1 de abril de 2015

Valorização da profissão x necessidade de trabalhar



Vivemos dias difíceis. Tudo aumenta, água, luz, telefone, gás, mercado, IPVA, IPTU, combustível, colégio dos filhos, cursos e faculdades, remédios, vestuário e etc... contas e mais contas formando uma pilha sem fim. O que não aumenta? O nosso salário! Mesmo baseado no mínimo, muitas profissões não tem aumento de salário conforme o mínimo aumenta. E para piorar, o sindicato de algumas delas não fazem valer o piso ou em nada lutam por melhorias de salários e condições para os funcionários.

Vivo esse dilema todos os dias. Acordo às 05h, pego ônibus lotado e quente, vou para o trabalho que é longe da minha casa, lá faço as minhas tarefas e o além das minhas funções muitas vezes, geralmente saio na hora mas muitas vezes sou "convidada" a ficar à mais do que minha carga horária, volto para casa nas mesmas condições da vinda, e no dia seguinte, tudo se repete. E tudo isso para ganhar pouco. Não chega a ser o satisfatório, mas literalmente dá pro gasto. Paga as contas. Ajuda a sobreviver. Fiz quatro anos de faculdade de comunicação social, mas dois anos de MBA em comunicação empresarial, fora alguns cursos de especialização na área e tudo isso, tanta capacitação, para ganhar o mesmo que uma vendedora com salário + comissão. Se bobear, ela ganha mais que eu.

Não é desmerecer outras profissões. Mas acho justo pelo tanto que estudamos, nos capacitamos, nos atualizamos e reciclamos, nossa carga horária que não é bem estipulada, condições de trabalho sob pressão e muitas vezes não tão agradáveis e cansativas, sem falar que podem ser perigosas, a valorização que muitas vezes não temos, acúmulo de funções e de cargos e que temos que dar conta, fora a responsabilidade de estar alimentando de informação uma sociedade, então, o mínimo que poderíamos ter é uma remuneração adequada à nossa profissão. É mais que justo por tudo que fazemos, sermos bem remunerados. Mas a realidade é bem diferente.

Somos muitos os que penamos assim diariamente. E na busca por novas oportunidades e salários, vimos uma cenário quase igual. Paga-se pouco, trabalha-se muito. Então, nos encontramos numa sinuca de bico onde mesmo inconformados, somos obrigados a aceitar. Muitos tem casa para sustentar, família, filhos, ou suas necessidades que requerer pagamento no final do mês. Não podemos nos dar ao luxo de recusar simplesmente porque não achamos justo o que nos é pago.

Outro dia, num grupo para jornalistas, vi uma discussão bastante acalorada sobre esse tema. Várias profissionais colocam oportunidade de emprego no grupo, citam as tarefas, as competências que o candidato deva ter, a carga horária e o salário. Todos uma ninharia. Mas, com as responsabilidades e obrigações batendo à porta, mas as necessidades mil, muitos de nós aceitamos. Só que estes que aceitam, não por acharem que está bom ou não estão nem aí para as condições do trabalho, e sim porque PRECISAM. E mesmo sem concordar, não veem outra alternativa.

Só que alguns 'coleguinhas' do grupo começaram a cair na pele daqueles que por ventura se interessavam, pelas vagas. protestavam que é um absurdo fazer tanto e ganhar pouco. Ok, concordo! Mas, e tem-se outra alternativa? Visto que muitos precisam ganhar algum porque é esse que ajuda a levar a vida e visto que as oportunidades estão iguais em carga horária, atribuições e salários. Não 'coleguinhas', não temos condições de simplesmente recusar, esperar aparecer alguma coisa de fato muito boa ou o sindicato fazer algo por nós, coisa que nunca fez. Ninguém está aceitando de livre e espontânea vontade essas condições e sim de livre e espontânea pressão. E ninguém pelo simples fato de trabalhar nestas condições quer dizer que aceita, concorda e está satisfeito e feliz da vida. Muito pelo contrário.

E fora que todos os dias ainda temos que lidar com a falta de motivação e estímulo, pois mal remunerados e sem grandes perspectivas de crescimento e melhorias, muitas vezes vamos trabalhar com um pé nas costas empurrando a gente.

E para piorar tudo, vivemos num momento de crise financeira que assola o país e que repercute diretamente em nós. Empresas que vivem de clientes, de uma hora para a outra, se perderem alguns, não hesitam em fazer dispensas. As empresas que possuem setores de comunicação, marketing, relações públicas, são as primeiros a serem cortados. Setor privado é uma incógnita. Mas setor público é tão difícil de conseguir entrar. Geralmente, para essas áreas são sempre de uma a cinco vagas no máximo por concurso, isso quando abre. Ou seja, missão quase impossível!

E aí, junta tudo isso, coloca no liquidificador, bate bem que você vai ter um profissional pra lá de chateado e que ainda tem que ouvir dos próprios colegas que ele está errado em trabalhar para ganhar pouco então, vocês podem imaginar o tamanho da repercussão que gerou certos comentários. E eu não fazia ideia de que era tão grande o n° de pessoas que estavam no mesmo basco que eu.

É um ciclo vicioso e que não sei se algum dia vai ter fim. Continuaremos lutando pela valorização, melhores condições de trabalho e remuneração justa. Mas enquanto isso, vamos lidando com o que tem pra hoje, porque as contas não esperam e a vida não pára.



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