22 de junho de 2009

Do alto do morro...

Ser carioca, constatei, é mais do que um jeito de ser, e sim um estilo de vida! Principalmente, dos que têm menos. Domingo fui na casa de uma amiga. Ela mora em uma das comunidades mais conhecidas do Rio: Rocinha. Apesar do frio cortante que estava lá em cima, a vista do famoso “visual” era de deixar não só turistas, mas qualquer nativo do Rio de boca aberta – tal qual eu fiquei. Até agora a imagem não me sai da cabeça, mas não encontro palavras para descrevê-la. Tinha uma luz vinda das fendas de sol entre as nuvens, uma calmaria no mar, o verde das matas, os barquinhos deslizando, parecia uma paisagem pintada. uma enorme sensação de paz me tomou. Muitos poderiam me dizer que não há razões para eu me sentir em paz no morro: há muita violência, tiroteio, invasão da polícia, gente do mal. Pelo contrário, mesmo com tudo isto e mais a miséria, falta de saneamento, pouco dinheiro no bolso e condições não favoráveis para moradia, é lá que encontro apesar das dificuldades o melhor do povo brasileiro; a essência carioca.

Nós “aqui do asfalto” ficamos sendo diplomáticos, dando uma de puritanos e pregando falso moralismo a torto e a direito. Lá em cima é papo reto: é ou não é, e ponto! Aqui em baixo gastamos o que temos para ter status e sermos reconhecidos pelo que temos, almejando sermos populares. Lá em cima faz-se festa mesmo sem poder, pois cada um contribui com o que não tem para dar graça à vida e ânimo a jornada dura que se inicia. E por falar em dureza, reclamamos à beça da vida difícil. Na verdade, o povo daqui debaixo, ainda conta com uma série de vantagens que os lá de cima não têm: ganhar renda mensal de mil e poucos por mês é ruim, mas ganhar um salário mínimo para sustentar uma família toda deve ser muito mais. Reclamamos da violência, dos serviços públicos não competentes, da decadência dos hospitais municipais e de mais um monte de coisas. Mas e eles “lá” que não tem saneamento básico, iluminação eficiente, realmente utilizam os hospitais precários e que muitas vezes chegam cansados do seu “trampo” e nem em casa podem entrar, porque o morro ta em guerra? Quem sofre mais?

Nem por isto deixam de festejar sem luxo, mas com calor. Que rima com amor e isto eles têm de sobra. Não que aqui embaixo sejamos insensíveis. Óbvio que não. Mas posso comprovar, que, quanto mais humildes forem as famílias, as casas e as vidas das pessoas, mais elas têm a oferecer e a doar. Impressionante! E não é só vontade de agradar, não! É questão de dar o melhor de si. O mundo não se resume só aos muros das residências e nem ao cotidiano que rodeia. Lá pra cima, é muito mais. Todo mundo conhece todo mundo e todos se ajudam mutuamente, independente do que for. Solidariedade bem que podia descer ladeira a baixo a cair no colo dos cidadãos do asfalto. Enfim... mesmo com todos os estigmas, muitos moradores de comunidades tentam se livrar do rótulo de favelados, e mostrar à cidade maravilhosa, que, na humilde vida deles são exemplo vivo de como ser carioca na dura realidade de todos os dias.

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