e são muitos. E vamos nos acostumando, e vamos nos acomodando e vamos nos acovardando e quando vemos puf, a vida passou. Dias, meses, anos passaram e a gente esperando que surja o momento ideal para sermos fiéis aos nossos desejos. Estamos sendo moldados e nem nos damos conta. E quando vemos, não nos importamos mais...

Acredito que tudo na vida tem um tempo. Mas esse tempo passa. E depois disso, fica difícil refazer o caminho e achar novamente a brecha. Somos engolidos por uma sequência de novos acontecimentos e pessoas e que não nos deixa mais sermos como fomos em algum momento da vida, quando aquela decisão tão certa era totalmente propícia. Por isso, bato na tecla de acreditar em si e no que se quer e correr atrás, lutar mesmo contra o mundo se tiver que ser. Claro que nestes 32 anos, em algum momentos, o tal momento passou tive que deixar passar. Infelizmente, nem sempre se é possível fazer o que se quer, pura e simplesmente, principalmente pela tal bagagem que a cada ano que se passa, aumenta. Mas posso dizer que em 80% da minha vida fico satisfeita com as minhas escolhas e decisões. Claro, as que dissera respeito e couberam somente à mim as escolhas e decisões. Nem tudo saiu como o esperado, mas segui minha razão e minha emoção e só isso já valeu à pena. E hoje, olho jovens, perdendo a juventude e sem nem perceber o valor dela, dos momentos, lamento mas sem nada poder fazer. Fatalmente lá na frente, lamentarão muito. Mais importante do que viver e viver como se quer e ter qualidade no que se vive. E ser fiel sempre a nos mesmos. Vamos nos libertar, sempre é tempo. Pode não ser mais para determinada coisas que a hora já foi, mas sempre tem novas oportunidades e sonhos chegando. Vamos tomar as rédeas da nossa vida, se jogar mesmo, fazer valer a pena. Nada é e vão! E se a gente tem isso em mente, nada mais nos preocupa, pois tudo é amadurecimento, aprendizagem, conhecimento, somatório e auxilia para a construção do seu eu!

Afinal, são muitas as batalhas da vida. E uma delas é sermos donos de nós mesmos!


 


Nenhum comentário: