19 de junho de 2009

A casa caiu!


Hoje, pouco me pronunciarei com diplomacia. Primeiro, tô com raiva! Nem é bom falar muito nestas horas pra não sair besteira. Segundo, tem muita gente falando: certo, errado, qualquer coisa, o que dá na telha sem nem saber direito. Procuro respeitar as opiniões pela vida, ser imparcial (aprendi na faculdade de jornalismo), mas confesso que no momento, é pedir demais. Tô me sentindo injustiçada, assim como acredito estar boa parte da classe de jornalistas, formados academicamente. O STF ter votado contra necessidade de portar um diploma para atuar no mercado de trabalho como jornalista é assinar embaixo de que a educação no Brasil está cada vez mais desvalorizada, desnecessária e desacreditada. Dando ênfase à crença de que se aprende na marra, com a cara e a coragem.

Admito: não vou me fazer de rogada e vendar os olhos para uma prática que vem acontecendo desde sempre. Os grandes “monstros” do jornalismo, consagrados com prêmios e tudo, que começaram suas carreiras há muitos anos não portam diploma e nem por isto deixam de realizar um esplendoroso trabalho. Tivemos e temos ótimas reportagens respeitando as normas de cada veículo e do jornalismo. Eles, além de terem talento, realmente aprenderam como se faz, sem a “receita do bolo”. Tentaram, inventaram e deu certo. Hoje a referência são eles, ta aí! Assim como muitos escritores ou aspirantes à um, que estão por aí e escrevem bem pacas. Mas não têm a intenção de ocupar a cadeira do outro.

Há ainda a outra vertente e isto é discussão pra burro! Apresentadores. Com talento? Alguns, sim! Mas que abriu a porta para incentivar uma gama de pessoas que aprendem (porque nem sempre é natural) a se portar diante da câmera e interagir com o público a ocupar o lugar de um jornalista. Seus programas tem quadros, matérias, pesquisas e tudo o mais que poderia ser coordenado por uma equipe jornalística mas acaba virando apenas entretenimento com informação. Diga-se de passagem, nunca em tempo algum como hoje, o QI e o oportunismo desenfreado foram tão grandes a ponto de engajar sem ao menos comprovar competência. Nem entro mais no mérito da experiência. Vamos ser francos: se antes bastava ser amigo do filho do dono ou ser bonita para ter passe certo, imagina agora, então? Continuo a afirmar que em qualquer profissão, a teoria não existe sem a prática e vice e versa. Mais ou menos como corpo e alma. Não dá pra ter mais uma e menos a outra.

Mas, por conta de atitudes, endossada ontem, pela Justiça qualquer especialista em determinado assunto ou quem tenha boa ortografia, anos de prática em determinado ramo, pode ser jornalista. E as faculdades agora, como ficarão? É muito trabalhado nas faculdades de comunicação social, pois não é fácil ser formador de opinião, construir textos informativos mudando a linguagem de acordo com o veículo e se fazer de ética da profissão. Fora as edições, as externas, diagramações e tudo o mais. Alguns (possivelmente os não-portadores de diploma) podem argumentar que tudo isto se aprende no dia-a-dia. Mas o que é mais necessário: ter um profissional consciente do seu papel e preparado para aquilo que vai vivenciar ou ter uma pessoa competente que vai alinhavando pelo caminho as experiências?

No meu inconformismo por ver meu esforço ser rebaixado a “qualquer um pode fazer” e a não valorização da vocação e talento, resta esperar que as grandes corporações e empresas sérias continuem se fazendo do conhecimento adquirido nas salas de aula. Que se faça necessário comprovar que é um profissional completo. Afinal, eu não posso entrar em uma sala de aula e discorrer sobre determinado tema somente porque eu entendo, ou acredito que entendo. Me seria cobrado uma licenciatura. Da mesma forma não posso somente entender de leis tributarias, penais e civis e entrar em um tribunal e advogar. Ou fazer um cursinho de medicina e praticar consultas e operações. Se cada carreira possui suas especificidades e regras para ser exercida, porque o Jornalismo tem que ser bagunçado? Já não basta na hora do orçamento apertado o departamento de comunicação ser o primeiro a ter cortes simplesmente porque acham que qualquer pessoas sabe desempenhar bem o papel de um comunicador? Se fosse tão simples a comunicação empresarial não teria se estendido tanto com novas ramificações para que comunicólogos auxiliem na linguagem utilizada, na circulação da informação, na compreensão dos funcionários, na gestão da empresa.

Tô revoltada porque passei quatro anos na faculdade, cara, estudando textos de teorias para entender o porque o jornalismo é feito assim, a importância e dimensão da informação para vir outro alguém e resolver fazer do jeito que acha certo. Tô revoltada porque verei o que aprendi com tanto empenho, o que é lead, sub-lead, pirâmide invertida, sonora, técnicas de redação e entrevista irem ralo a baixo por quem apenas vai escrever um texto coeso e limpo. Tô revoltada porque ainda enquanto estudante, ralei para conseguir estágio disputando vaga pra hoje, qualquer pessoa que se julgue capaz ir lá e entrar. O deadline do jornalista com diploma se aproxima.

Mesmo entristecida com a notícia que me deixou mais desanimada com o mercado de trabalho, fico feliz por ter certeza de que fiz a faculdade que eu queria, na profissão que eu gosto de exercer e satisfeita por ter passado pelo processo de aprendizagem e conseguido me formar com êxito.

Jornalistas graduados, não desanimem, ainda há espaço para nós! Futuros jornalistas acreditem na formação acadêmica. Ela faz a diferença. Se não para todos, ao menos para você, fará.

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