31 de março de 2015

Amanda, deixa eu te contar uma coisa - por Camila Paier


Achei um texto com o qual eu concorde início, meio e fim...




"Amanda, querida Amanda. Assisti por anos e anos o reality show em que você está confinada. Era legal analisar comportamentos e acompanhar a vida alheia em momentos de tédio, porém, estou sem televisão há alguns meses - e feliz, e em paz assim. Antes de dormir, criei o ritual de toda noite assistir a um filme diferente. Tem sido enriquecedor. O que tenho lido por aí Amanda, contudo, me fez perder um pouco a paciência com algumas pessoas; sobretudo, o que é mais entristecedor, mulheres.

Amanda, eu sou muito da opinião de cada um faz o que quer dessa vida. Sempre fui e ligo pouquíssimo pro que estão deixando de fazer os outros ou não. Que tenho eu a ver com isso? Acredito eu que nada, certo? Vimos daqui de fora você se apaixonar perdidamente em questão de dias, acompanhamos o cara cagar pra você e pegar outra na sua frente, votamos e escolhemos pela sua permanência para continuar concorrendo ao prêmio no lugar dela. Espectamos a sua reaproximação com o boy, pensamos que fosse amizade, nos envolvemos também na novela mexicana que se tornou a situação toda. Porém, Amanda, depois do primeiro beijo seu e do mozão algumas mulheres fizeram o que sempre acontece na sociedade em situações parecidas com a sua: livraram a culpa do rapaz pra colocar todinha sobre as suas costas. Uma injustiça, a meu ver.

Sabe, Amanda, elas dizem que mulher não pode se entusiasmar tão facilmente. Não assim, jogada aos pés do homem, exagerada talvez e cheia de atitude como você. O que gosto nos poucos vídeos que vejo e nas notícias que leio é justamente essa sua autenticidade. Você se mantém a fim e amorosa, às vezes insegura e instável, atrapalhada e sentimental, mas acima de qualquer crítica, humana. Quem nunca se apaixonou por um cara lixo que não valia metade do esforço? Quem sempre se ilude com o próximo bofe como se fosse último? Muitas de nós, dezenas de nós, algumas de nós. Várias e, ainda que segurando a barra que é gostar de cafajestes, a maioria. Mesmo assim, há mocinhas que possuem a pachorra de dizer que a "vagabunda" é você, que você instigou o rapaz, que ele está necessitado e apenas se aproveitando. Você não tem o direito de gostar de sexo, de estar jogando, de ser de carne e osso e exibir algumas imperfeições. É justamente nesse ponto que eu encontro a sua dádiva dentro da décima quinta edição:

Amanda, elas falam das suas olheiras e de você ter algumas celulites, elas criticam o seu apetite sexual como se fosse da conta delas, elas dão sermões puritanos baseados naquela tal cartilha da boa mocinha que não tem vontade própria (ou, se a tem, a prende, encarcera quase até findar) e dizem que mulher "de verdade" é mulher que se valoriza, que sua mãe deve morrer de vergonha em casa, que essa carência e pressa pra arranjar homem a fazem grudenta e cansativa. Como se fossem todas misses prontas para um desfile às 4 a.m. de qualquer dia, como se fossem todas ganhadoras na loteria dos amores que dão super certo, como se tivessem se tornado robôs sem coração que marcham a caminho de Oz. Só porque você não se maquia 24h por dia. Só porque você se apaixonou. Só porque você é pura e ainda acredito na sinceridade de paixões cruéis e desenfreadas, esses affairs que quase nunca duram uma vida mas fazem existir um verbo que valha a pena.

Eu fico puta, Amanda, eu saio de mim mesma porque por mais que tenha minhas ressalvas quanto a esse moço com quem você está in love, eu sei que se fosse o inverso todos achariam bonitinho e shippariam pra cacete. A torcida ia ser enorme pra que desse certo tanto dentro da casa quanto fora, afinal, homem querendo casar, morar junto e fazer viagem é fofo, já se for mulher chamando pra qualquer uma dessas coisas, é carente. Mexe com as minhas estruturas ver mulheres julgando tão pesado umas às outras como se nunca tivessem amado, se fodido, idealizado, sido felizes. Só você sabe da sensação esquizofrênica que é estar há meses longe de casa, da família, dos amigos, da sua vida de sempre. Quem assiste até pode dar o pitaco que bem entender mas, ao fim de tudo, é só você com seus somatórios e débitos mesmo - e, tenho certeza que será sabedoria sua fazer do limão uma bela limonada.


Amanda, deixa eu te contar uma coisa, uma última coisinha: eu torço muito pra que você vença o programa, mesmo quase nunca tendo o assistido inteiro e pela televisão em 2015. Eu sempre vou pender pro lado dos transgressores e livres de doer, e acredito que o mundo se divide facilmente entre aqueles que esperam acontecer e os que buscam e vão atrás, sem paciência pra aquilo que a vida vai determinar. Faço parte do segundo grupo de pessoas e, pelo que já deu para perceber, a senhorita também. É algum orgulho ainda agir por si mesma enquanto todos dependem de um padrão. Tenho certeza que, aqui fora, a sua mãe é só alegria em ter você como filha - e eu seria muito sua amiga, muito mesmo. Siga forte e determinada, solta e sorridente, à sua maneira e nem aí pra opinião alheia. Nesse caminho vai ter sol e tempestade, vai ter nevasca e também deserto de vez em quando, mas por mais que fique difícil nunca será entediante; e no final das contas, pra quem vive com toda verdade e coração, é o que importa."

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